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DUAS VIDAS

Perplexa, Janete Clair peitou a censura em novela da Globo há 46 anos

Nelson Di Rago/TV GLOBO

Janete Clair está sentada em frente a uma estante de livros em foto preto e branco

Janete Clair (1925-1983) em foto do acervo da Globo; autora escreveu carta para censores

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 13/12/2022 - 6h15

Janete Clair (1925-1983) sofreu com os cortes promovidos pela Censura Federal em Duas Vidas (1976), novela que estreava há exatos 46 anos na Globo. A autora decidiu reclamar das mudanças feitas na trama e escreveu uma carta aos censores, na qual se disse "perplexa e desorientada" e ainda afirmou ser incompreensível o critério dos agentes.

A intenção inicial da dramaturga era seguir os passos de seu folhetim anterior, Pecado Capital (1975), e usar o realismo social na nova história, que girou em torno do drama de moradores do bairro do Catete (RJ). Essas pessoas tiveram a vida completamente alterada quando sua rua foi desapropriada para a construção de uma linha do metrô.

A escritora tinha como objetivo mostrar os transtornos da intervenção do governo no bairro, mas todas as críticas à chegada do metrô foram vetadas. De acordo com o site Memória Globo, foram proibidas até cenas em que os personagens falavam sobre a poeira causada pela obra.

A construção estava sob o comando do general Ernesto Geisel (1907-1996), e a Censura determinou que a obra não poderia ser alvo de apontamentos negativos na TV.

Gonzaga Blota (1928-2017) assumiu a direção do folhetim no capítulo 41 e propôs mudanças na história para driblar os vetos dos censores e tentar reverter a rejeição do público. Sem saída, Janete Clair passou a focar a trama nas desventuras amorosas de Leda Maria (Betty Faria), Dino (Mário Gomes) e Victor Amadeu (Francisco Cuoco).

Mas a autora fez questão de deixar claro o seu descontentamento com as intervenções da Censura e enviou uma carta para a departamento responsável pelos vetos. "Quem lhe escreve é uma escritora perplexa e desorientada em face dos cortes que vêm sendo feitos pela Censura Federal nos últimos capítulos da novela Duas Vidas", começou ela.

Perplexa e desorientada não apenas pela drástica mutilação da obra que venho realizando, como também diante do incompreensível critério que orienta a ação dos censores. De fato não posso entender que conceitos morais ou de qualquer natureza possam determinar a proibição de um romance de amor entre um jovem e uma mulher madura, ambos solteiros.

O envolvimento de Sônia, interpretada por Isabel Ribeiro (1941-1990), e Maurício (Stepan Nercessian) também precisou se adequar às exigências dos censores. Os dois tiveram que se casar, o que não estava previsto na sinopse da novela.

"Não posso entender igualmente o porquê da proibição de outra cena em que o dono de uma casa de móveis reclama contra a poeira produzida pelas obras do metrô, que lhe emporcalha os móveis e afugenta a freguesia, quando todos nós sabemos dos transtornos ocasionados por essa obra pública", afrontou Janete em trecho disponível no Memória Globo.

Mas os apelos da escritora não foram ouvidos pela Censura Federal, e ela teve que ceder às imposições do começo ao fim da história.


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