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Novela de quase 50 anos, O Bem-Amado é retrato do Brasil atual

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Paulo Gracindo em cena de O Bem-Amado: caracterizado como Odorico Paraguaçu, personagem está fardado e ri para alguém fora do quadro

Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) em cena de O Bem-Amado: político poderia estar na ativa agora

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 23/2/2021 - 6h45

Feita há quase 50 anos, O Bem-Amado (1973) é o perfeito retrato do Brasil atual. A trama conta a história do político corrupto Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) e de suas estratégias nada ortodoxas para manter seu cargo como prefeito da cidade de Sucupira, no litoral baiano.

Quase como se fosse uma previsão do que o brasileiro enfrentaria nos anos seguintes, o folhetim é norteado pela história do governante e de suas tentativas populistas para ser bem quisto pela população.

O político cria o slogan "Vote em um homem sério e ganhe um cemitério" para ser eleito para o maior cargo executivo da cidade. A estratégia dá certo, e ele ganha a confiança do povo ao assegurar que todos terão acesso a uma moradia digna de conforto eterno.

No entanto, ninguém morre, e o personagem de Paulo Gracindo [1911-1995] precisa que algum defunto apareça para inaugurar sua obra extraordinária. O demagogo decide então contratar o matador de aluguel Zeca Diabo (Lima Duarte) para fazer o serviço. Porém, o assassino quer se redimir dos seus crimes e se recusa a voltar a fazer o mal para os demais. 

Mãe Dináh da dramaturgia?

Assim como muitos políticos de 2021, Odorico Paraguaçu é rodeado por um séquito de seguidores. Entre eles, estão as três irmãs Cajazeiras: Dorotéia (Ida Gomes), Dulcinéia (Dorinha Duval) e Judicéia (Dirce Migliaccio). 

Conservadoras para o mundo externo, as três mulheres na verdade são reprimidas sexualmente e vivem um romance tórrido com o protagonista dentro das quatro paredes de casa. Claro que as personagens não sabem que o político engana o trio e, separadamente, fica com cada uma delas. 

Odorico Paraguaçu também tem muitos atritos com a imprensa de Sucupira por conta do seu jeito temperamental de controlar a cidade. Frequentemente, o demagogo é visto em entraves com o jornalista Neco Pedreira (Carlos Eduardo Dolabella), dono do jornal da cidade A Trombeta. 

Descaso com a epidemia

Apesar do novo coronavírus (Covid-19) não existir nos anos 1970, O Bem-Amado retratou uma epidemia na ficção. A cidade de Sucupira se torna alvo de uma onda de tifo e, focado em sua estratégia de deixar alguém morrer no local para inaugurar o cemitério, Odorico faz vistas grossas para vacinar todos.

Em uma famosa cena do folhetim, o secretário Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz) se recusa a ajudar o prefeito no seu plano de sumir com as vacinas e os medicamentos para combater a doença. No registro, ele ressalta: "Se impedir que as vacinas e os medicamentos cheguem na mão do doutor Leão [Jardel Filho], ele não vai ter como impedir a epidemia".

Mas, pensando apenas no bem próprio, o político solta a famosa frase: "E daí?". Com isso, mostra que, apesar ter sido eleito pelo povo, só pensa em si mesmo para se consolidar como um bom governante e que, talvez, possa alçar voos maiores. 

Disponível no Globoplay desde a última segunda (15), o público pode conferir as semelhanças entre a vida real e o folhetim de Dias Gomes. O lançamento no streaming da primeira novela gravada a cores faz parte da campanha da Globo em resgastar os clássicos da dramaturgia. 


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