Melhor novela do ano, Bom Sucesso evita cenas desnecessárias e cria intimidade

O ano ainda não acabou, mas a atual trama das sete da Globo, Bom Sucesso, sem dúvida já é a melhor novela de 2019. A trama de Rosane Svartman e Paulo Halm não faz feio na audiência e, ao contrário de outras histórias no ar, tem inúmeras qualidades, evita cenas desnecessárias e cria com o público uma relação de intimidade que estava em falta.

Personagens bem construídos e relevantes, conflitos desenvolvidos com cuidado e um triângulo amoroso que realmente faz o público ficar dividido, sem apelar para o já batido maniqueísmo do vilão que tenta separar o casal de mocinhos, ajudam a novela das sete a dar um show todas as noites na Globo.

Confira cinco motivos que fazem jus ao título de Bom Sucesso:

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Personagens

Dos protagonistas aos coadjuvantes, passando pelos vilões, todos os personagens criados pelos autores integram uma engrenagem que contribui para o bom andamento da história. Vale a pena acompanhar a amizade das crianças Sofia (Valentina Vieira) e Peter (João Bravo), presenteados com cenas inocentes capazes de emocionar até o mais frio dos telespectadores.

Conflitos

Nana (Fabiula Nascimento) está grávida e não sabe se quer ter o bebê. Eugênia (Helena Fernandes) adorava a nora Gabriela (Giovanna Coimbra), mas virou uma fera ao descobrir que ela é filha de Paloma (Grazi Massafera), sua desafeiçoada. São pequenos conflitos como esses que impedem o crescimento de barrigas, aqueles períodos em que nada acontece na história.

Bom Sucesso não escancara, apenas sugere. Deixa no ar as pistas para que o próprio público monte o quebra-cabeça da história a se desenrolar. Ainda que a imagem a se formar seja óbvia, o mérito da novela está no jogo que propõe ao público, tornando-a ainda mais interessante e fazendo crescer seu sucesso.

Triângulo amoroso

Atriz popular e de fácil identificação com o público, Grazi por si só já chamaria a atenção para a sua personagem, mas Paloma cresce mais ainda quando se vê envolvida entre Ramon (David Junior) e Marcos (Romulo Estrela). Os dois travam uma disputa pelo amor da costureira e dividem a torcida de quem assiste.

Além disso, existe a possibilidade de Paloma terminar sozinha, subvertendo as regras das novelas de que o destino da mocinha é sempre o altar. Em todos os casos, os autores criaram espaço para manobrar a história com desenvoltura e, com isso, aumentam a expectativa do público em relação ao desfecho de Paloma.

Atualidade

Apesar do deslocamento temporal da narrativa em relação ao presente --os personagens já estão comemorando a virada de 2020--, Bom Sucesso não se desprende de pautas sociais do momento e consegue abordar temas pertinentes, como a sugestão de aborto de Nana.

Além disso, há uma forte presença de atores negros no elenco e vários personagens LGBTQ+, o que atesta o espaço da diversidade e representatividade na história.

Conjunto da obra

Bom Sucesso é um desfile de predicados, uma novela excelente pela sua totalidade: um texto que navega entre a seriedade e a ironia, ganchos impactantes, direção sem exageros, atuações naturais. Mas, sem dúvida alguma, o incentivo à leitura promovido pela trama é sua maior contribuição.

De maneira orgânica, sem apelar para discursos professorais, os autores inserem trechos de obras clássicas dentro do momento de vida dos personagens, como quando Alberto (Antonio Fagundes) leu Soneto da Separação, de Vinicius de Moraes, para Paloma, bem na época em que ela e Ramon haviam se separado. A cena foi muito delicada e a interpretação de Grazi, aliada à narração de Fagundes e à força do poema, foi de cortar o coração.