Império
INÁCIO MORAES/TV GLOBO
Adriana Birolli (Amanda) em cena com Klebber Toledo (Leonardo) em Império; casal gera reclamações
MÁRCIA PEREIRA
Publicado em 20/10/2014 - 17h01
Atualizado em 21/10/2014 - 6h57
Homossexual ex-militante, Aguinaldo Silva está sendo acusado nas redes sociais de “promover a cura gay” em Império, novela das nove da Globo. O autor tem sido criticado porque o personagem Leonardo (Klebber Toledo), que mantinha um caso com Cláudio (José Mayer), foi para cama com Amanda (Adriana Birolli), e Xana (Ailton Graça), que se veste de mulher, vai se revelar “macho”. Ele se casará com Naná (Viviane Araújo). Para ativistas da causa gay, no entanto, Silva está sendo vítima de “patrulha” preconceituosa. A condução dos personagens reflete a realidade, defendem.
Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), afirma que não vê a história da novela das nove promovendo a cura gay. “Essa situação que Leonardo e Amanda viveram é comum nas boates, onde a gente vê muito beijo triplo e a sexualidade cada vez mais liberada. Os militantes mais radicais é que não acham que exista bissexualidade”, diz Cerqueira.
André Fischer, diretor do Festival Mix Brasil, que exibe filmes sobre a diversidade sexual, é contra a patrulha que vem sendo feita à trama. Ele conta que já foi vítima de preconceito quando teve uma namorada. Alguns amigos deixaram de frequentar sua casa porque não aceitavam a relação dele com uma mulher. “A luta é para que as pessoas sejam aceitas como são. Temos de caminhar para um futuro onde essas repressões contra a sexualidade não aconteçam”, afirma Fischer.
Porém, ele faz questão de dizer que não acredita na cura gay. “O que existe é sufocar desejos. A pessoa pode amar alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto, mas nunca deixa de ter seus desejos”, comenta o diretor do Mix Brasil.
Para Fischer, é pouco provável que a história de Aguinaldo Silva caminhe para uma direção moralista. “Tecnicamente somos todos bissexuais e o que estamos vendo é que o amor não tem sexo”, diz.
Sergio Savian, psicanalista especializado em relacionamentos, aponta que esse tipo de patrulha nas redes sociais mostra uma limitação. “Os gays fazem, muitas vezes, o jogo que lhes foi imposto pelos moralistas, assumindo posições tão radicais e intolerantes quanto daqueles que os criticam”, dispara Savian.
Ailton Graça e Viviane Araújo, que interpretam Xana e Naná: os dois vão se casar
De acordo com Savian, o autor está sendo corajoso em abordar a bissexualidade. Ele diz que, no caso de Xana, seu comportamento já demonstra um conflito com sua sexualidade. O cabeleireiro não sai com nenhum homem e a pessoa com quem realmente se sente bem é Naná.
“Xana se sente atraído por homens, mas tem uma moral interna que não permite que o fato seja consumado. Mesmo que se case com Naná, em seu mundo interior sempre estará em cima do muro. Seu desejo não está na mesma direção de sua moral interna. Este é um dos aspectos da bissexualidade.”
Amanda deseja Leonardo
Em Império, Amanda sabe que Leonardo era amante de Cláudio, mas gostou dele desde que o viu pela primeira vez. Em entrevista ao blog oficial do autor, a intérprete da sobrinha de Maria Marta (Lilia Cabral) revela que a personagem vai tirar o aspirante a ator das ruas quando ele estiver na pior e virar um “mendigato”. Ela baterá de frente com a tia rica e com José Pedro (Caio Blat), seu ex-namorado e primo, que chamará o rival de “viado”.
Savian diz que essa é outra trama que reflete a realidade. Ele afirma que as mulheres se apaixonam mais por gays do que as pessoas imaginam. “Isso pode ocorrer por alguns motivos. Um deles é a projeção de sua própria homossexualidade no outro. Para Carl Jung, cada mulher tem um aspecto masculino em seu interior que ele denominou ‘ânimus’. Ao escolher um homem para amar, algumas mulheres preferem um que seja parecido com seu homem interior, isto é, um homem bastante sensível”, explica o psicanalista.
Marcelo Cerqueira, do GGB, diz que já conheceu muitas mulheres como Amanda e Beatriz, (Suzy Rêgo), a mulher que tolera e apoia a bissexualidade do marido, Cláudio. “A sociedade não está mais estática. É necessário ver esses exemplos nas nossas novelas. Ninguém tem controle sobre o amor. A Beatriz é muito real. Tudo depende do acordo que cada casal faz”, diz.
Confira abaixo alguns comentários que foram postados no Twitter.
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