MEMÓRIA DA TV
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Malu Mader interpretou a protagonista da novela O Dono do Mundo (1991), uma moça virgem
Publicado em 4/7/2021 - 7h27
Atualmente cultuada por muitos na internet, O Dono do Mundo (1991) foi uma das novelas mais problemáticas da história da Globo. Além de todos os contratempos de bastidores e audiência enfrentados pelo folhetim de Gilberto Braga, um fato inspirado pela produção virou caso de polícia.
Há 30 anos, em maio de 1991, uma agência de Belo Horizonte, Minas Gerais, resolveu leiloar a virgindade de uma jovem de 18 anos. O anúncio, publicado no jornal Estado de Minas, o maior da capital mineira, teve repercussão em todo o Brasil.
A Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher entrou em ação e, no dia 24 de maio daquele ano, fechou a Eros & Cia, que estava promovendo a empreitada. O proprietário da empresa era um engenheiro e tenente da polícia militar reformado, que foi indicado em inquérito para responder pelos crimes de favorecimento e exploração da prostituição, podendo pegar de três a nove anos de prisão.
O Jornal do Brasil de 25 de maio informou que o responsável, em depoimento aos policiais, negou que o anúncio fosse verdadeiro. "Era uma estratégia de marketing, inspirada na novela O Dono do Mundo, da Rede Globo, em que o personagem de Antônio Fagundes quer manter relação sexual com uma virgem, interpretada por Malu Mader", explicou a matéria.
Na novela, basicamente, Felipe Barreto (Antonio Fagundes) faz uma aposta com seu fiel escudeiro, vivido por Daniel Dantas: ia ficar com a noiva antes do noivo, seu funcionário, durante a lua de mel, que ele patrocinou. Após diversos acontecimentos manipulados por Barreto, ele consegue seu objetivo.
No mundo real, a virgindade da garota foi oferecida por 200 mil cruzeiros, mas a procura, de acordo com a publicação, superou as expectativas e acabou gerando uma espécie de leilão. "Levaria a moça quem pagasse mais. Um dia depois, o preço chegaria aos 250 mil cruzeiros", enfatizou a reportagem.
"Várias mulheres foram levadas à delegacia especializada para depor, mas a donzela –que se apresentava no telefone com o nome de Naiara– não compareceu. Uma das mulheres detidas, de 18 anos, alta, bonita e jeito típico de classe média, chegou a admitir ser virgem e possuir pouca experiência sexual, mas em seu depoimento à escrivã negou a condição", informou a publicação.
Ainda de acordo com o JB, a então titular da delegacia, Elaine Matozinhos Gonçalves, não ficou satisfeita com a versão apresentada pelos acusados. O dono da agência prometeu publicar outro anúncio no mesmo jornal retratando-se do primeiro e explicando que a virgem anunciada "não é exposta como pessoa física, mas sim como temática da novela O Dono do Mundo".
Procurada na época, a Globo não se manifestou, e o caso foi rapidamente esquecido.
A trama envolvendo Márcia, inclusive, foi considerada pelo autor da novela, Gilberto Braga, como o maior erro da novela. Segundo ele, causou rejeição por parte do público.
"A história é que aquela mulher vai se vingar disso. Por acaso, houve um erro com relação ao público", disse Antonio Fagundes em entrevista ao projeto Memória Globo. No dia em que Barreto ganhou a aposta, foi Márcia que o procurou em seu quarto. "O público não a perdoou. Foi ela quem foi lá, ele tinha razão. Ela tinha que ficar quietinha no canto dela. Se ele tivesse ido bater na porta dela, talvez o público a perdoasse", completou.
"Então, quando o noivo dela se mata, eu tinha uma heroína que o público não gostava e um vilão que o público admirava", constatou Braga ao projeto.
"O Gilberto ficou desesperado, o Boni ficou desesperado, o Daniel Filho ficou desesperado, todas pessoas experientes", disse o diretor Dennis Carvalho.
Para contornar o problema e recuperar os pontos no Ibope, Braga fez uma grande mudança na trama. Felipe Barreto entrou em decadência, perdeu o que tinha e, teoricamente, se redimiu, se apaixonando realmente por Márcia, que fica com ele.
No entanto, no fim da história, o público descobre que era tudo mentira e que o vilão nunca havia mudado. "Mas aí a audiência já estava conquistada. Foi uma grande surpresa. Isso tudo da cabeça do Gilberto", disse Ricardo Linhares, que ajudou a escrever a novela.
"Em O Dono do Mundo, eu pesei a mão na crítica social e paguei o pato. Televisão tem que pegar um pouco mais leve", concluiu Braga.
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