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DE CORPO E ALMA

Há 25 anos, estreava novela marcada pelo assassinato de Daniella Perez

Arquivo/Memória Globo

Daniella Perez interpretava a dançarina Yasmin na novela De Corpo e Alma, exibida em 1992 - Arquivo/Memória Globo

Daniella Perez interpretava a dançarina Yasmin na novela De Corpo e Alma, exibida em 1992

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 3/8/2017 - 6h19

Autora de A Força do Querer, Gloria Perez estreou como titular do principal horário de novelas da Globo com De Corpo e Alma, lançada em 3 de agosto de 1992. Com uma trama que falava de doação de órgãos, a obra tinha tudo para fazer sucesso, mas ficou marcada pelo assassinato de Daniella Perez, filha da novelista, que recebeu 18 tesouradas do ator Guilherme de Pádua, seu par romântico na trama. A mulher de Pádua, Paula Thomaz, então grávida de quatro meses, também participou do crime.

Na novela das oito, a atriz de 22 anos vivia a bailarina Yasmin, apaixonada por Caio (Fábio Assunção). No entanto, como as famílias dos dois eram inimigas, a jovem acabou se envolvendo rapidamente com o motorista de ônibus Bira (Guilherme de Pádua), um rapaz bruto e machista, mas que ajudava a família da dançarina.

Com o desenrolar da trama, porém, Yasmin e Bira terminaram o namorico para que ela tivesse caminho livre para se acertar com Caio. O estreante Pádua, preocupado com a redução de suas cenas, passou a pressionar Daniella para que Gloria desse mais importância ao seu personagem.

"Dez dias antes do trágico ocorrido, vi Daniella entrar no carro da atriz Juliana Teixeira pedindo para irem logo embora. E que não desse carona para o Guilherme, porque ela não aguentava mais ele ficar alugando o ouvido dela o tempo todo", disse a atriz Carla Daniel, que vivia a ex-namorada de Bira, Sheila, em depoimento resgatado por Gloria em um site que reúne todos os desdobramentos do crime.

Quando recebeu um bloco de seis capítulos no qual Bira não aparecia em dois, Guilherme se desesperou e aumentou a pressão sobre Daniella. No dia do crime, 28 de dezembro, todo o elenco da novela assistiu à intimidação feita pelo ator à colega.

"Você já contou para sua mãe que esse sujeito está lhe perseguindo?", questionou o ator Sandro Solviatti. Daniella negou, dizendo que não queria prejudicar ninguém. "Se você não contar hoje, amanhã eu ligo para sua mãe e conto!", completou Solviatti.

Não houve amanhã: às 21h daquela segunda-feira, Daniella e Guilherme saíram dos estúdios Tycoon, no Rio de Janeiro, onde a novela era gravada. Depois de abastecer seu carro em um posto de gasolina, Daniella teve seu veículo fechado pelo de Pádua. "Ela sai do carro cobrando explicações, ele a desacorda com um soco e a atira no interior do Santana, que sai dirigido por Paula Thomaz", escreveu Gloria Perez no site. 

arquivo/memória globo

Guilherme de Pádua e Daniella Perez em foto da novela De Corpo e Alma: psicopatia mortal

Minutos depois, moradores de um condomínio da Barra da Tijuca avisaram a polícia sobre a presença de dois carros suspeitos em um matagal sem iluminação. Um policial encontrou o carro usado por Daniella, que pertencia ao marido dela, o ator Raul Gazolla. Mesmo armado, o agente decidiu se esconder atrás de uma árvore. E tropeçou no corpo de Daniella.

"Foram 18 estocadas no coração e no pescoço. Um violento soco na face direita, de acordo com os laudos periciais, aplicado minutos antes da morte. Nenhuma lesão de defesa", contou Gloria na página. "Naquela mesma noite, [Guilherme e Paula] foram à delegacia, no carro onde cometeram o crime, para abraçar nossa família e prestar condolências."

Engajamento na Justiça
Após o assassinato da filha, Gloria Perez se afastou temporariamente da novela e foi substituída por Gilberto Braga e Leonor Bassères (1926-2004), que assumiram os capítulos dos sete dias posteriores ao crime e se encarregaram de dar um desfecho para Yasmin: a personagem viajou para o exterior para fazer um curso de dança. Já Bira deixou de ser citado e simplesmente desapareceu da trama.

Depois de uma semana, Gloria retomou seus trabalhos e tocou a novela até o fim. Motivada pelo o que ocorreu com a filha, incluiu na trama dois temas novos: a morosidade da Justiça e a inadequação do Código Penal.

A autora também liderou uma campanha que coletou mais de 1,3 milhão de assinaturas para que fosse aprovado o projeto de lei 4.146/1993, que adicionou o homicídio qualificado ao rol de crimes hediondos, que recebem tratamento legal mais severo e impossibilitam o pagamento de fiança e o cumprimento de pena em regime aberto ou semiaberto.

Apesar da mudança na legislação, Pádua e Paula foram soltos em 1999, após cumprirem um terço de suas penas. As investigações de Gloria sobre as atitudes e o comportamento de psicopatas renderam a série Dupla Identidade (2014), estrelada por Bruno Gagliasso, Débora Falabella e Luana Piovani.

Encerrada em 5 de março de 1993, De Corpo e Alma nunca foi reprisada pela Globo no Vale a Pena Ver de Novo ou no Viva, em respeito à memória de Daniella Perez. A trama, porém, foi vendida para o exterior e exibida em mais de dez países, como Portugal, Chile, Equador, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

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