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MEMÓRIA DA TV

Em 1989, deputado processou a Globo por personagem de O Salvador da Pátria

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Luis Gustavi em cena em frente a um microfone, em estúdio de rádio, na novela O Salvador da Pátria

Luis Gustavo em cena como o radialista Juca Pirama, que causou problemas em O Salvador da Pátria (1989)

THELL DE CASTRO

Publicado em 2/5/2021 - 7h10

Na última semana, o canal Viva exibiu o capítulo de O Salvador da Pátria (1989) em que ocorreram os assassinatos de Juca Pirama (Luis Gustavo) e de Marlene (Tássia Camargo). A trama envolvendo o radialista foi um dos destaques do início da novela, mas causou dores de cabeça para a Globo.

Polêmico radialista e deputado, Afanásio Jazadji sentiu-se retratado pelo personagem. No entanto, o que parecia uma homenagem foi vista como ofensa, e Jazadji decidiu processar a Globo e o autor da novela, Lauro César Muniz, por direitos autorais e crimes de calúnia, difamação e injúria.

"Antes da estreia da novela, o Lauro César Muniz, em várias entrevistas, disse que havia se inspirado na minha pessoa e no meu trabalho de radialista para criar o personagem Juca Pirama", disse Jazadji ao Jornal do Brasil de 18 de janeiro de 1989. "Mas, na sequência dos capítulos da novela, percebi que o que soava como uma homenagem ao meu trabalho é uma difamação. O radialista é um extorsionário, chantagista e até traficante de cocaína", completou.

Jazadji ainda declarou que Juca Pirama teria sido criado por Muniz "com um desejo premeditado de prejudicá-lo".

"Nas entrevistas que deu, o próprio Lauro César Muniz forneceu um perfil do personagem fazendo alusões desairosas à minha pessoa", reclamou. "O Luis Gustavo, que faz o Juca Pirama, não tem nenhuma semelhança física comigo. Mas, para forçarem a caracterização, eles colocaram no estúdio do radialista um sujeito gordo, barbudo e com o corte de cabelo igual ao meu", supôs, referindo-se ao personagem Tomás, vivido por Antônio Calloni.

Na época, Jazadji também era deputado estadual, eleito em 1986 com 558 mil votos. Além disso, comandava um programa diário na Rádio São Paulo e respondia a quase 100 processos na Justiça, a maioria com base na Lei de Imprensa.

"Estão usando o poder da novela para denegrir a minha imagem de deputado estadual mais votado na história do país", esbravejou. "Mas eu não vejo nenhuma semelhança, porque o Juca Pirama é um bandido, e eu não sou bandido", afirmou.

Jazadji, que já havia trabalhado na Rádio Globo, desafiou a emissora a confirmar ou desmentir se o personagem foi inspirado na sua pessoa e no seu trabalho. Como prova material do crime, requereu a preservação das fitas da novela.

reprodução/SBT

Jazadji com Ney Gonçalves Dias e Gil Gomes

Autor negou

Na mesma reportagem, Lauro César Muniz não deu muita bola para as ameaças. "Nunca ouvi o programa de Afanásio Jazadji", comentou. "E Juca Pirama é uma personagem de ficção", completou.

Após um início avassalador, batendo recordes de audiência, O Salvador da Pátria acabou perdendo o ritmo, muito por conta do esvaziamento da trama política envolvendo Sassá Mutema (Lima Duarte).

Segundo o autor, isso ocorreu, inclusive, por pressões vindas de Brasília –era ano de eleições presidenciais, e o personagem foi acusado de favorecer o candidato Luis Inácio Lula da Silva. O foco acabou se voltando para o desmantelamento da organização criminosa que agia na produção.

Apesar de ter sido assassinado no capítulo 15, a voz de Juca Pirama ainda foi ouvida durante toda a novela, em transmissões piratas e telefonemas, com o mistério em torno de sua morte resolvido apenas no último capítulo.

Depois do episódio, Afanásio Jazadji, que atualmente tem 70 anos, continuou sua carreira como radialista e político, passando, inclusive, pelo SBT, através de programas como Aqui Agora (1991-1997) e Boletim de Ocorrências (2009-2010). Em 2014, lançou o livro 50 Anos de Jornalismo do Mais Autêntico Comunicador Brasileiro.


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