REPRISE NO VIVA
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Giovanna Antonelli interpretou Bárbara, a vilã cruel e racista de Da Cor do Pecado (2004)
Exibida originalmente em 2004, Da Cor do Pecado volta ao ar nesta segunda (19), em reprise no canal Viva. A novela fez muito sucesso na época e foi o folhetim das 19h com maior audiência dos anos 2000. As tramas de amor, reencontros, golpes e revelações ainda são capazes de conquistar o telespectador de 2021, mas muitas características e atitudes dos personagens não têm mais vez no mundo atual.
Primeira novela assinada por João Emanuel Carneiro, Da Cor do Pecado também ficou marcada por ter tido a primeira protagonista negra de um folhetim da Globo: Preta, interpretada por Taís Araujo.
Como costuma acontecer com mocinhas, Preta é alvo de muitos maus-tratos, golpes e armações da vilã Bárbara (Giovanna Antonelli), que passa de todos os limites do mau-caratismo. Em algumas cenas, ela se refere a Preta como "neguinha", numa clara demonstração de racismo. Hoje em dia, nem na boca de vilões uma representação criminosa assim seria aceitável.
O próprio nome da novela é questionável: a expressão "da cor do pecado" é associada tanto à sexualização de mulheres negras, vistas antigamente (e até hoje, por preconceituosos) como objetos sexuais, quanto à relação feita na época da escravidão entre negros e o pecado. Os homens influentes do Brasil colonial justificavam o fato de negros serem feitos de escravos como uma espécie de "castigo divino", ligado a supostos pecados.
Ao longo da novela, o preconceito continua a permear a jornada de Preta. Ela é vista pelo pai de Paco (Reynaldo Gianecchini) como interesseira, alguém que só quer tirar vantagem da fortuna do galã. Só Raí (Sérgio Malheiros), filho de Preta e Paco, consegue amolecer o coração do avô ranzinza.
divulgação/tv globo
Abelardo (Caio Blat) era fã de maquiagem
Em outros núcleos, outros tipos de preconceitos e representações equivocadas de minorias aparecem em Da Cor do Pecado. A família Sardinha fez sucesso com o público ao mostrar irmãos lutadores, filhos de uma mãe muito coruja e exigente, chamada de mamuska (Rosi Campos).
Mas há uma "ovelha negra" nesta família: Abelardo (Caio Blat). O rapaz é o desgosto da família por não ser másculo e musculoso como os irmãos e se interessar por maquiagem. Ele se defende e banca suas diferenças, mas ainda assim vive em um ambiente familiar completamente hostil e sofre bullying. A situação é tratada com humor, como se fosse algo leve e comum.
Aliás, em relação a humor, há um núcleo cômico em Da Cor do Pecado que faz graça com aspectos religiosos. Helinho (Matheus Nachtergaele) ganha a vida sob a alcunha de Pai Helinho. Ele finge ser um pai de santo que recebe espíritos e faz previsões do futuro para pessoas que o procuram. A coisa passa a ficar séria quando o personagem começa a ter contato real com espíritos e se apavora.
Apesar destes pontos, Da Cor do Pecado ainda é, numa visão geral, uma novela leve, que prende o telespectador e tem bom desenvolvimento. É provável que boa parte destas tramas passíveis de cancelamento passem incólumes, sem grandes protestos do público.
Mas, após 17 anos de sua exibição original e alguns avanços na defesa dos direitos e do respeito às comunidades afetadas pelas piadas de Da Cor do Pecado, será mais difícil fechar os olhos para o que é retratado na novela.
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