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SÉRGIO CARDOSO

Branco, ator fez mea-culpa por viver escravo em novela: 'Vários amigos de cor'

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Sérgio Cardoso é abraçado por Ruth de Souza em foto preto e branco da novela A Cabana do Pai Tomás

Sérgio Cardoso (1925-1972) e Ruth de Souza (1921-2019) na novela A Cabana do Pai Tomás (1969)

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 28/2/2023 - 6h25

Há 53 anos, chegava ao fim A Cabana do Pai Tomás (1969) na faixa das sete da Globo. A escalação de Sérgio Cardoso (1925-1972), um ator branco, para viver um escravo da novela causou revolta à época. O artista até tentou se justificar ao ser acusado de racismo, já que fazia blackface para a caracterização do protagonista, mas deu uma declaração problemática: "Tenho vários amigos de cor".

O folhetim marcou a volta de Cardoso à Globo após o sucesso de Antônio Maria (1968), da TV Tupi (1950-1980). Ele foi selecionado para o papel principal em meio à campanha publicitária da Colgate-Palmolive, responsável por patrocinar as novelas brasileiras nos anos 1960. A filial norte-americana foi quem escolheu Cardoso para viver Tomás.

O ator, então, pintava o rosto e o corpo de preto, além de usar peruca e colocar rolhas no nariz. O caso de blackface gerou revolta no meio artístico. O ator Plínio Marcos (1935-1999) convocou manifestações contra a escalação em sua coluna no jornal Última Hora.

"O Tomás, que é um personagem negro, vai ser vivido por um ator branco. Vão tingir o panaca de preto. Vão deixar uma curriola de bons atores crioulos fazendo papel de esparro. E o branco tingido se badalando de estrelo. O Sérgio Cardoso é o cara que vai se prestar ao triste papel de se pintar de preto pra fazer o Tomás", escreveu na coluna Navalha na Carne em 2 de maio de 1969.

A Cabana do Pai Tomás é um romance contra a nojenta escravidão. E vai servir, na bolação dos majuras do canal 5, pra amesquinhar patrícios nossos. Não podemos permitir que no Brasil que a gente ama se faça uma afronta à dignidade humana. Existem terras onde é comum pintar branco de negro pra entrar no palco. Mas esse ridículo exemplo a gente não pode aceitar. Vamos protestar com energia.

"Os atores negros sabem como seria ridículo eles se pintarem de branco, no Brasil, para viverem o papel de Lincoln, que eles tanto amam. Eles só querem fazer o Tomás. Mostrar que têm talento. E isso não é racismo. É um direito do homem de cor", defendeu Plínio Marcos.

Ainda foi apontado que Milton Gonçalves (1933-2022) seria uma escolha mais correta para o papel. O ator, inclusive, chegou a revelar que Sérgio Cardoso fazia questão de se justificar sempre que se encontravam.

Para se defender do rótulo de racista, Cardosos deu declarações controversas: "Tenho vários amigos de cor que são como meus irmãos. Tenho afilhados pretinhos que amo como se fossem meus filhos".

A Cabana do Pai Tomás era baseada no romance homônimo de Harriet Beecher Stowe (1811-1896), que impulsionou o movimento abolicionista nos Estados Unidos. A história se passava durante a Guerra de Secessão (1861-1865) e mostrava o conflito entre os escravos plantadores de algodão e os ricos proprietários de terra no sul do país.

Pai Tomás liderava a luta ao lado da mulher, Cloé, interpretada por Ruth de Souza (1921-2019). Sérgio Cardoso viveu ainda mais dois personagens na novela: Dimitrius e o presidente Abraham Lincoln (1809-1865).


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