INOCÊNCIA EXCESSIVA
REPRODUÇÃO/SBT
Antes mesmo de paternidade comprovada, Cássio (Gutto Szuster) busca Bento (Davi Campolongo) na escola
KELLY MIYASHIRO
Publicado em 18/5/2020 - 19h00
Ao investir na saga de Bento (Davi Campolongo) em busca de seu pai biológico, a novela As Aventuras de Poliana derrapou ao dar um mau exemplo para as crianças no caso de como elas devem agir com pessoas estranhas. Há alguns dias, os personagens têm considerado normal um pré-adolescente ficar a sós com um homem desconhecido, seja dentro da escola ou até mesmo da casa em que ele vive.
Nesta segunda-feira (18), data em que se celebra o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o menino passa por outra situação errada. Ele se anima ao descobrir que Cássio (Gutto Szuster), seu possível pai, foi buscá-lo na escola. O pior é que nenhum segurança da escola Ruth Goulart se incomoda com o proximidade do desconhecido com o aluno.
Antes disso, o público viu o sobrinho de consideração de Ruth (Myrian Rios) decidir investigar o próprio passado. Ele foi atrás do genitor com a ajuda de João (Igor Jansen). Após encontrar em um bar o músico, que supostamente é ex-namorado de sua mãe morta, Bento se apresentou como seu possível filho. A história foi comprada pelo roqueiro na mesma hora, e ele topou fazer um exame de DNA sem questionamentos, como se a abordagem fosse corriqueira, normal.
Em seguida, a trama de Iris Abravanel mostrou Cássio indo à escola dos meninos para falar com eles. O recepcionista da instituição também achou tranquilo deixar um homem entrar no colégio particular sem sequer mostrar uma identificação.
Mais estranho do que isso foi Cássio pedir para ficar em um local mais privado com as crianças. Os dois amigos, então, o levaram para uma sala de aula vazia, o que não despertou a atenção de nenhum professora ou inspetora. Ninguém suspeitou ou teve medo do tal homem sozinho com dois estudantes.
lOURIVAL RIBEIRO/SBT
Bento (Davi Campolongo, à esq.), Cássio (Gutto Szuster) e João (Igor Jansen, à dir.) sozinhos
Mais tarde, no mesmo capítulo, João e Bento não viram problema qualquer em levar o homem para a mansão onde moram, mesmo com Ruth, a responsável legal pelos dois, viajando. A novela infantojuvenil mostrou dois pré-adolescentes abrindo a porta de casa para um estranho, sem qualquer supervisão de um adulto.
As Aventuras de Poliana é baseada na obra escrita por Eleanor H. Porter (1868-1920), um livro lançado em 1913 e que fala da bondade das pessoas e da inocência das crianças. A principal mensagem é sempre ver o lado positivo diante dos conflitos e dramas da vida.
Porém, um século depois, espera-se que a adaptação faça os devidos alertas aos perigos da sociedade atual. Ainda mais sendo uma trama vista por muitas crianças. A psicóloga Carla Guth defende que é necessário contextualizar o momento em que a Poliana original foi criada, mas sem retirar a responsabilidade de seus roteiristas.
"Foi um livro escrito quando não se tinham esses perigos que temos hoje. Talvez a novela devesse colocar que é uma questão de época", avalia a especialista.
Ela não acha que é só dever da TV educar, explica que isso precisa começar em casa. "A orientação sobre o perigo de se falar com estranhos tem que começar com os pais. A partir dos cinco anos já se pode instruir, explicar que não se deve compartilhar informações pessoais com estranhos, principalmente o endereço de casa", completa a profissional especializada em terapia familiar.
BEATRIZ NADLER/SBT
Bento (Davi Campolongo, à esq.) sozinho com Cássio (Gutto Szuster): não é o recomendado
Presidente do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Benito Lourenço é um entusiasta da era cibernética graças à facilidade que ela traz à comunicação na sociedade moderna, mas ressalta que é dever de qualquer pai estar atento às conversas dos filhos em desenvolmento, seja online ou não.
"Na era da internet, parece que a gente só precisa vigiar enquanto está na internet, e quando a gente desliga o computador pensa: 'Ufa, meu filho tá protegido!'. Não, a atenção tem que ser constante, principalmente no espaço físico. Não dá para ser 100% presente e muito menos 100% ausente. Tem que estar lá, atento, mas não adianta pedir um relatório do dia do adolescente, porque isso sufoca e afasta", avisa.
"É sempre bom os pais terem as senhas das redes sociais e darem uma checada nas mensagens de tempos em tempos. Não existe bloqueio de celular para menor de 12 anos. Tudo precisa ser explicado desde o início para a criança", diz.
Ele alerta que a necessidade desse monitoramento, quando bem explicada, assegura uma autonomia para quando a criança se tornar um adolescente. Assim, os pais podem confiar que o filho vai sabe se cuidar diante dos perigos.
O SBT foi questionado sobre o excesso de inocência e confiança dos personagens de As Aventuras de Poliana em relação a estranhos e respondeu, por meio de nota, que "a novela apenas retrata a realidade e que é possível esperar um desfecho coerente para o enredo em questão".
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