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HELOISA JORGE

Atriz 'flertou com padre' para evitar controvérsia religiosa em Mar do Sertão

DIVULGAÇÃO/MARCIO FARIAS

Heloisa Jorge usa o cabelo black power, brincos de argola e um vestido decotado de renda branca; ela encara a câmera sorrindo

Heloisa Jorge em foto de divulgação; ela interpreta a pastora Dagmar em Mar do Sertão, da Globo

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 8/3/2023 - 6h40

À primeira vista, é chocante ver Heloisa Jorge usando uma blusa frente única, justa e estampada durante a entrevista que ela cedeu ao Notícias da TV. Afinal, a atriz surge bem diferente em Mar do Sertão. Pastora evangélica, a personagem dela usa sempre um terninho preto e uma camisa branca, um visual bem característico de beata. Não que a personagem seja a pastora mais conservadora do mundo. Dagmar é progressista o suficiente para flertar com um padre --uma estratégia para evitar controvérsias entre as religiões cristãs.

A atriz explica que a ideia veio de Allan Fiterman, diretor artístico da novela das seis da Globo. Ao tratar a pastora e o padre Zezo (Nanego Lira) menos como líderes religiosos e mais como um homem e uma mulher comuns, ele esperava diminuir as tensões provenientes das abordagens do cristianismo. Claro, os personagens até se alfinetam com suas diferentes interpretações da Bíblia --mas o clima de flerte deixava tudo leve, como a novela pretende ser.

"Já nas nossas primeiras cenas, eu vi as pessoas comentando: 'Ai, Deus me livre, mas eu estou com vontade de shippar o padre e a pastora'", relembra a atriz, rindo. Então, acho que a química entre a gente foi nos levando para esse lugar. Falar de religião é sempre muito delicado e controverso, e a gente tinha discussões muito sérias, que envolviam as questões do catolicismo e dos evangélicos. E essa foi a grande sacada do autor, de tentar diluir esses embates", define ela. 

Não foi o único assunto sério levantado pela personagem no folhetim. Antes de se converter --um gesto que, segundo a intérprete, representou uma "boia de salvação" em meio à culpa que a personagem sentia--, Dagmar abandonou uma criança na porta da igreja.

O tema suscita questões que contemplam a realidade brasileira, muito maiores que um caso isolado de abandono. A gravidez precoce e a falta de apoio psicológico nesse tipo de situação, a solidão da mulher negra (muitas vezes preterida por mulheres brancas, consequência de um "gosto" moldado pelo racismo estrutural), o "aborto paterno"... Para a artista, o abandono diz respeito a tudo isso. Tanto que muitos se identificaram com o drama:

Recebi várias mensagens de mulheres que foram adotadas e que não sabiam da própria origem falando de como minha personagem tocou suas histórias. Me sinto muito honrada em ter cumprido essa função social. Porque a gente está no Brasil, um país em que homens não assumem paternidade, um país extremamente conservador, racista, homofóbico, que tem muito chão para encontrar um lugar mais digno.

Não tão segredo assim

Apesar de esse ser o grande mistério envolvendo a pastora, a revelação da maternidade não foi lá uma novidade para o público. Desde que Dagmar entrou na trama, o público já desconfiava de que ela fosse a mãe perdida de Lorena (Mariana Sena). Mas isso não incomodou Heloisa. A intenção era essa: dividir com o espectador uma espécie de "segredinho", fazê-lo se sentir no controle da narrativa sem entregar o pote de ouro.

Essa última parte foi o xis da questão. A atriz cansou de ser abordada na rua com questões referentes ao parentesco de sua personagem. "Quando a pastora vai contar que é mãe da Lorena?", pressionavam os espectadores. O problema era responder a essas abordagens sem deixar tudo tão claro. "Eu sempre ria", relembra ela. "Chegou um momento em que eu me perguntava se estava dando muitas pistas. Mas é como se o público soubesse e os personagens, não. Essa foi a estratégia", detalha.

reprodução/tv globo

Heloisa Jorge como Dagmar em Mar do Sertão

Heloisa Jorge como Dagmar em cena

Quando o momento finalmente chegou, houve quem ficasse revoltado com a reação da filha abandonada. Não entendiam o porquê de ela ter repelido a mãe. Mas Heloisa, que discute o assunto com a intérprete de Lorena desde o início da novela, entende muito bem.

"As pessoas estavam com a expectativa de que a Lorena aceitasse a mãe de cara. Mas a gente ficou se colocando no lugar dela, né? A Lorena precisava processar a informação do abandono, entender essa mulher. A minha chegada a Canta Pedra trouxe uma conexão com a Lorena, passei a ser uma figura quase materna. E aí teve a quebra dessa confiança; então é como se tivéssemos nos conhecendo de novo", defende.

O núcleo de atores --Heloisa, Mariana e Nanego Lira-- conversavam tanto sobre o tema que ansiavam pela revelação. Esse era o grande momento da novela para o trio. Principalmente para a atriz angolana, que usou o segredo para pensar e construir sua personagem. "Desde que a Márcia Andrade, produtora, me chamou para o papel, eu já sabia que ela era a mãe da Lorena; era a informação mais clara que eu tinha em relação a Dagmar. A Mariana e Nanego sabiam também", admite.

Mas outras questões sobre a mulher foram se sobressaindo no decorrer das gravações. "Percebi que ela tinha um olhar muito empático, tinha uma compaixão pelas pessoas, uma visão muito bonita sobre a vida. Aí fui construindo a Dagmar nesse caminho mais humanizado. A religião na vida dela foi quase uma boia de salvação para esconder o ressentimento, o medo e a solidão", declara.

Caldeirão de referências

Depois de tanto drama, não faria sentido que Dagmar julgasse os outros canta-pedrenses. Ela não se eximiu de todos os seus pecados ao assumir o terninho preto, afinal. E é nesse aspecto que Heloisa encontrou o fascínio da personagem.

Ela sofria e sentia culpa ("uma pessoa precisar abandonar um filho deve ser uma das coisas mais dolorosas e perversas do mundo"), mas, ao mesmo tempo, dava exemplos e conselhos aos outros. Como retratar isso sem perder a seriedade da pastora? E como trazer esses sentimentos à tona antes de o público saber do passado da personagem? 

Além de se debruçar no texto, a artista frequentou cultos e juntou referências dos mais diversos lugares. "Eu vi muitas entrevistas do pastor Henrique Vieira. Ele fala da religião com muito beleza, nunca é o dogma pelo dogma. Eu me identifico na forma como ele fala da fé, sempre com muita poesia. Também vi algumas pregações do Martin Luther King Jr. [1929-1968] e fui pra alguns cultos, para entender como funciona uma pregação, como me portar", explica.

O "intensivão" permitiu que a pastora entrasse numa personagem mais real, longe da dicotomia de que o "crente" é bom ou ruim. É uma proposta bem semelhante à de Vai na Fé. Também representa um novo momento da Globo, que pretende conquistar a simpatia dos evangélicos. Hoje, eles representam 31% da população brasileira (cerca de 65 milhões de pessoas), segundo o Instituto DataFolha; um crescimento de 60% em dez anos.

Heloisa, aliás, acompanha a novela das sete. Gosta de ver Sheron Menezzes (Sol) e Elisa Lucinda (Marlene) em papéis tão representativos, embora elas sigam linhas diferentes de Dagmar no protestantismo. Aliás, ela gosta de ver todas essas formas de se pensar a mesma religião serem representadas na TV.

É muito bonito você contribuir para desconstruir uma narrativa que se tem ali, né? Na cabeça das pessoas, todo evangélico é conservador. Mas não tem essa coisa do bem do mal; em todas as religiões há questões bonitas e questões a serem discutidas. O pastor Henrique fala muito disso, que nem toda nem toda linha evangélica vai ser conservadora, fundamentalista.

"Tem correntes que pregam o diálogo, que se preocupam com as questões sociais. Mas o que chega para gente na imprensa é uma corrente intolerante. Colocar na TV aberta uma outra visão dessa mesma religião é uma maneira que a gente tem de estar num mundo melhor", completa a artista.

O fato de a pastora ter engatado um relacionamento com Tertúlio (José de Abreu) também faz parte dessa abordagem mais leve. Ela ficou surpresa com a novidade, mas gostou de mostrar um outro lado da personagem, longe do martírio de toda a sua participação na novela. 

"É muito legal que o público veja a Dagmar se apaixonando. Uma mulher tão traumatizada, que se fechou ao amor, e de repente sente coisas que pensou que não sentiria mais. Esse florescimento vai mudar uma coisa ou outra na caracterização dela. Porque, quando a gente está apaixonada, a gente se veste de outra forma, a gente olha as coisas de outras formas", adianta.

Mas, apesar de todo o encantamento com o universo de sua personagem, Heloisa faz uma confissão: "Eu já frequentei a Igreja Católica. Fiz catequese, crisma, mas nunca terminei nada. Nunca tive desejo de me comprometer com religião."

Escrita por Mario Teixeira e dirigida por Allan Fiterman, Mar do Sertão ficará no ar na faixa das 18h da Globo até 17 de março. O folhetim será substituído por Amor Perfeito, trama de época escrita por Duca Rachid e Julio Fischer e que conta com Camila Queiroz como protagonista.

Leia os resumos dos próximos capítulos da novela das seis.


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