Atriz de Travessia cria estratégia para trabalhar com Cassia Kis: 'Não é agradável'

Para evitar que um climão tome conta das cenas de Travessia, Ana Lucia Torre prefere ficar bem longe de Cassia Kis nos bastidores da Globo. Intérprete de tia Cotinha na atual novela das nove, a veterana discorda das posições políticas da colega de elenco e rechaça as frases preconceituosas proferidas pela apoiadora de Jair Bolsonaro (PL).

"Não é agradável para mim. Não vou dizer em nome dos outros do elenco, mas essas falas homofóbicas, as manifestações [Cassia participou de atos antidemocráticos no último dia 6], não fazem o meu gênero", admitiu Ana em entrevista ao colunista Lucas Pasin, do UOL.

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A veterana ainda desenvolveu uma estratégia para gravar suas cenas com a atriz conservadora. "Eu trabalho com ela, né? Então, quando estamos juntas, ela é a Cidália [personagem]. Foi a solução que encontrei para mim, para não ficar um clima nesse ambiente", completou.

Ela discordou especialmente das justificativas da colega para tais atitudes. Em uma live com Leda Nagle, Cassia usou o catolicismo como argumento para menosprezar casais homoafetivos e delimitar suas posições políticas.

"Não existe mais homem e mulher, mas mulher com mulher e homem com homem, e homem com homem não dá filho, nem mulher com mulher. Como a gente vai fazer?", soltou a atriz. Segundo ela, a lógica contraria um dos primórdios de Deus: a de gerar herdeiros. Nem pílulas anticoncepcionais foram poupadas nas declarações da atriz.

Na mesma live, ela confessou temer que o aborto fosse legalizado no Brasil após Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir o poder. Atualmente, o aborto é permitido até os três meses de gestação em casos de estupro e risco de morte para a mãe. Apesar de também ser cristã, Ana Lucia tem outra visão de mundo.

Sou uma pessoa de extrema fé. Acredito em Deus profundamente. Mas o meu Deus é agregador. Ele não é preconceituoso. Por exemplo: como não vou gostar de uma pessoa negra apenas porque sou branca? É meu irmão em Cristo. Existem atitudes por aí que não gosto.

Também na contramão da colega, a intérprete da tia de Leonor (Vanessa Giácomo) tem boas expectativas com o próximo governo. Só o fato de o futuro mandatário não "vilanizar" a lei Rouanet --lei de incentivo a projetos culturais que foi alvo de ataques constantes de Jair Bolsonaro (PL)-- já abre bons caminhos para a cultura, segundo a atriz.

"Acredito em muitas mudanças. No aspecto artístico, sofremos bastante com a não liberação de verbas, vários entraves, e muitas campanhas contra a classe. Inverteram todo o significado da Lei Rouanet, como se nós fossemos culpados por tudo que acontecia. Enfim, é um processo. Cultura é absolutamente necessária para um povo. Quem não tem cultura e educação só anda para trás", finalizou.

Ana Lucia Torre e Cassia Kis em Travessia

Outros funcionários da Globo também têm discordado de Cassia Kis. Quinze artistas, entre atores, atrizes e produtores, fizeram reclamações formais contra a intérprete de Cidália ao compliance da emissora. Cinco jornalistas também instauraram um processo contra a atriz na ouvidoria da empresa, com base em ataques da artista à imprensa pelo WhatsApp.

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