Ator vê 'luta do povo preto' ao entrar em cenário de A Infância de Romeu e Julieta

Fábio Ventura teve de esperar três décadas para conquistar sua primeira oportunidade na TV aberta. Depois de incontáveis peças de teatro, uma série do Star+ e um projeto internacional do Globoplay, ele enfim cavou seu espaço em A Infância de Romeu e Julieta, do SBT. Mas a grande virada de chave, para ele, é o fato de não estar num papel estereotipado. Bernardo Monteiro, seu personagem na trama, é um homem rico e poderoso --longe do lugar de subserviência normalmente reservado a personagens negros nas novelas.

Ainda assim, a autora Iris Abravanel se furta de discutir pautas raciais em seu folhetim. Questionada sobre o tema no evento de lançamento da trama, ela declarou que "o que importa é o coração [dos personagens], independentemente da cor e da raça". Mas o empoderamento negro está presente de outras formas, pelas mãos de outros profissionais. É o caso do cenário de Bernardo, cheio de referências à África e às culturas africanas.

"Cada detalhe dali, do escritório do Bernardo... Tinha um mapa do mundo em que aparecia a África, sabe? Então, assim, em alguns segundos, que é o tempo que a gente tinha antes de ensaiar, um filme passou pela minha cabeça. Um filme de tanta luta, de tantas coisas que nós, pretos, passamos para conseguir uma oportunidade", contou ele.

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Para o ator, esse espaço recém-conquistado é apenas um pontapé para a dramaturgia brasileira rever seus conceitos --especialmente no que diz respeito a dar oportunidades para novas gerações de atores negros.

De certa forma, a nova novela também tem essa preocupação. Romeu, um dos protagonistas da trama, é interpretado pelo ator mirim Miguel Ângelo, de 14 anos. O menino até ganhou uma declaração de Ventura, que vive seu pai no folhetim, durante a coletiva de imprensa:

Eu me vejo em você. E acho que várias pessoas, várias crianças, vão ter esse mesmo sentimento. Na hora do 'gravando', no primeiro dia, eu pensei: 'Meu Deus, como eu gostaria de ter tido a oportunidade de viver isso quando tinha 12 anos'. Porque aos 12 eu já estudava teatro. Então, acho que o que a gente está vivendo é um marco. Alguns dirão: 'Veio tarde'. Outros dirão: 'Não é representatividade o suficiente'. Mas a gente está aqui. 

Agora, o ator quer "fazer essa oportunidade valer a pena". Não só essa, mas outras também. Aos 46 anos, o artista vive um momento único em sua careira. Além da trama infantojuvenil, ele tem dois projetos prestes a estrear no streaming. A comédia Desejos S.A., protagonizada por Carol Castro e Marcos Pasquim no Star+, é um deles.

Já no Globoplay, Ventura estará em Rio Connection, gravada em inglês e fruto da parceria entre a Globo e a Sony Pictures. Ele viverá o detetive Santos, responsável por investigar uma quadrilha europeia que usa o Brasil como ponto estratégico para o tráfico de heroína aos Estados Unidos. A trama também conta com Marina Ruy Barbosa, Maria Casadevall e Bruno Gissoni.

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