Assassinado em Amor Perfeito, ator defende vilã traidora: 'Abandono social'

Embora Gilda (Mariana Ximenes) mate seu personagem sem dó nem piedade, Paulo Gorgulho tenta compreender a vilã de Amor Perfeito. O ator não quer justificar os atos tenebrosos dela --muito menos o assassinato de Leonel na nova novela das seis--, mas vê no passado dolorido da mulher um "adubo" para regar a "semente maligna" que ela guarda. Ex-prostituta, a vilã vai aprontar horrores para se dar bem no folhetim.

Gorgulho destacou, no evento de lançamento da novela, que a personagem foi vítima de um "abandono social, estrutural". Segundo ele, Gilda não é puramente maldosa e não pode ser tratada como uma "coisa estanque", como se só tivesse essa faceta. Ela faz o que precisa para sobreviver, afinal.

"É absolutamente condenável a personagem da Gilda, em vários aspectos, ambição e tudo, mas é preciso levar em conta que a estrutura social cria grupos abandonados e pessoas desamparadas do ponto de vista psicológico, emocional e material, sem parar, século após século", disse ele. 

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A maldade não é pura em si, ela também pode ser regada ao longo dos anos, e a pessoa acaba pegando um caminho que para ela pode parecer ser sobrevivência. É um abandono estrutural, racial, emocional, social. Essa é uma coisa que a gente vem discutir também nessa novela e é muito importante.

Intérprete da megera, Mariana Ximenes usou argumentos parecidos. Admitiu que não consegue defender sua personagem, mas tenta vivê-la com o máximo de verdade possível. Júlio Fischer, coautor da trama, foi pela mesma linha de raciocínio: "A Gilda teve uma infância miserável. No fundo, o que ela busca é um preenchimento de afeto, ser reconhecida, ser valorizada. Ela quer preencher alguma coisa que faltou lá na infância", afirmou.

Apesar da morte precoce, o intérprete parece animado com a participação. Ele até brincou com os flertes entre Thiago Lacerda e Mariana Ximenes durante a coletiva de imprensa da novela. O galã chamou a colega de "minha colombina", e Gorgulho, marido de Mariana na trama, resmungou, em tom de escárnio: "Olha, é péssimo isso", disse ele. "Paulo, você tá com a gente. Você faz parte do fetiche", comentou Lacerda. "Eu também tenho fetiche por você", devolveu o ator, aos risos.

O projeto também permitiu que ele reencontrasse colegas que não via há tempos, como Zezé Polessa e Tony Tornado. Mas, acima de tudo, fez com que ele debatesse um tema que, "infelizmente, sempre é muito atual: a questão do racismo".

Ele acaba tendo um neto preto, que é uma delícia de figura. E isso mostra que a gente tem pré-conceitos que são estruturais mesmo, que são da cultura, da educação. Não é inerente à condição humana. Inerente é água: se você não tomar água, você morre. Agora, você não ser racista é até melhor, você vive melhor.

Quem é Leonel em Amor Perfeito?

Personagem de Gorgulho, Leonel se entrelaça com o núcleo principal da trama. É ele que trama para separar Marê (Camila Queiroz) de Orlando (Diogo Almeida), o mocinho da história, ambicionando que a herdeira se case com Gaspar (Thiago Lacerda), filho do prefeito da cidade. Com a união, o empresário pretendia ter livre acesso às fontes de águas termais da cidade. 

De fato, o homem não é lá flor que se cheire. Ele se tornou soturno, reservado e impiedoso após a morte da primeira mulher, Maria Eugênia (Karen Marinho), a única que ele amou. Sem o senso de moral da mulher, se envolveu em vários conluios para manter seu poder na cidade de Águas de São Jacinto, na qual sua empresa, o Grupo Rubião, é o grande polo de poder.

O empresário também ficou obcecado pela filha, a quem vê como um espelho da mãe. Por isso, não aceitou que ela tomasse as rédeas da própria vida, como ir para São Paulo cursar Administração ou se casar com quem bem entende. Mas Marê sempre bateu o pé e fez o que desejava, e Leonel ficava tão irritado que não percebia o que estava bem à sua frente: a rivalidade de sua nova mulher com a mocinha.

A ficha dele só caiu quando flagrou Gilda com Gaspar. Ele confrontou a mulher, mas a vilã atirou nele sem dó. Podre, a bandida ainda incriminará Marê pelo assassinato --e tomará as rédeas do Grupo Rubião inteiramente para si.

Amor Perfeito estreou nesta segunda (20), substituindo Mar do Sertão na faixa das 18h da Globo, Criada por Duca Rachid e Júlio Fischer, e escrita também com Elísio Lopes Jr., a novela conta a história de Marcelino (Levi Asaf), menino abandonado numa irmandade de padres quando ainda era bebê. 

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