falsa modéstia?
Divulgação/Netflix
Keri Russell na série A Diplomata, da Netflix; ela usa celular para ligações, não para ver vídeos
Enquanto o YouTube trava uma guerra midiática com a Globo pelo posto de plataforma mais vista no Brasil, a Netflix corre por fora e menospreza sua concorrência com a divisão de vídeos do Google. Muito menor do que a rival em participação, a gigante do streaming prefere o discurso diplomático de que as duas são complementares, mas alfineta que o YouTube jamais poderia produzir o que a Netflix faz no audiovisual.
O tema veio à tona na última reunião de executivos da Netflix com acionistas. Questionado se enxerga o YouTube como amigo ou rival, o CEO Ted Sarandos preferiu sair pela tangente. "Nós competimos diretamente pelo tempo que o público passa diante da TV, mas somos muito diferentes", desconversou.
"Nós investimos em conteúdo premium e ambicioso para crescer nossa fatia de engajamento. Acreditamos que a Netflix é o melhor lugar para histórias premium, porque somos a casa dos melhores contadores de história. Temos um alcance enorme, de 600 milhões de espectadores", discursou Sarandos, em referência aos 282,7 milhões de assinantes registrados até setembro.
O presidente da Netflix ainda afirmou que, para quem produz, é mais interessante trabalhar para a plataforma do que para o YouTube. "Nós assumimos o risco financeiro para você fazer seu conteúdo. Nosso modelo gera retornos maiores para os criadores, e essa receita os ajuda a fazer investimentos mais ambiciosos em seus projetos futuros", continuou o CEO.
Então, embora Netflix e YouTube compitam pelo tempo do espectador, são complementares também. Nós colocamos os nossos trailers no YouTube, e eles conseguem muitas visualizações, o que é ótimo porque leva o público para a Netflix. O streaming é o futuro, nós damos ao consumidor a escolha e o controle. Nós somos o que eles querem.
Sarandos usou palavras fortes para tentar vender o seu peixe, mas não pôde afirmar diretamente que a sua plataforma rende mais audiência para os criadores. Afinal, o YouTube tem um alcance muito maior.
Segundo dados da Kantar Ibope divulgados em primeira mão pelo Notícias da TV, quando se considera o consumo apenas em televisores, o YouTube tem 8,8% do público brasileiro, contra 4,2% da Netflix. Nos Estados Unidos, de acordo com a Nielsen, que mede a audiência por lá, os números são similares: 9,7% para o YouTube, contra 7,6% da Netflix. Quando dispositivos móveis são levados em conta, a diferença fica ainda maior.
Como não tem o fator público a seu favor, o executivo apelou para o dinheiro para se mostrar como a principal opção de entretenimento --uma aposta ousada, já que o YouTube é, em sua essência, gratuito. "O investimento que fazemos é em oferecer mais benefícios para os consumidores, porque damos o maior valor possível para o dinheiro. Se analisarmos onde há o melhor retorno, estamos felizes com a nossa posição", disse.
Já Greg Peters, que divide o comando da Netflix com Sarandos, alfinetou o YouTube no seu discurso. "Se você pensar nos conteúdos que vamos lançar neste semestre, como [a segunda temporada de] Round 6, Outer Banks, Black Doves. E séries como Cem Anos de Solidão e Senna, que vêm da América Latina e são projetos enormes e ambiciosos... É difícil imaginar que apostas criativas deste tamanho seriam possíveis no modelo do YouTube."
"Então, sim, é verdade que estamos em um ambiente muito competitivo, mas achamos que com o nosso modelo e o nosso foco, de ter os melhores contadores de história e produtos premium ambiciosos, conseguimos fazer algo bom para o público, para os criadores e ainda gerar uma margem operacional para o negócio também", falou Peters, ignorando o fato de que um dos sucessos da Netflix, a série Cobra Kai, começou justamente no YouTube.
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