Cotado para Oscar, Os Rejeitados é o tipo de filme que streamings ameaçam matar

No próximo dia 24, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgar os indicados ao Oscar 2024, Os Rejeitados tem tudo para marcar presença em algumas categorias. Doce e irônico, engraçado e dramático, o longa merece cada uma das nomeações que vier a receber. Mais do que isso, a equipe por trás da produção é digna de reconhecimento por ter conseguido levar sua história ao cinema --o filme é do tipo que pode acabar em breve por causa do investimento cada vez maior das plataformas de streaming na sétima arte.

Os Rejeitados, veja bem, não é uma superprodução com orçamento bilionário que adapta super-heróis dos quadrinhos, nem um novo capítulo de uma franquia já testada e aprovada.

O longa também não tem astros de primeira grandeza, como Tom Cruise ou Sandra Bullock, para justificar sua exibição em um cinema. Seu protagonista, Paul Giamatti, é aquele cara que o público já viu em algum filme, mas talvez não saiba precisar qual.

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São produções assim que dominam os grandes complexos de cinema nos últimos anos, deixando dramas menores restritos a lançamentos em alguma plataforma de vídeo sob demanda, como a Netflix ou o Prime Video.

Aqui, o ator de 56 anos interpreta Paul Hunham, um professor de História especializado em civilizações antigas que leciona em um colégio interno só para garotos em 1970. Com o recesso para as festas de fim de ano, boa parte dos alunos volta para casa, mas cinco estudantes precisam ficar na escola por não terem para onde ir, e Hunham é escalado para supervisioná-los.

O problema é que todo o conhecimento acadêmico do professor não se estende para o seu lado social. Com linguajar antiquado, um temperamento detestável e uma vontade de pregar bons costumes nos quais nem ele mesmo acredita, o docente é alvo fácil para as piadas de seus alunos --ter um olho de vidro e um hálito fedorento também não o ajudam.

Porém, ao longo das 2 horas e 13 minutos de história, Hunham ganha novas dimensões. A convivência forçada com Angus Tully (Dominic Sessa), um dos cinco alunos rejeitados por suas famílias em pleno Natal, vai amolecendo o coração de um homem que parece incapaz de sentir compaixão ou amor.

A dupla inesperada ainda ganha a companhia de Mary Lamb (Da'Vine Joy Randolph), responsável por coordenar a cozinha do colégio. Peixe fora d'água em um ambiente repleto de riquinhos mimados, a mulher ainda sofre com a perda recente do filho, morto na Guerra do Vietnã (1955-1975). Juntos, os três se ajudam, se provocam e se transformam a cada conversa.

Por trás de Os Rejeitados está o cineasta Alexander Payne, indicado a sete Oscars ao longo de sua carreira --venceu dois, pelos roteiros de Sideways - Entre Umas e Outras (2004) e Os Descendentes (2011). Desta vez, ele dirige um texto de David Hemingson, que faz sua estreia em longas depois de quase 30 anos escrevendo exclusivamente para séries de TV.

Giamatti, que já havia trabalhado com Payne em Sideways, retoma a parceria com o diretor após duas décadas, mas passa a impressão de que os dois nunca deixaram de trabalhar juntos. O público odeia e ama igualmente o professor, tão irritante, mas tão identificável em suas ações.

Da'Vine Joy Randolph, que já levou mais de duas dezenas de prêmios por sua atuação como Mary, é a favorita na corrida pelo Oscar de atriz coadjuvante. Merecidamente. A artista de 37 anos brilha toda vez que está em cena, transmitindo no olhar a dor e a desesperança de uma mulher que não tem mais motivos para viver, mas não pode sequer se dar ao luxo de desistir.

Por fim, Dominic Sessa faz sua estreia no cinema com a segurança de um veterano. Aos 21 anos, ele não tem recebido o mesmo carinho que as premiações dedicam aos seus colegas, mas isso não significa que sua atuação seja ruim. Pelo contrário. Em Os Rejeitados, dá indícios de que Hollywood pode ter descoberto seu próximo jovem astro.

O filme estreia nesta quinta-feira (11) nos cinemas brasileiros. Veja o trailer: