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INSPIRADO EM PEÇA

Com Samantha Schmütz, Não Vamos Pagar Nada é retrato da decadência do Brasil

Divulgação/A Fabrica

Samantha Schmütz e Edmilson Filho discutem em cena de Não Vamos Pagar Nada

Samantha Schmütz e Edmilson Filho em Não Vamos Pagar Nada, filme que retrata decadência do Brasil atual

ANDRÉ ZULIANI

andre@noticiasdatv.com

Publicado em 8/10/2020 - 6h50

No embalo da reabertura dos cinemas, estreia nesta quinta-feira (8) o filme nacional Não Vamos Pagar Nada (2020), protagonizado por Samantha Schmütz (Vai que Cola). Adaptação de uma peça italiana dos anos 1970, o longa usa a comédia para mostrar a tragédia da fome e do desemprego que assola o país e faz um retrato da decadência do Brasil atual.

Baseada na peça Non Si Paga! Non Si Paga! (1974), criada pelo vencedor do prêmio Nobel de Literatura Dario Fo (1926-2016), a produção conta a história de Antônia (Samantha), uma mulher desempregada que faz de tudo para controlar as despesas da casa e se certificar de que o salário do marido, João (Edmilson Filho), seja o bastante para colocar comida na mesa.

Quando a protagonista vai ao mercado para fazer as compras do mês, ela se surpreende com o aumento significativo dos preços dos alimentos. A justificativa é a mudança na direção do local, o que não convence Samantha e as outras mulheres presentes.

Indignadas, elas organizam uma revolta e saqueiam completamente o mercado. O grande problema para Antônia, no entanto, é pensar na reação do marido. Apesar da grana curta, João é fiel à lei e não aceitaria que sua mulher cometesse um crime.

Mesmo que a narrativa dos acontecimentos se assemelhe a uma tragédia, o filme foca no absurdo para representar as confusões de Antônia, com cenas para fazer o público rir.

Em entrevista exclusiva ao Notícias da TV, João Fonseca, que faz a sua estreia na direção de um longa-metragem após uma carreira de prestígio no teatro, explica a preferência por contar a história como uma comédia.

"A peça do Dario é uma história sociopolítica, anárquica, absurda. Se não tivesse essa visão trágica por trás, eu estaria errado. A comédia vem na frente como uma grande farsa, mas é com ela que conseguimos atingir o grande público. É um gênero que vem das ruas e fala com todas as pessoas", diz.

Para Fonseca, o fato de o filme retratar personagens de baixa renda permite que o público crie uma maior identificação com a história. "O bom das comédias que vêm das ruas é que retratam quem de fato importa. O herói é o empregado, e o patrão é sempre o ridicularizado. Isso ajuda a torcer pelo herói. Eu adoro o humor e fazer as pessoas rirem. Para mim, humor é sinônimo de inteligência."

Com um olhar ácido, Não Vamos Pagar Nada expõe a desigualdade econômica brasileira --João, por exemplo, se sujeita a comer até ração de cachorro-- e as relações de poder entre instituições que deveriam proteger a população, mas usam meios e discursos para reprimir os que mais precisam.

A fácil identificação de uma peça dos anos 1970 com a história do filme, lançado em 2020, mostra que pouco mudou na sociedade e que, apesar dos mais de 40 anos que separam uma obra da outra, infelizmente as críticas se mantêm bem atuais.

Direto dos cinemas para as telinhas

Mesmo com a estreia no cinema em circuito fechado, Não Vamos Pagar Nada chegará simultaneamente no streaming e no canal Telecine Premium em 15 de outubro, com o selo Premiére Telecine. Fonseca confessa uma parcela de frustração causada pela situação atípica.

"É uma mistura de sentimentos. Eu já estou absolutamente tranquilo com a ideia de ele ir para o streaming e para a TV. Eu sou otimista, então penso que se é pra ser assim, é porque vai ser melhor desta maneira. Mas é óbvio que frustra um pouco porque, na verdade, essa vida que estamos vivendo nos frustra no geral. Nós queremos nossa vida de volta, poder ir ao cinema, ao teatro, aglomerar."

Para o diretor, ser de outra geração atrapalha um pouco a sua experiência com o streaming. "Eu sou mais velho, de outra época, não consigo ver as coisas na televisão. Eu vejo às vezes porque não tenho tempo de assistir de outra maneira. Se eu posso ir ao cinema, eu vou ao cinema. Pra mim é uma experiência diferente, e eu adoraria que pudessemos assistir a Não Vamos Pagar Nada em cinema cheio".

Pelo lado positivo, Fonseca comemora a estreia do filme, mesmo que em cinemas selecionados por conta da pandemia do coronavírus.

"Para mim, já é uma vitória que o filme possa ser exibido desta maneira. É muito legal. A frustração existe muito por causa desta fase terrível pela qual estamos passando. Apesar disso, acredito que esse lançamento plural vai aumentar o acesso de outras pessoas ao filme. No final das contas, o que nós queremos é que as pessoas o vejam, seja como for."

O elenco de Não Vamos Pagar Nada ainda conta com Fernando Caruso, Flávia Reis, Leandro Soares, Flávio Bauraqui e Criolo.

Assista ao trailer oficial:


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