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CRÍTICA

Alemão 2: Filme coloca dedo na ferida e escancara falhas da polícia do RJ

FOTOS: DIVULGAÇÃO/MANEQUIM FILMES

Vladimir Brichta em cena de Alemão 2

Vladimir Brichta em cena de Alemão 2; sequência do filme de 2014 está disponível nos cinemas

ANDRÉ ZULIANI

andre@noticiasdatv.com

Publicado em 1/4/2022 - 6h25

Alemão 2 (2022), sequência do filme de 2014 estrelado por Cauã Reymond, estreou nos cinemas nesta quinta-feira (31) com o intuito de corrigir os erros de seu antecessor. Com uma trama que rompe estereótipos e mostra a realidade das comunidades no Rio de Janeiro, o longa coloca o dedo na ferida de um grave problema social e escancara as falhas da polícia local.

Em linguagem cinematográfica, Alemão 2 está mais para uma "sequência espiritual" que uma continuação convencional. Do primeiro longa, Mariana Nunes, que interpreta Mariana, retorna para fazer não apenas a conexão entre os dois filmes, mas para mostrar --mais uma vez-- a força da mulher preta nas favelas do Rio.

A presença marcante da atriz, unida com as adições de Zezé Motta, Leandra Leal e Aline Borges, é apenas uma das correções propostas no longa, mais uma vez dirigido por José Eduardo Belmonte. Desta vez, a história situada no Alemão vai além do entretenimento: há denúncia, debate e importantíssimas reflexões.

A trama começa com a ocupação do Complexo do Alemão pelas autoridades do Rio de Janeiro. Playboy, antigo chefe do morro interpretado por Reymond no filme original, foge da comunidade com a chegada da polícia e vê seu território ser dominado por narcotraficantes e pelas recém-chegadas milícias.

A força policial do longa é representada na liderança de Machado (Vladimir Brichta), agente da Polícia Civil que perdeu a oportunidade de prender Soldado (Digão Ribeiro), novo dono do morro, com a ocupação do Alemão --e quase teve sua vida tirada no processo. Anos depois, ele ganha uma nova chance de cumprir a sua missão da maneira mais pacífica possível: ele precisa se infiltrar na comunidade e ir ao encontro do traficante sem dar um tiro sequer.

Para ajudá-lo na missão, a delegada Amanda (Aline Borges) seleciona a novata Freitas (Leandra Leal) e o agressivo Ciro (Gabriel Leone). Juntos, eles se passam por simples funcionários da prefeitura para entrar no morro e capturar Soldado. A missão dá errado quando a informação da operação vaza, e um grupo rival de traficantes invade o complexo para ceifar a vida de Soldado.

Freitas (Leandra Leal) e Ciro (Gabriel Leone)

Freitas (Leandra Leal) e Ciro (Gabriel Leone)

Cercado por todas as partes, o trio se esconde pelas vielas do Alemão para manter Soldado sob custódia e salvar o maior número de inocentes possível --algo que parece impossível dentro da realidade da guerra às drogas do Rio de Janeiro. Com os traficantes colocando o morro em estado de sítio, qualquer morador fora de suas casas é um possível efeito colateral do confronto. Para os bandidos, quem colocar a cara para fora já faz parte da batalha.

Com o roteiro de Alemão 2 em desenvolvimento desde antes do fim das gravações do primeiro filme, Belmonte teve tempo para estudar as nuances e os erros cometidos pela polícia na ocupação do morro e a criação das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora). Criada com o intuito de devolver a liberdade aos moradores da comunidade e acabar com a violência, a iniciativa fracassou e permitiu a chegada das milícias --situação que se tornou um inferno ano após ano.

De forma explícita, a sequência coloca o dedo na ferida em vários problemas sociais enfrentados pelas comunidades do Rio: a truculência policial, a falta de preparo dos policiais e o armamento desenfreado de traficantes que dá o poder àqueles que deveriam estar atrás das grades.

Mais importante do que apontar os erros, no entanto, Alemão 2 propõe um debate: qual a realidade que a população quer para si? Uma polícia valente e preparada para combater o crime de forma pacífica e menos mortal, ou a sanguinária, representada pelas loucuras de Ciro, que se enxerga como juiz e carrasco em simultâneo.

É nas personagens de Mariana e Zezé, no entanto, que o filme simboliza o inferno da realidade dos moradores da comunidade. Do eterno medo da morte ao racismo e machismo estrutural que permeia toda a sociedade, são elas que escancaram as dificuldades das mulheres negras do morro e exaltam sua força. Elas não precisam de heróis se são as protagonistas de suas próprias histórias.

Alemão 2 termina com uma dura reflexão: a missão das UPPs deu errado e, assim como no morro, a realidade dos brasileiros também piorou. Em clara referência às eleições presidenciais, Belmonte provoca e questiona: qual o caminho a sociedade deve tomar para escapar da barbárie e colocar um pouco de luz em um caminho já tortuoso? Fica a questão.

Assista ao trailer oficial de Alemão 2:


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