OPINIÃO
Divulgação/CNN Brasil
O empresário Rubens Menin e o jornalista Douglas Tavolaro no lançamento da CNN Brasil, na segunda (9)
Melhor notícia para o telespectador brasileiro desde a chegada do Fox Sports em 2012, a CNN Brasil entra no ar às 20h deste domingo (15) sob o signo da dúvida. Licenciamento da prestigiada marca norte-americana, o novo canal terá de provar independência editorial e viabilidade financeira em um cenário de crise para a mídia eletrônica.
A CNN Brasil é um empreendimento do empreiteiro Rubens Menin, dono da construtora MRV, e de Douglas Tavolaro, ex-vice-presidente de Jornalismo da Record e biógrafo do bispo Edir Macedo. Menin é o maior construtor de casas populares para o governo federal. Fez fortuna com o programa Minha Casa, Minha Vida. E não esconde sua simpatia pelo presidente Jair Bolsonaro.
Em um evento para 1.500 pessoas na última segunda-feira (9), a CNN Brasil reforçou o discurso de que será um veículo apartidário. "Não seremos nem de direita nem de esquerda. Nosso negócio é o jornalismo profissional", afirmou Tavolaro à plateia.
Mas parte do mercado não comprou a tese de isenção da CNN brasileira. Afinal, por que um empresário como Menin, que depende de negócios com governos, quer uma emissora de TV?
Para profissionais de televisão e publicidade ouvidos pelo Notícias da TV, a primeira resposta é o "poder" que um veículo dá a seus controladores. Consequentemente, a segunda resposta é que Menin, com a CNN, terá maior influência e atrairá mais negócios para sua MRV, que acumula milhares de processos de consumidores descontentes com suas obras e já foi acusada de explorar trabalho análogo ao escravo. E ninguém esquece seus tuítes apoiando Bolsonaro, que espera que a CNN Brasil "areje e dinamize a imprensa", nas palavras de seu vice, Hamilton Mourão.
Eu seu discurso na festa da última segunda, Rubens Menin deu três justificativas para investir na CNN: 1) o canal vai ajudar o Brasil a se desenvolver social e economicamente; 2) a imprensa tem "papel fundamental" para impedir que 25 mil talentos deixem o país todos os anos em busca de oportunidades no exterior; e 3) "Precisamos investir em filantropia, e a imprensa precisa apoiar".
Para parte da plateia, as motivações de Menin para investir na CNN pareceram um tanto aleatórias, o que reativou teorias conspiratórias de que não apenas Douglas Tavolaro, mas também ele seria um agente de personagens ocultos.
Outro ponto questionado pelo mercado é a viabilidade econômica de um novo canal de TV por assinatura, setor que começou 2020 perdendo 300 assinantes por hora. CNN e operadoras não revelam quanto o canal receberá por assinante. Quem conhece bem esse mercado, no entanto, sabe que aumentar seus custos com um canal é o que as operadoras menos querem e precisam neste momento.
A CNN Brasil festejou ao longo da semana que entrará no ar com dez patrocinadores. O principal deles, o banco Santander, teria se comprometido a desembolsar R$ 100 milhões em três anos. A Cielo, R$ 50 milhões em dois anos. É um feito e tanto. Mesmo assim, apontam especialistas, a conta não fecha. Para se manter com 450 funcionários (160 dos quais jornalistas), o canal teria que faturar pelo menos R$ 150 milhões por ano.
Pouca gente no mercado acredita nessa arrecadação. Negociações feitas antes de um veículo entrar no ar e mostrar sua capacidade de entrega (audiência) costumam ser baseadas em generosos descontos.
Fontes da própria CNN afirmam que Menin irá investir no canal R$ 700 milhões entre os próximos cinco e dez anos. Esse valor cobriria o déficit que o canal poderá ter nessa jornada. Só para implantá-lo, Menin já teria gasto outros R$ 300 milhões.
A CNN Brasil contesta essas informações. "Não revelamos valores e detalhes de negociações, mas somos uma marca objeto de desejo de grandes marcas. A receptividade do mercado nos últimos meses tem sido espetacular, mesmo antes de entrar no ar, a ver pelo volume de negócios fechados. Nosso projeto comercial contempla entregas em pay TV e digital, atendendo à demanda crescente de projetos multiplataforma", diz Marcus Vinicius Chisco, vice-presidente comercial.
O canal também refuta especulações de que servirá a interesses políticos e reforça seu apartidarismo. Diz que, como licenciada da CNN Internacional, tem de seguir "guidelines" (diretrizes) que impõem um jornalismo isento e de qualidade, com rigor na apuração dos fatos e sob a supervisão de um conselho editorial "independente".
O problema, apontam fontes do mercado, é que a gigante AT&T, à qual pertence a marca CNN, tem outros interesses. Ela precisa da boa vontade do governo Bolsonaro para alterar marcos regulatórios e aprovar a fusão com a WarnerMedia no Brasil.
Atualização: Após a publicação deste texto, a Cielo enviou a seguinte nota:
"A Cielo afirma que não procede a informação de que a companhia firmou patrocínio de R$ 50 milhões com a CNN Brasil. O valor é bem inferior, mas não será divulgado por uma questão de sigilo comercial."
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