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ENTREVISTA

Com 47 anos de novelas, Elizabeth Savala confessa que odeia se ver na TV

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Atriz Elizabeth Savala sorri e olha para frente em cena de Quanto Mais Vida, Melhor

Elizabeth Savala, que atualmente está em Quanto Mais Vida, Melhor!, atua em novelas há décadas

GUILHERME MACHADO

guilherme@noticiasdatv.com

Publicado em 10/4/2022 - 7h00

A vida de Elizabeth Savala se confunde com a história da teledramaturgia brasileira. Como a rebelde Malvina, ela foi um destaques de Gabriela (1975) e acabou alçada ao estrelato. Desde então, vieram inúmeras mocinhas e vilãs, em tramas como O Astro (1977), Pai Herói (1979), Plumas e Paetês (1980), Chocolate com Pimenta (2003), Alma Gêmea (2005), Amor à Vida (2013) e Quanto Mais Vida, Melhor!. O público, portanto, se acostumou a vê-la nas novelas, o que torna ainda mais curioso o fato de a própria atriz confessar que não curte nem um pouco se ver no ar.

"Quero deixar bem claro: eu odeio me ver!", enfatiza a intérprete, entre uma risada e outra, em entrevista ao Notícias da TV. Ela justifica que a falta de distanciamento com o trabalho torna a experiência de ser assistir muito mais complicada. 

"Quando a gente se vê no ar fica muito critico em relação a si mesmo. Só tem coisa negativa, não se vê nada positivo. Se a direção e a preparação dizem que está bom, então está ótimo!", frisa a artista.

Para o "azar" da atriz, como ela está no ar na atual novela das sete, fica um pouco difícil não se ver. Mas tudo bem, pois a reposta do público tem sido, segundo ela, carinhosa. Dito isso, Elizabeth não esconde que o processo de gravação da trama foi um dos mais difíceis de sua carreira, por ter ocorrido no meio da pandemia e ainda por ter transformado o folhetim em uma obra fechada, ou seja, sem a possibilidade de alteração nos roteiros.

"Faço novelas há 47 anos e foi a primeira vez que fiz uma obra fechada. Acho estranho, muito difícil. Você não conseguia nem ver os seus colegas da equipe. O elenco ficou cada um em um camarim, você só passava o texto mesmo em cena, todos com máscaras. Nunca vivi nada parecido", relata.

Em Quanto Mais Vida, Melhor!, a intérprete vive Nedda, uma mulher batalhadora que fez o possível e o impossível para criar os dois filhos, Roni (Felipe Abib) e Neném (Vladimir Brichta), e sofre horrores ao ver que eles nunca conseguiram ser amigos. Ao mesmo tempo, a cabeleireira não abre mão de sua sensualidade. Tanto, que ela chega a se fantasiar para ter aventuras em motéis. 

Elizabeth se diverte com a dona do salão e admira suas características, apesar de assumir que no começo rejeitou um pouco o figurino. "Odeio estampado", dispara ela. Sim, o figurino de Nedda é para lá de colorido e estampado.

reprodução/tv globo

Elizabeth Savala em Alma Gêmea

Apesar de essa ser a personagem do momento, não é só sobre ela que os fãs conversam com a atriz. Justamente por estar na televisão há quase 50 anos, Elizabeth Savala coleciona figuras que ficaram marcadas no imaginário popular. Uma delas, a sofrida Agnes de Alma Gêmea, está em reprise no Viva. A lembrança afetiva do público emociona a artista.

"É um núcleo fiel que te acompanha há muito tempo, são 47 anos de Globo. Esse público é impressionante, é cativo. É a história da televisão brasileira", celebra. Mesmo estando há tanto tempo diante dos olhos dos espectadores, ela também ressalta que não sente que envelheceu quase nada, pois seu "interior é jovem".

E quanto a se adaptar às novidades da modernidade? A atriz está indo muito bem. Ela recebe elogios dos seguidores nas redes sociais e também lida com quem quer atazanar. "Bloquear robô é quase um prazer sexual", brinca ela em referência a contas falsas criadas na web.

Confira a entrevista exclusiva completa com Elizabeth Savala:

Notícias da TV - Qual balanço você faz da experiência de Quanto Mais Vida, Melhor!, uma novela gravada cheia de protocolos de segurança e como uma obra fechada?

Elizabeth Savala - Eu faço novelas há 47 anos e foi a primeira vez que fiz uma obra fechada. Acho estranho, muito difícil. Primeiro porque fizemos em um momento muito barra pesada [da pandemia]. Parecia que a gente estava indo para a lua, com aqueles aventais. Você não conseguia nem ver os seus colegas da equipe. O elenco ficou cada um em um camarim, você só passava o texto mesmo em cena, todos com máscaras. Foi muito estranho, uma sensação de claustrofobia muito grande. Nunca vivi nada parecido. 

Tivemos coisas positivas. Eu nunca tinha tido um preparador direto conosco. Fizemos preparação com Zoom, o que foi ótimo. Quando a gente fez presencial, o que tínhamos era o elenco com máscara, a uma distância enorme um do outro, gritando para cada um ouvir (risos). Me apaixonei em fazer por internet, porque aí você podia realmente ver o rosto do outro e entender o que a direção queria. Tudo na vida tem um lado positivo e negativo.

Isso alterou muito a resposta do público também?

Sim, corta muito. Para mim é muito complicado fazer e acho que a gente conseguiu um sucesso. Eu continuo usando máscara. Quando vou em um restaurante, tiro a máscara para comer e sinto uma receptividade muito grande. Falam: 'Adoro a Nedda, ela é tão eu, tão mãe, tão inteira, não abre mão de ser mulher'. A Nedda é uma pessoa que tem um coração imenso.

Ela retrata bem a vida das mulheres, pelo menos no Brasil. Aqui o que acontece muito é que quando o homem separa da mulher, não é só dela, ele se separa da família também. E a mulher que vai à luta para sustentar, criar, alimentar. Não sei se isso está passando [para o público] na novela, mas é o que eu gostaria de ter passado.

De onde veio a sua inspiração para compor a Nedda, essa mulher que é batalhadora, que sente tesão, que é uma mãezona?

Tive muitas conversas com o preparador de elenco, e o figurino me ajudou muito. Figurino que de início eu rejeitava. Eu odeio estampado. Odeio! Achava que ela deveria usar mais tons escuros e quando fosse para o motel, aí sim botasse para quebrar.

Mas a direção insistiu muito que ela fosse colorida, meio Sophia Loren [atriz italiana], com o sutiã aparecendo. Isso eu até gostava, mas o estampando me assustava um pouco.

Nelson di rago/tv globo

Elizabeth Savala e Francisco Cuoco em O Astro

Elizabeth Savala e Francisco Cuoco em O Astro

E como ficou quando você viu no ar?

Quero deixar bem claro: eu odeio me ver! (risos). Quando a gente se vê no ar fica muito critico em relação a si mesmo. Só tem coisa negativa, não se vê nada positivo. Se a direção e a preparação dizem que está bom, então está ótimo! Para que vou interferir isso?

Mesmo porque a obra não é minha, é coletiva. É principalmente da direção e do autor, não tem a ver com o ator. Você vai e faz o seu, mas o resultado e a edição não dependem de você. Às vezes cortam uma cena sua, vai para o outro cenário. Então não vejo, não me interessa ver, para não sofrer (risos). Meu problema é fazer, o resultado não é mais meu.

Eu aprendi isso na novela O Astro. Tinha uma cena super emocionante minha com o Tony Ramos. Nela, colocaram uma música que destruiu a cena. Sabe quando destrói? Não que a música não fosse legal, mas o cara da sonorização foi lá e botou. No dia seguinte encontrei com o diretor e falei: 'Caraca, essa cena! Que absurdo! Eles tão emocionados e aquela música destruiu'. Ele falou: 'Savala, acostuma!'.

Você nunca vê suas novelas então?

Eu normalmente assisto quando reprisa. Recentemente passou Êta Mundo Bom! (2016) no Vale a Pena Ver de Novo. Eu tentei ver a novela, porque eu não tinha mais nenhuma ligação emocional com o personagem, não lembrava mais das cenas, já tinha feito várias novelas depois. Aí você é espectador. Tem uma diferença muito grande entre o que você está fazendo naquele momento e ver depois de um tempo. Se estiver bom, ótimo. Se estiver ruim, também. Você já não pode fazer nada. Essa foi a relação agora com Quanto Mais Vida, Melhor!.

Falando de Quanto Mais Vida, Melhor!, o núcleo da Nedda está muito em sintonia. Como vocês criaram essa união nesse momento em que, como você mesma disse, era difícil os atores sequer se encontrarem graças aos protocolos?

Foi tudo na preparação. Ficamos todos absolutamente separados, até o cachorro [no núcleo, há uma cadela chamada Folgada]. A gente só se encontrava mesmo nos ensaios e na hora de gravar. Mesmo assim, tínhamos uma pessoa responsável pelos protocolos que não deixava que chegássemos perto um do outro. Havia um cuidado muito grande.

O que para mim foi fundamental para que esse elo entre os atores surgisse foi a preparação que foi feita desde o Zoom. Acho que eram umas duas, três horas. Tiveram exercícios muito interessantes para criarmos uma ligação entre nós. No Zoom, você consegue olhar no olho da pessoa.

No cenário, cada um tinha seu momento de sol. Todo o elenco ficou muito unido, coeso. Aquele cenário da família gravou muito.

Você também está no ar no Viva com Alma Gêmea. O público comenta muito sobre trabalhos antigos com você? Existe uma nostalgia? 

Acho que as redes sociais trouxeram muito isso. Quando não são aqueles robôs, que aí já bloqueio. Eu amo bloquear robôs! É um prazer quase sexual sair bloqueando robôs (risos). A pessoa vêm na sua página falar da vida dela, ou do que ela acredita, o que acha que é bom. Fala na sua página! Vem falar na minha? Eu hein!

divulgação/tv globo

Elizabeth Savala em Pai Herói

Elizabeth Savala em cena de Pai Herói

Mas as pessoas reais que te seguem ainda têm muito essa nostalgia, certo?

Sim. As pessoas falam de vários trabalhos. Do que está no ar, de Chocolate Com Pimenta, Alma Gêmea, Pai Herói, O Astro. É um núcleo fiel que te acompanha há muito tempo, são 47 anos de Globo. Esse público é impressionante, é cativo. É a história da televisão brasileira.

O fato de você ficar mais velho no ar é engraçado, a minha sensação é de que ainda tenho, sei lá, 15 anos de idade, 20. Eu não envelheci. Mesmo porque, agora, todo dia estamos aprendendo uma coisa boa. Quanto mais velho você fica, mais você não sabe nada. 

Ainda mais com esse retrocesso político que houve no país, você percebe que tem muita coisa a aprender. Eu me sinto uma pessoa jovem, meu interior é de uma jovem.

E nessa trajetória você também já viveu todos os tipos de personagens, entre mocinhas e vilãs.

Já vendi cachorro-quente na rua [em Amor à Vida]. Já fui manicure, bailarina. Essa profissão te dá a chance de ser várias pessoas em uma só encarnação.

renato rocha miranda/tv globo

Kayky Brito e Elizabeth Savala em Chocolate Com Pimenta

Kayky Brito e Elizabeth Savala em Chocolate com Pimenta

O que o público ainda pode esperar da Nedda em Quanto Mais Vida, Melhor!?

O pessoal vai ter que acompanhar a novela! (risos). Eu também não sei nada. Eu gravei muitas e muitas páginas, sei que muita coisa não foi para o ar, algumas que nem sabia, já foram. Tem um grupo do meu fã clube no Instagram que se chama Princesa do Butantã. Elas colocam cenas da novela. Aí acompanho no Instagram, tenho sabido por lá.

Não posso dar spoiler, que agora é a palavra da moda. Sou como o Ariano Suassuna, tem alguns anglicismos que odeio, não são coerentes com o que ouvimos. Por exemplo, acho "fake news" uma grande bobagem que virou moda. A palavra não fala realmente o que ela quer dizer, não tem o peso que do que ela é: se trata de mentira. Não se pode mentir. Acho que algumas palavras distanciam a gente da verdade.

Qual o maior aprendizado que você teve com esse trabalho, também graças ao contexto no qual ele gravado?

Em cada trabalho se aprende algo novo. Hoje as cenas demoram muito mais do que antigamente. Antes se gravava uma média de 40 cenas por dia, cheguei a gravar quase 50 cenas por dia com o Herval Rossano (1935-2007), com o Walter Avancini (1935-2001). Hoje, no início da novela, a gente grava quatro cenas por dia. É como fazer cinema na televisão.

Também não dava para passar texto com os colegas, já que estava cada um em um camarim. Foi como fazer um monólogo no camarim. Exigiu muito de nós. Acho que nessa novela a gente aprendeu que o respeito ao colega é de fundamental importância, para ninguém ficar doente.

A comida vinha toda protegida e esterilizada, então só poderíamos comer durante as gravações. Houve toda uma reeducação, tivemos que se aculturar novamente. Nesse sentido, foi um grande aprendizado mesmo.

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