HENRIQUE ZAMBELLI
ALEXANDRE DANIEL/DIVULGAÇÃO
Henrique Zambelli adaptou várias novelas para o SBT e hoje trabalha com consultas de tarô
Henrique Zambelli aprendeu o ofício de roteirista na raça, tinha de adaptar novelas mexicanas para o SBT assistindo às fitas VHS da trama original. Foi assim que ele estreou com Pérola Negra em 1998. O autor passou uma década se dedicando aos folhetins da emissora de Silvio Santos, mas afirma que deixou o posto porque não tinha mais tesão no que fazia.
Dentro dele, uma inquietação crescia até conseguir se dedicar totalmente ao "chamado espiritual" que recebia desde a infância. Aos 49 anos, Zambelli faz questão de falar que não cospe no prato que comeu, porém, não tem a mínima vontade para voltar a trabalhar com dramaturgia nem em TV.
Ele não largou a comunicação, tem programa em uma rádio e desenvolve trabalhos com previsão em quase todas as redes sociais. Já tem uma geração nova que só o conhece pelo trabalho de consulta e previsões do futuro. Mas afinal o que é ser um tarotista?
"É a pessoa que faz consultas com o tarô. O tarólogo é a pessoa que estuda o tarô, mas não necessariamente dá consultas. Pode-se dizer que todo tarotista é um tarólogo, mas nem todo tarólogo é um tarotista", explica Zambelli.
Para contar a história dele, é necessário rebobinar a fita. Henrique Zambelli está por trás de uma das novelas que o SBT reapresenta à tarde: Marisol (2002). Essa é uma das tramas que ele aparece nos créditos como criador, mas são várias: Pícara Sonhadora (2001), Jamais te Esquecerei (2003), Canavial das Paixões (2003) e Esmeralda (2004), entre outras
arquivo pessoal
Com Rodrigo Lombardi no cenário de Marisol
Dá para dizer que ele caiu de paraquedas na missão de escrever novelas. Fazia faculdade de Rádio e TV em São Paulo quando começou a estagiar na emissora de Silvio Santos. Naquela época, o "patrão" pediu para os telespectadores que tivessem ideias de novelas para escreverem para o SBT. Alguém tinha de ler essas cartas, e Zambelli foi designado para a função.
"Tinha de tudo que você pode imaginar. Desde coisas que a pessoa escreveu a mão até texto de autor que depois foi para a Globo", recorda-se. "Depois, o Silvio Santos comprou várias sinopses, de Cuba, se eu não me engano. Eu tinha que traduzir aquilo do espanhol, fazer sinopse e análise, apontar o que era legal, o que que não era, para ele ver se tinha interesse em comprar."
O radialista pegou gosto pela coisa e fez um teste como roteirista dentro da empresa e passou. Era para Pérola Negra. "A gente tinha que fazer a tradução, mas uma tradução que fosse adaptada. Não podia ser uma tradução literal. Tinha que ser alguém que tivesse conhecimento de roteiro. Se chamasse um tradutor que não tivesse a menor noção de dramaturgia, ficaria uma porcaria", conta.
Deram dez capítulos, ele fez a adaptação e foi efetivado no cargo. "Aí, já assinei a novela inteira, fiz os 200 capítulos com a supervisão do Crayton Zarzy." Em seguida, o roteirista desenvolveu quadros para diferentes programas, que iam de teleteatro ao Sem Controle (2007), que lançou Dani Calabresa.
arquivo pessoal
Zambelli com Dani Calabresa em 2007
O mais curioso é que a reportagem questiona qual a formação dele para tradução do espanhol para o português e a resposta surpreende.
Eu nunca comentei isso com ninguém. Eu nunca estudei espanhol na minha vida. E eu traduzia perfeitamente. Cheguei a corrigir coisas de gente que era formada. Eu acredito que tem alguma coisa espiritual nisso, porque eu tenho uma entidade que me acompanha e que fala só espanhol.
Zambelli lembra da fascinação pelas cartas na infância. Não brincava como outras crianças, ficava tirando e admirando. Ele sentia a necessidade de estudar essa questão espiritual e foi fazendo pequenas imersões a partir de 2004. Faz 15 anos que ele deixou o SBT, mas o trabalho como tarotista surgiu para valer na pandemia da Covid-19.
Em 2019, ele trabalhava em uma editora e já pensava em se dedicar às consultas, mas o pontapé ocorreu em uma live no começo do isolamento social. "Percebi que as pessoas estavam muito desesperadas, precisando de palavras, de conselho, de alento, de colo mesmo. Abri um canal no YouTube e agora tem mais de um ano que eu faço um programa de rádio", comenta.
Ele apresenta o Astral Z na rádio Vibe Mundial FM, toda sexta às 16h. O programa nasceu do seu canal no YouTube. Ele não revela quanto fatura com consultas e tudo mais, mas entrega que consegue ganhar quase o mesmo que ganharia se ainda fosse roteirista no SBT. Da monetização das redes, ele conta que a melhor é a do TikTok, diz que a do YouTube caiu muito.
"Eu acho que tem gente que trabalha lá [no SBT] que não ganha que eu ganhava naquela época. Porque teve uma defasagem muito grande por causa de queda de patrocínio", ele compara antes de continuar:
Mas eu não ganhava tão bem assim na TV como as pessoas pensam. Por exemplo, naquela época tinha um autor que ganhava sete vezes mais do que eu e fazia a mesma coisa, mas porque ele tinha vindo de outra emissora. Quando você entra numa emissora e começa de baixo, não ganha tão bem. Eles vão dando oportunidade para você, então, você não não consegue subir muito o seu salário. É prata da casa.
Zambelli está escrevendo um livro sobre os bastidores do período em que trabalhou na TV e sobre seu processo de transição. Ele afirma que foi libertador seguir sua vocação, que ser roteirista de novela não era o seu sonho. O radialista também esclarece que é do candomblé e que, algumas vezes, trabalha mediunizado, mas não levanta bandeira de nenhuma religião.
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