Atriz da Globo largou drogas, virou evangélica e fez jejum por Gloria Perez

Muito antes de ter problemas com a trama e o elenco de Travessia, Gloria Perez precisou lidar com a insatisfação de uma atriz da novela Carmem (1987), da Manchete (1983-1999). Darlene Glória havia sido viciada em drogas e se tornado evangélica. Ela foi convidada a interpretar o papel de uma mulher que passava por drama parecido e aceitou a proposta, mas se irritou com a demora para a personagem encontrar Jesus na trama. A atriz fez até jejum para que Gloria Perez mexesse na história.

Darlene Glória foi vedete e atriz de cinema nos anos 1960 e 1970. Nessa época, ela caiu no vício em álcool e drogas. Conseguiu se recuperar e se apegou à igreja evangélica Assembleia de Deus, tanto que só aceitava trabalhos como atriz se pudesse abordar a questão de sua conversão religiosa. 

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"Às 20h do dia 26 de agosto de 1974, eu nasci de novo. Não foram os hinos ou as pregações que me converteram. Eu realmente senti a presença de Jesus. Senti que Deus existe e que me ama. Então falei: 'Se você existe mesmo, tenha pena de mim'", disse ela em entrevista à revista Visão, em 1987. 

A atriz até trocou seu nome: deixou de lado Darlene Glória, sua alcunha artística, e passou a usar seu nome de batismo, Helena Brandão. Ela recusou um papel na novela Brega & Chique (1987), da Globo, mas aceitou fazer Carmem, novela de Gloria Perez na Manchete. 

A artista foi contratada para interpretar Verônica, uma cantora decadente da noite carioca que se entregava ao álcool e às drogas. Ao longo da trama, ela se converteria religiosamente, voltava (assim como a atriz) a usar seu nome de batismo, Ester, se tornava missionária e ajudava a protagonista, Carmem (Lucélia Santos), a se reerguer. 

A desavença

"Ela me propôs a volta à carreira artística da qual me afastei há mais de dez anos --fiz apenas um Caso Verdade na Globo, sobre minha vida--, prometendo que escreveria um papel no qual eu pudesse ajudar o ser humano. Seria a continuação do meu trabalho de pregação. Como eu confiava na Gloria, aceitei seu trato verbal: o de que Verônica teria 80 capítulos e já convertida em Ester teria outros 80, pois o total são 160 capítulos", disse Helena, sobre Gloria Perez, em entrevista ao Jornal do Brasil em 1988. 

Só que a personagem não se converteu após 80 capítulos. A demora na mudança de trajetória de Verônica na novela fez com que Darlene tomasse uma medida drástica.

Ela havia criado, com seu marido à época, uma nova igreja, chamada Evangelho da Paz, e passou a jejuar com os fiéis da congregação, com objetivo de chamar a atenção e fazer com que a autora implementasse logo a transformação de sua personagem.

A virada de Verônica/Ester só aconteceu no capítulo 101. A personagem ainda teria uma recaída e beberia uísque no capítulo 105, mas a atriz se recusou a fazer esta cena --em vez disso, gravou uma sequência em que Verônica resistia à tentação e lia um salmo. A atriz deixou claro que ficou chateada com a autora.

A Gloria me roubou 20 capítulos na conversão, não foi correta comigo no nosso trato. E agora a Ester está aparecendo bem menos. No capítulo 101, a autora ficou triste porque na hora da conversão eu fiquei possessa. Mas, como Gloria me devia 20 capítulos, eu assumi a libertação.

Após essa novela, Darlene ainda atuou em Araponga (1990), da Globo. Ela voltou a usar o nome Darlene Glória após uma decepção amorosa --a atriz descobriu que seu então marido havia lhe traído com uma mulher mais nova. Ela se mudou para os Estados Unidos e ficou lá até 1997. Produziu filmes evangélicos e trabalhou como babá e faxineira. 

Darlene voltou ao Brasil e se reconciliou com Gloria Perez. A autora deu a ela o papel de uma ex-vedete no remake de Pecado Capital (1998). A atriz também fez participações em A Diarista (2004), da Globo, e em Mutantes (2009) e Força-Tarefa (2009), da Record. Hoje, ela está com 80 anos e vive em um sítio em Teresópolis, Rio de Janeiro, com a família.