Ailton Graça
Ramón Vasconcelos/TV Globo
Ailton Graça em cena da série Carcereiros, na qual vive Juscelino: vítima da pressão da cadeia
LUCIANO GUARALDO
Publicado em 20/4/2018 - 5h09
Ailton Graça fez sua estreia no cinema no filme Carandiru (2003), no qual vivia o preso Majestade. Na próxima quinta (26), ele retorna ao universo prisional, mas do outro lado das grades, na pele do diretor de segurança Juscelino, um dos agentes da série Carcereiros. As duas experiências deixaram marcas profundas no intérprete de 53 anos. Ele diz que passar pela cadeia (mesmo que apenas na ficção) é uma sensação inexplicável.
Tanto Carandiru quando a primeira temporada de Carcereiros foram gravadas em presídios de verdade: o longa de Hector Babenco (1946-2016) foi rodado no presídio que dá nome ao filme, desativado em 2002; já a série da Globo usou como locação uma penitenciária em construção em Votorantim, no interior de São Paulo. Mesmo fora de uso, os lugares mantêm o clima tenso, que atingiram em cheio a equipe.
Graça também foi afetado pelas conversas promovidas entre a equipe da série e agentes penitenciários de verdade. Os carcereiros também estiveram presentes durante as filmagens, ajudando os atores a agirem da maneira correta em cena.
"Foram encontros muito importantes. Nós tivemos um papo franco com eles, aberto mesmo, no qual podíamos perguntar sobre tudo, questionar qualquer coisa. Foi essencial para eu entender o universo que estamos abordando", explica.
No contato com os carcereiros da vida real, o ator rapidamente percebeu que seu trabalho não seria parecido com nada do que já fez na carreira _que inclui tipos diversos como o boêmio Silas de Avenida Brasil (2012) e a divertida cabeleireira Xana Summer de Império (2014):
"A relação dos agentes com a cadeia é muito diferente da de um comerciante com sua loja, de um funcionário com sua empresa. Lá dentro, o carcereiro vira confidente dos detentos, uma espécie de psicólogo, e precisa lidar com centenas de vidas".
marlene bergamo/sony pictures
Ailton Graça entre as atrizes Aida Lerner (à esq.) e Maria Luísa Mendonça no filme Carandiru
"O agente penitenciário sabe quando alguém na cadeia vai morrer. Como ele lida com isso? E como ele lida com a própria vida? Porque ele chega para o trabalho e não sabe se vai encerrar o dia vivo. E, de alguma forma, ele consegue enfrentar tudo isso. Mas aí ele chega em casa, a mulher pergunta se quer frango ou carne e ele não consegue tomar uma decisão tão simples. É um ambiente que transforma."
A transformação de quem passa pela cadeia atingirá em cheio Juscelino. O chefe dos carcereiros, um homem aparentemente íntegro e que inclusive serve de inspiração para o protagonista Adriano (Rodrigo Lombardi, escalado para o papel às pressas após a morte de Domingos Montagner), mostrará falhas de caráter ao longo da temporada. "Ele vai dar as escorregadas dele", reconhece Graça.
O ator, no entanto, não julga os erros cometidos por Juscelino, justamente por saber que o personagem vive uma realidade que ninguém de fora do ambiente prisional jamais conseguirá compreender de verdade.
"Não é fácil você presenciar uma morte, saber que uma atitude sua pode acabar com a vida de outra pessoa. E talvez provoque a sua morte também, ou da sua família. As questões de sobrevivência desse cara nós nunca vamos entender, só eles mesmos."
Disponibilizada em junho do ano passado para assinantes da Globo Play, Carcereiros chega à TV com três episódios inéditos, que funcionarão como uma ponte para a segunda temporada, atualmente gravada em uma fábrica desativada de São Paulo.
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