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Fim de contrato

Após 35 anos, Globo dispensa José Mayer, acusado de assédio sexual

João Miguel Jr.TV Globo

José Mayer em A Lei do Amor; contrato do ator com a Globo venceu em dezembro e não foi renovado - João Miguel Jr.TV Globo

José Mayer em A Lei do Amor; contrato do ator com a Globo venceu em dezembro e não foi renovado

DANIEL CASTRO e LUCIANO GUARALDO

Publicado em 15/1/2019 - 20h21

O contrato do ator José Mayer com a Globo venceu em dezembro e não foi renovado. Acusado de assediar sexualmente uma figurinista no início de 2017, Mayer estava na geladeira da emissora desde o final da novela A Lei do Amor, na qual interpretou o vilão Tião. É o fim de uma relação iniciada há 35 anos.

Procurada pelo Notícias da TV, a Globo confirmou a informação. "Depois de mais de 35 anos de uma trajetória iniciada na novela 'Guerra dos Sexos', em 1983, com participação em mais de 40 obras, entre novelas, séries, minisséries e especiais, a Globo e o ator José Mayer informam o fim da parceria, de comum acordo, no final de 2018", afirmou a emissora em nota.

Mayer foi denunciado pela assistente de figurino Susllem Tonani, que relatou em março de 2017 que ele teria a assediado durante as gravações de A Lei do Amor. No texto, escrito em primeira pessoa, a profissional de 28 anos disse que o assédio começou oito meses antes, com frases do tipo "Como você é bonita" e "Como você se veste bem", que logo evoluíram para "Fico olhando a sua bundinha e imaginando seu peitinho".

Em fevereiro de 2017, dentro de um camarim dos Estúdios Globo e na frente de duas camareiras, Mayer teria colocado a mão esquerda na genitália de Susllem, que decidiu denunciar a agressão à emissora. Com o fim de seu contrato para trabalhar na produção de A Lei do Amor, Susllem levou seu drama à imprensa.

Sensibilizadas pela situação que a figurinista enfrentou, funcionárias e atrizes da Globo fizeram um protesto na emissora, vestindo uma camiseta com a frase "Mexeu com uma, mexeu com todas", e com a hashtag #chegadeassédio. Atrizes como Alice Wegmann, Bruna Linzmeyer, Mariana Xavier e Drica Moraes se posicionaram contra o machismo de Mayer em seus perfis nas redes sociais.

Depois de muita pressão, Mayer admitiu que errou em carta que foi lida no Jornal Hoje de 4 de abril daquele ano. Ele pediu desculpas por sua atitude e afirmou que pretendia mudar sua forma de pensar e agir.

"Eu errei. Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava. A atitude correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora. Mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas", disse no início do texto.

O ator ainda declarou que recebeu educação machista e que aprendeu muito mais sobre respeito após a denúncia vir à tona do que ao longo de seus então 67 anos --hoje, ele tem 69. "A única coisa que posso pedir a Susllem, às minhas colegas e a toda a sociedade é o entendimento deste meu movimento de mudança", admitiu.

Apesar da coragem em abrir o jogo sobre o ocorrido, Susllem não deu continuidade à denúncia contra o ator na Justiça. Ela alegou no ano passado que foi "extremamente inibida por um delegado" logo após sua denúncia.

Sem perdão
A atitude de José Mayer não foi perdoada pela Globo. A emissora proibiu seus autores e diretores de escalarem o ator para qualquer produção. Aguinaldo Silva tentou emplacá-lo em O Sétimo Guardião duas vezes, sem sucesso. Na primeira, queria dar a ele o papel de Olavo, que ficou com Tony Ramos. Depois, tentou escalá-lo para viver o mendigo Feliciano, que ficou com (Leopoldo Pacheco).

Na última segunda (14), Silva voltou a defender José Mayer. Publicou o seguinte Twitter:

Fama de pegador
Ao longo da carreira, Mayer se destacou na Globo por interpretar personagens "pegadores", que se envolviam com várias mulheres --às vezes, com mais de uma ao mesmo tempo. Foi assim, por exemplo, em Viver a Vida (2009), na qual seu personagem, Marcos, era casado com Teresa (Lilia Cabral), mas se apaixonava por Helena (Taís Araújo).

Também foi disputado por várias mulheres em Laços de Família (2000), em que deu vida a Pedro. Na juventude, foi apaixonado pela prima Helena (Vera Fischer), mas acabou se casando com Silvia (Eliete Cigarini), se envolvia com a veterinária Cíntia (Helena Ranaldi) e era alvo das investidas da lolita Íris (Deborah Secco).

Mayer só foi quebrar a fama de machão pegador em Império (2014), novela de Aguinaldo Silva em que interpretou o homossexual Cláudio Bolgari, que tinha um relacionamento com o jovem Leonardo (Klebber Toledo). Os dois até se beijaram em cena, apesar de Silva ter dito que suas tramas jamais mostrariam um carinho entre homens.

José Mayer também teve papéis de destaque em novelas como a primeira versão de Guerra dos Sexos (1983), A Gata Comeu (1985), Tieta (1989), Pátria Minha (1994), Senhora do Destino (2004) e Fina Estampa (2011), além de estrelar a minissérie Presença de Anita (2001) ao lado de Mel Lisboa.

Seu trabalho mais recente na TV foi o vilão Tião Bezerra de A Lei do Amor (2016), novela em que foi acusado de assediar Susllem. No cinema, ele atuou em A Dama do Cine Shanghai (1987), Bufo & Spallanzani (2001) e Divã (2009).

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