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ISSO A GLOBO NÃO MOSTRA

No Big Brother gringo, racismo de confinados rende demissão e ostracismo

Reprodução/TV Globo

Paula von Sperling tem disparado comentários racistas no BBB19, mas a Globo não os exibe na TV - Reprodução/TV Globo

Paula von Sperling tem disparado comentários racistas no BBB19, mas a Globo não os exibe na TV

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 10/2/2019 - 6h06

Nas edições do Big Brother realizadas nos Estados Unidos e na Inglaterra, demonstrações de racismo renderam punições sérias aos acusados, que foram demitidos de seus empregos e punidos pelo público, além de caírem no ostracismo após o reality. É uma situação bem diferente da que ocorre atualmente no Big Brother Brasil 19, da Globo.

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Por aqui, Paula von Sperling tem disparado comentários de teor racista no confinamento, mas até agora não foi punida. Pelo contrário: a advogada aparece como favorita ao prêmio de R$ 1,5 milhão nas enquetes do Notícias da TV e do UOL.

Boa parte da popularidade de Paula com o público brasileiro se deve ao fato de a Globo não mostrar nenhuma das falas controversas da loira na edição que vai ao ar na TV aberta. Apenas quem acompanha o reality no pay-per-view ou no Globoplay se depara com os comentários da mineira.

Na 15ª temporada do Big Brother norte-americano, realizada em 2013 e batizada de "o verão da polêmica" pela imprensa dos EUA, a rede CBS até tentou esconder o racismo dos participantes GinaMarie Zimmerman, Aaryn Gries e Spencer Clawson. Mas as reclamações do público que acompanhava a transmissão 24 horas chegaram a tal ponto que a emissora cedeu e transformou o preconceito dos confinados em um dos principais temas do reality.

Aaryn, a mais criticada, chegou a declarar que uma das participantes, a asiática Helen Kim, deveria "calar a boca e ir fazer arroz". Também usou expressões de teor homofóbico e disparou sobre a negra Candice Stewart: "Cuidado com o que falam no escuro, vocês podem nem perceber que a vadia está do seu lado".

fotos: divulgação/cbs

Aaryn Gries, GinaMarie Zimmerman e Spencer Clawson, o trio racista do Big Brother nos EUA

GinaMarie e Clawson também foram criticados por comentários preconceituosos e, apesar de chegarem à final do programa, foram derrotados pelo professor gay Andy Herren, um dos principais alvos dos "vilões" da temporada.

Assim que saíram da casa, os três descobriram que tinham sido demitidos de seus empregos: Aaryn era modelo e foi dispensada por sua agência; Clawson era condutor de trem e foi afastado da empresa; já GinaMarie trabalhava como preparadora de meninas para concursos de beleza e talentos. "Eu queria ser um exemplo positivo para as crianças, e agora não vou poder vê-las mais", desabafou.

Na Inglaterra, os comentários racistas no confinamento chamaram ainda mais a atenção, pois ocorreram durante o Celebrity Big Brother, uma versão do reality show que conta apenas com famosos --seria algo similar à brasileira Casa dos Artistas ou uma Fazenda que não tem animais ou roça.

Na quinta edição, exibida em 2007, a atriz indiana Shilpa Shetty virou alvo de três confinadas: a ex-miss Danielle Lloyd, a cantora pop Jo O'Meara e a personalidade de mídia Jade Goody, que já tinha participado do Big Brother com anônimos.

Shilpa passou a ser atacada pelo trio no nono dia do confinamento, quando ela cozinhou um frango considerado cru pelas colegas. "É por isso que eles [indianos] são tão magros, eles ficam doentes o tempo todo", disparou Jo. Danielle se recusou a comer o prato: "Eu não sei por onde as mãos dela já passaram".

Cinco dias depois, Jade explodiu com Shilpa por causa de um cubo de caldo de galinha. "Você não é a porra de uma princesinha aqui dentro, deveria passar um dia na favela", gritou a ex-Big Brother, que despertou risos em Jo e Danielle.

divulgação/colors

Jade Goody reencontrou Shilpa Shetty ao participar do Bigg Boss, versão indiana do reality

A indiana reclamou que era vítima de racismo, e o público a defendeu: ela foi eleita a vencedora da edição, com 63% dos votos em uma disputa que tinha seis pessoas (entre elas, Danielle, que recebeu apenas 3%).

Após o fim do reality, nenhuma das três vilãs conseguiu se recuperar da crise na imagem. Danielle só foi escalada para participar de reality shows de segunda linha, como o Total Wipeout, uma gincana estilo Olimpíadas do Faustão, e o Splash, a versão britânica do Saltibum.

Sem conseguir contratos para novos shows, Jo foi morar em uma fazenda e criar cavalos. Ela tentou voltar à mídia em 2014 com uma reunião da banda S Club 7, da qual ela fez parte entre 1999 e 2003. Atualmente, ela e outros dois integrantes do grupo pop se apresentam como S Club 3 em casas noturnas pouco expressivas.

Já Jade Goody, considerada a mais racista das três, pagou a língua em 2008 ao fechar um acordo para participar do Bigg Boss, a versão indiana do Big Brother. Ironicamente, a apresentadora do reality era a própria Shilpa Shetty. Na ocasião, ela alegou que tinha feito as pazes com sua vítima e deu um abraço nela antes de entrar na casa. No ano seguinte, Jade morreu por causa de um câncer de colo do útero.

Até o Channel 4, canal que exibia o Celebrity Big Brother no Reino Unido, foi punido por dar espaço para demonstrações de racismo. Depois de mais de 44 mil reclamações serem feitas ao Ofcom (escritório que regula a radiodifusão no país), sete patrocinadores desistiram de apoiar a atração.

A repercussão foi tão ruim que o canal cancelou a produção do reality no ano seguinte --o Celebrity Big Brother só voltou em 2009. 

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