Diretor da Globo durante mais de 30 anos, Octávio Florisbal morre aos 84 anos

Diretor-geral da Globo durante dez anos, Octávio Florisbal morreu aos 84 anos na noite de terça (13) em São Paulo. A causa do óbito ainda não foi divulgada. O profissional entrou na líder de audiência em 1982, como diretor de Marketing, e emendou cargos importantes até assumir a direção geral, em 2002. No fim de 2012, deixou o posto e passou a integrar o Conselho de Administração do Grupo Globo, no qual ficou até 2017.

Florisbal foi um dos executivos mais importantes da história da Globo e um de seus mais longevos diretores-gerais. Também foi muito importante para o mercado publicitário nacional. Durante a sua gestão, a Globo registrou queda de audiência diante da concorrência da TV paga, mas elevou seu faturamento ano após ano. Verdadeiro gentleman, tratava a todos com respeito e voz suave.

Desde que deixou a Globo, se dedicava apenas ao Instituto Helena Florisbal, que promove a assistência social gratuita a crianças em vulnerabilidade social, em especial as que têm deficiências físicas e mentais. O instituto é uma homenagem a sua mulher, que faleceu em um acidente doméstico em 2009. O velório do publicitário acontecerá no cemitério Morumby, na zona sul de São Paulo, entre às 14h e 16h desta quarta (14).

A Globo lamentou a morte. "Perdemos mais do que um grande profissional, cuja sólida e bonita trajetória se encontrou com a da Globo. Perdemos um amigo. Um parceiro incansável também na missão de construir um mercado forte, ético e vigoroso", consta em nota assinada pela própria emissora.

"Um exemplo de liderança, que nos ajudou a fazer da Globo o que ela é hoje, com o seu talento, dedicação e energia. Octávio faz parte da história da comunicação brasileira, da nossa empresa e das nossas vidas", completa o comunicado oficial.

Além de diretor, Florisbal foi superintendente comercial da emissora na década de 1990. Ele recebeu o convite para o cargo pessoalmente dos acionistas das Organizações Globo, durante um período crítico para o Brasil --que enfrentava uma intensa instabilidade econômica.

O comunicador ainda trabalhou em grandes agências publicitárias e fundou o Grupo de Mídia de São Paulo, entidade que contribuiu significativamente para o desenvolvimento das pesquisas de audiência e de mídia no país.

Ele foi homenageado pessoalmente por Roberto Irineu Marinho, ex-presidente do conselho da Globo, quando deixou a empresa. O filho de Roberto Marinho (1904-2003) destacou que, graças a Florisbal, "o mercado publicitário brasileiro se profissionalizou, e a TV Globo consolidou sua importância na sociedade brasileira, estabelecendo uma relação mais próxima com seu público e seus parceiros".

Quem foi Octávio Florisbal?

Filho do avicultor Elegardo Florisbal e da dona de casa Josephina Frioli Florisbal, Octávio Frioli Florisbal começou a carreira em 1961, como auxiliar administrativo em uma das principais agências de publicidade da época, a estadunidense J. Walter Thompson. A filial brasileira era presidida por seu tio, Renato Castelo Branco (1914-1995), também vice-presidente da corporação americana.

Florisbal se formou em Comunicação e Marketing na Escola Superior de Propaganda (ESPM), em São Paulo, onde nasceu --ele havia passado parte da adolescência no Rio de Janeiro para cursar o Colégio Naval, mas voltou à cidade natal para focar na carreira no Marketing.

Fez cursos de especialização em Nova York, com ênfase em planejamento de mídia, e conquistou posições nas grandes agências de São Paulo no decorrer das décadas de 1960 e 1970.

Quando era diretor de Planejamento de Mídia da Norton Publicidade, conheceu a publicitária Helena de Almeida, que viria a se tornar sua mulher. Segundo pessoas próximas, Florisbal nunca superou a morte da esposa e sofreu depressão por causa disso.

Em 1972, foi contratado pela Lintas Internacional, onde teve seu primeiro contato com a TV. A agência detinha a conta da Gessy-Lever, uma das principais promotoras de novelas e shows da época. No mesmo período, fundou o Grupo Mídia de São Paulo.

Entrada na Globo

Após dez anos na Lintas, o profissional foi convidado para estruturar um departamento de Marketing na Globo. O trabalho era duro: ele precisava criar um canal de comunicação permanente entre a área Comercial e as áreas de Programação, Criação, Produção e Jornalismo da emissora. Outra meta era a de uma relação mais técnica entre a Globo, as agências e os anunciantes.

Florisbal ainda estruturou, por conta própria, um modelo de comercialização dos espaços publicitários bem mais profissional. O êxito da Central Globo de Marketing fez ele ser convidado para o cargo de superintendente. Em 2002, substituiu a executiva Marluce Dias, então afastada da direção geral da emissora por motivos de saúde. Foi efetivado em 2004.

Em entrevista ao Memória Globo, ele ressaltou que geriu a emissora de forma com que ela tivesse "um planejamento estratégico, objetivos estratégicos, em que as diversas áreas, seus diretores e as equipes participam efetivamente desse processo, são permanentemente comunicados, estimulados, para alcançar e superar os resultados", declarou.

Para ele, esse processo fazia a diferença, ainda mais numa das "maiores redes de televisão do mundo". "Esses talentos são motivados em busca de um destino comum, e é isso que faz o sucesso da TV Globo. Cada vez mais, ela deve consolidar esse conceito de uma gestão participativa, bastante democrática", declarou.

Durante o período no cargo, ele recebeu o título de Personalidade do Ano, em 2008, concedido pela Associação Brasileira de Propaganda (ABP). Segundo a Associação, Florisbal foi destaque "por sua dedicação, consistente inovação e competência com que trabalha para o desenvolvimento e defesa dos interesses de todo o trade de comunicação, à frente do maior e mais importante conglomerado de comunicação do país".

Florisbal saiu da direção geral em 2012 --foi substituído por Carlos Henrique Schroder.