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MEDO

Corte de sexo em Verdades Secretas 2 é moralismo e caretice, aponta especialista

FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Agatha Moreira é beijada e acariciada por outros dois atores em cena de Verdades Secretas 2

Agatha Moreira é beijada e acariciada em Verdades Secretas 2; cenas quentes não foram para a TV

ARTHUR PAZIN

arthurpazin@noticiasdatv.com

Publicado em 7/11/2022 - 6h25

Verdades Secretas 2 ganhou uma versão mais light ao ser exibida na Globo desde o início de outubro. Um dos diferenciais da novela do Globoplay na TV aberta é a eliminação de cenas de sexo, estratégia para não chocar o público. Segundo o produtor cultural Heitor Werneck, a situação mostra como a visão do sexo ainda carrega moralismo, além de ser uma "caretice".

Há mais de três décadas como consultor de cenas de sexo na teledramaturgia, Werneck afirma, em entrevista ao Notícias da TV, que o maior acerto de Verdades Secretas 2 é tentar mostrar o sexo como uma atividade diária, um ato comum. "Retratar o sexo se torna necessário. Seu acerto foi ter dado pinceladas sobre o universo sexual, mesmo que das formas padrões. É uma grande iniciativa da emissora", analisa.

O profissional avalia, no entanto, que a Globo errou ao deixar de fora frases afirmativas sobre sexualidade, bissexualidade e diversidade de corpos e gêneros. "Eles poderiam ter colocado o sexo de um forma mais criativa, em lugares novos, na cozinha, em elevador, escada de prédio. O sexo poderia ter sido mais explorado, na cachoeira, sexo oral dentro do carro", opina.

De acordo com ele, a trama de Walcyr Carrasco pecou em não estimular, por exemplo, sexo na terceira idade e entre pessoas trans, além da diversidade negra, oriental e sexo com deficiente. A exploração do sexo anal e o tão falado beijo grego entre Giotto (Johnny Massaro) e Matheus (Bruno Montaleone) também poderiam ter sido aproveitados de uma forma melhor para o produtor cultural.

Falar de ânus é um grande tabu. Fazer sexo anal é ainda um pecado religioso. Homens não exploram a próstata. Falar de sexo oral ainda é uma prática para homossexuais e pecadores. Estimular o conhecimento de ânus ou explorar o sexo oral é tabu. Me entristece muito não explicar nada. O contexto histórico do beijo grego é lindo. E a exploração do corpo é uma forma de estimular sensações.
Giotto e Matheus em beijo grego

Matheus e Giotto em beijo grego

Sexo como aberração

Com nudez sem pudor e cenas de sexo mais realistas, Verdades Secretas 2 foi ao ar no Globoplay com recomendação para maiores de 18 anos. A mesma classificação indicativa foi mantida para o folhetim na Globo, mesmo com os cortes de cenas pesadas, principalmente as relacionadas a sexo.

Segundo Werneck, a eliminação de cenas de sexo da TV aberta acontece pela visão moralista que a televisão, de maneira geral, tem sobre o tema. "Na TV, só pessoas de mau caráter fazem sexo. A minha impressão é que a televisão acredita que as pessoas devem nascer de proveta e ou inseminação artificial, de tanto medo de se mostrar pênis ou vaginas, e que as orientações sexuais são aberrações e ferem a heteronormatividade", ironiza.

De acordo com o especialista, pensamentos como esses mostram ao público o sexo como uma "caretice e aberração" e interferem também na visão que se tem das atuações de quem reproduz o sexo na ficção. "O público em geral costuma rotular atores que se permitem dramatizar ou viver personagens erotizados".

As cores do sexo

Para o profissional, um dos segredos na hora de se fazer uma cena de sexo na teledramaturgia está na exploração do corpo com luzes e sensualidade. Nesse aspecto, Werneck avalia que Verdades Secretas 2 usou as cores clássicas.

"Luz vermelha lembrando que casas de prostituição usam cores e néon vermelhas. Móveis minimalistas, decorações clássicas. A cena erótica atual usa muito néon e luzes ultravioletas para destacar lingerie e assessórios que brilham no escuro, inclusive brinquedos e preservativos que refletem ou acendem em luz negra", explica.

Ao longo de sua trajetória, o produtor já trabalhou, na ficção, com consultorias de sexo para as séries Mandrake (2005-2007) e PSI (2014-2019), na HBO, e Bom Dia, Verônica (2020), na Netflix. Em novelas, Werneck contribuiu em tramas como A Viagem (1994), sendo o responsável por dar maiores detalhes a cenas de Alexandre (Guilherme Fontes) em meio a práticas sexuais no plano espiritual.

Ele também produziu figurinos fetichistas para Vamp (1991) e outros folhetins como Olho no Olho (1993), Cara e Coroa (1995) e a minissérie Hilda Furacão (1998), além de produzir também para peças de teatro e exposições.

Há 16 anos, o profissional é responsável pela realização do Projeto Luxúria, evento que uma vez por mês reúne o público para uma festa com roupas que representem um fetiche sexual ou comportamental.

ARQUIVO PESSOAL

O produtor cultural Heitor Werneck

O produtor cultural Heitor Werneck


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