CRISE
Reprodução/YouTube-AESP
José Roberto Maluf é o presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura
Publicado em 16/8/2024 - 16h40
Atualizado em 16/8/2024 - 19h03
A TV Cultura foi cenário de momentos tensos nesta sexta-feira (16). Colaboradores que têm contratos como PJ (Pessoa Jurídica) ficaram sem receber o pagamento do mês, que deveria ter caído na quinta (15). Sem dinheiro, não tiveram como almoçar nem voltar para casa, fazendo o departamento de Recursos Humanos liberar o restaurante da empresa e pagar pelo transporte público.
O Sindicato dos Jornalistas e o Sindicato dos Radialistas marcaram assembleias para a próxima segunda-feira (19) para discutir o problema. Ao Notícias da TV, a emissora confirma que os pagamentos não ocorreram por causa de um problema bancário, mas nega que os funcionários tenham ficado sem comer ou sem transporte.
O atraso foi noticiado primeiramente pelo site NaTelinha e confirmado pela reportagem com funcionários, com o Sindicato e com a própria assessoria da emissora. O dinheiro deveria ter caído na conta de PJs na quinta, o que não ocorreu. Os funcionários só começaram a receber seus pagamentos na tarde desta sexta-feira.
De acordo com a assessoria da TV Cultura, o atraso foi motivado por questões com o Banco do Brasil, não por falta de dinheiro. "Ontem, houve um problema de ordem bancária que acarretou no atraso. Mas a situação já foi contornada, e os colaboradores estão recebendo seus pagamentos", informou.
Sem dinheiro para almoçar no restaurante da emissora, alguns colaboradores ameaçaram abandonar o expediente no meio. Outros alegaram que não tinham sequer como voltar para casa. Assim, o RH tomou medidas emergenciais para resolver o problema.
O Notícias da TV recebeu prints de mensagens de um grupo de WhatsApp dos funcionários em que era informado que o restaurante seria liberado para quem estava com o pagamento atrasado. "É só apresentar o nome", dizia o texto. Também foi instruído que quem não tivesse condições de pagar o transporte público procurasse o RH para receber o dinheiro do ônibus ou trem.
A assessoria da TV Cultura negou a situação. "Essa informação é absolutamente inverídica", afirmou em nota. Por telefone, explicou que a emissora já oferece um fretado para seus colaboradores --que pode ser usado tanto por PJs quanto por celetistas. O transporte em questão deixa os funcionários na estação do Metrô.
A reportagem apurou ainda que essa não é a primeira vez que o pagamento das Pessoas Jurídicas atrasa. O mesmo ocorreu nos últimos dois meses. A TV Cultura, no entanto, alegou aos colaboradores que não houve atraso, já que os pagamentos teriam sido realizados no dia 15, mas depois do expediente bancário --o que fez com que o dinheiro só caísse nas contas no dia 16.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, Thiago Tanji, afirmou ao Notícias da TV que a organização tem acompanhado a situação da TV Cultura de perto. A emissora, que é parcialmente financiada pelo Governo do Estado, pode ser alvo de uma guerra fria política.
"Na verdade, a questão é mais complexa. A Fundação Padre Anchieta é uma entidade pública, mas de direito privado. Uma coisa esquisita. Ela recebe orçamento do Governo de São Paulo, mas também tem orçamento próprio, com anúncios, parcerias", conta o presidente do sindicato.
"Desde a década de 1990, o Governo de São Paulo não atualiza o orçamento de salários da TV. Então, hoje, você tem ali pelo menos metade, tanto da Redação quanto de outros departamentos, que recebe essa fonte do governo, mas tem outra metade, que é chamada de Fonte 4, de recursos próprios da Fundação, e aí não tem o contrato de trabalho. São os PJs", explica.
"O Sindicato batalha muito para que a gente tenha todos os funcionários contratados, regularizados. Mas, a Fundação alega que há um impedimento por parte do Governo de São Paulo para atualizar esse orçamento."
"Agora, nos últimos tempos, a gente tem percebido ali que, por conta de conjuntura política, desde que o governo do Tarcísio [de Freitas] foi eleito, há uma pressão sobre a TV Cultura. O próprio governador disse que tem a política de enxugar fundações. A gente avalia que há um risco de desmonte na comunicação do Estado, como foi na época do governo [Jair] Bolsonaro com a EBC [Empresa Brasil de Comunicação, responsável pela TV Brasil]."
"Nas assembleias que a gente vem realizando semanal ou quinzenalmente na porta da empresa, a gente fala que há um contingenciamento de recursos. Claro, isso pode ter um viés político ou não, mas há um contingenciamento de recursos. E a gente teme demissões, teme sucateamento", aponta Tanji.
"O que aconteceu agora foi um episódio mais grave, que é o atraso de salários desses PJs. A gente soube agora que alguns pagamentos já estão sendo feitos, mas isso liga um alerta muito importante, porque de fato está tendo esse problema. Hoje, o clima na Redação foi muito ruim, de muita apreensão", conta o presidente, que também recebeu a informação de liberação do restaurante para os colaboradores que não tinham o que comer.
"Na próxima segunda, a gente vai fazer uma assembleia para discutir isso e ver quais passos a gente vai tomar, tanto diante da Fundação Padre Anchieta quanto diante do governo", finaliza Thiago Tanji.
A assessoria da TV Cultura informou que não tem nenhum processo de desligamento de funcionários em curso.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.