INTRIGAS PALACIANAS
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Silvio de Abreu trabalhou durante quatro décadas na Globo e foi chefe da Dramaturgia até 2020
O autor Silvio de Abreu não apenas abriu o baú de recordações no podcast Vem Pod Chegar, de José Armando Vanucci e Jorge Bin. Ele também revelou um boicote interno que sofreu durante a exibição da novela As Filhas da Mãe (2001). No bate-papo, o novelista afirmou que a direção queria transformar a comédia em uma trama dramática. Como não concordou, sua história foi encurtada, e ele passou quatro anos na geladeira da Globo. Só voltou ao ar com Belíssima (2006).
O novelista não queria mais escrever folhetins depois de problemas que teve nos bastidores de Torre de Babel (1998), mas foi convencido pela alta cúpula a fazer a trama cômica que trazia Claudia Raia no papel da transexual Ramona. Marluce Dias da Silva, então diretora-geral da emissora, havia contratado vários humoristas, como Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães, mas eles só fariam novelas escritas por Abreu.
Só que, quando a Globo escolheu Mário Lúcio Vaz (1933-2019) como seu diretor artístico, começaram os problemas. "Ele era contra essa novela, porque não era ele que tinha colocado. Aí, ela foi boicotada na abertura, foi boicotada no lançamento, foi boicotada durante a produção, teve problema o tempo todo", entregou o veterano de 81 anos.
Para piorar o quadro, em um determinado momento, Vaz pediu que a comédia virasse drama, para ter mais audiência. Silvio de Abreu comprou uma briga feia com o chefe para manter sua visão artística.
"Eu falei: 'Eu não vou fazer isso'. A novela tinha 29 pontos de audiência, o que era muito pouco [para a época]. Hoje em dia, soltaria o rojão. Eu disse: 'Eu não vou mudar a novela porque eu tenho 29% [do público] que está gostando da novela. Se eu mudar, eu vou perder esses 29'", recordou-se o autor.
Vaz, então, decidiu tirar As Filhas da Mãe do ar. "Aí a novela foi encurtada, eu saí e fiquei quatro anos na geladeira. Só fui fazer Belíssima quatro anos depois", lembrou Abreu.
Ele, que tinha contrato de sete anos com a emissora, disse para Vaz: "Você está querendo que eu peça demissão, não vou pedir. Você quer me mandar embora, manda, mas você vai pagar tudo o que está no contrato", contou o ex-chefão da emissora, aos risos.
Nas palavras do próprio autor, As Filhas da Mãe era uma novela estranha. Além de muita comédia, um rap fazia a ligação de uma cena para outra. Silvio de Abreu escrevia as letras, e um músico as transformava em rimas.
Todo mundo que ia fazer a novela ficou muito encantado com a novidade, tanto que o elenco é maravilhoso. Mas aí começou a ter aquele boicote interno, e a coisa não caminha. Quando você vai fazer uma coisa e o seu patrão não quer que dê certo, não vai dar certo.
Como responsável pela história, Abreu ficou desestimulado. "Porque você faz uma coisa e não dá certo, faz outra e não dá certo. Aí você vai murchando, entendeu? Você precisa ter esse retorno do público, da empresa."
As Filhas da Mãe tinha direção-geral de Jorge Fernando (1955-2019). Fernanda Montenegro, Raul Cortez (1932-2006) e Tony Ramos encabeçavam o elenco, que contava também com Andrea Beltrão, Bete Coelho, Alexandre Borges, Reynaldo Gianecchini e Thiago Lacerda, entre outros.
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