Sikêra Jr. quebra silêncio e liga saída da RedeTV! a Jair Bolsonaro: 'Nunca escondi'

Após três anos e três meses, Sikêra Jr. terminou de forma tumultuada sua trajetória na RedeTV!. Seu contrato, que ia até 2027, foi rescindido por insatisfação com seu desempenho na audiência. A saída de Jair Bolsonaro da presidência, segundo o apresentador, também pesou. "Acho que teve a ver, sim", disse o âncora de 55 anos ao Notícias da TV.

Sucesso nas redes sociais e em programas policiais locais, Sikêra foi contratado em 2019 na onda bolsonarista em que surfou a RedeTV!. Estreou com bons números, chegou a ganhar da Band em um dia em São Paulo, e tinha índices de audiência respeitáveis em capitais como Brasília (DF) e Recife (PE).

Mas a pandemia e o apoio ao ex-presidente Bolsonaro, além de falas homofóbicas que lhe causaram processos na Justiça, desgastaram sua imagem. O programa saiu do ar marcando 0,5 ponto, bem abaixo do que já havia dado em outros tempos.

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Mesmo com a eleição de Lula para um terceiro mandato a partir de janeiro, Sikêra confiava no seu status de estrela para continuar no comando do programa, o que não aconteceu. Uma notificação judicial foi apresentada para a rescisão contratual. A relação virou briga na Justiça. "Entramos na Justiça pedindo uma prestação de contas do programa e vamos entrar com ação pedindo o pagamento da multa de R$ 17 milhões", diz Rannieri Alves, advogado do apresentador. 

Sikêra revela como foi receber a notícia da rescisão do contrato e quais são seus planos fora da RedeTV!. Ele não pretende sair de Manaus (AM) e da TV A Crítica, canal local que gerava o Alerta Nacional e onde ele está desde 2019. A empresa manauara, inclusive, tem se expandido pelo país. "Não saio de Manaus por nada", sentencia. 

Nem Silvio Santos e seu poder de sedução foi capaz de fazer o apresentador mudar sua ideia. Sikêra afirma que foi procurado em 2021 para assumir um horário no SBT. "Agradeci o interesse, mas neguei", conta.

Os processos que levou por conta de falas preconceituosas, ele diz, fizeram-no sentir o peso de estar em rede nacional: "Eu estava acostumado a falar em programa local, dizer muitas barbaridades e não ter consequência nenhuma", confessa.

Confira a entrevista na íntegra:

Notícias da TV - Sikêra, você estava para voltar ao seu programa quando a RedeTV! rescindiu o seu contrato que ia até 2027. Qual é a sua versão da história? O que aconteceu?

Sikêra Jr. - É a história que todo mundo sabe, que você deve saber. Eu estava afastado por causa do meu problema de saúde e, antes, já tinha uma história de que queriam rescindir o contrato que eu tinha até 2027. Mas eles mandaram uma notificação judicial quando estava prestes a voltar, e acabou nossa relação ali. Quero ver tudo certinho. Mas, para mim, foi histórico. Foi bem incrível ter um programa gerado de Manaus para todo o Brasil. 

Você vai entrar na Justiça para cobrar a multa de R$ 17 milhões?

(Nota da redação: nesse momento, Sikêra prefere dar a palavra para Rannieri Alves, seu advogado, que estava acompanhava a entrevista por telefone)

Rannieri Alves - Nós entramos com um pedido de prestação de contas do programa na Justiça, e isso está rolando. Até semana que vem, nós vamos, sim, entrar com o pedido de pagamento da multa, de R$ 17 milhões. 

A impressão que eu tenho nessa história é que os donos da RedeTV!, Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho, poderiam ter resolvido a questão com uma conversa direta com você. Você é próximo a eles?

Sikêra Jr. - Não sou amigo deles. Confesso que o Marcelo eu vi apenas uma vez na vida, quando assinei o contrato com a RedeTV!. O Amilcare eu vi mais vezes, mas foram poucas. Em 2019, quando me contrataram, o Amilcare foi a Manaus e conversou com a família Calderaro [dona da TV A Crítica], depois de tentar me convencer a mudar para São Paulo. Não tenho muita relação com eles.

Você tem alguma vaidade ou desejo de continuar a ter um programa em uma grande rede nos moldes que você teve na RedeTV!?

Eu já tive essa vaidade, hoje não tenho mais vaidade. Em 2021, o Silvio Santos me convidou para ir para o SBT. Na verdade, foi o Jassa que me ligou e disse que o Silvio tinha vontade de falar comigo. Ele fez uma intermediação, me ligou, e o Silvio me perguntou como estava meu contrato, que era bem amarrado, ofereceu me colocar em uma boa casa em São Paulo.

Mas eu agradeci o interesse e neguei. Eu estou com 55 anos, tenho uma casa confortável em Manaus, uma Fazenda que eu vou relaxar. Como vou trocar isso pela vaidade de estar em São Paulo? De estar em rede? Só por causa disso? Não faz sentido. Não quero isso. Minha esposa chegou a falar isso no início, mas conversei com ela que era uma bobagem. Quero descansar.

Seu futuro já está definido então?

Eu estou bem na TV A Crítica. Nós temos as redes sociais hoje em dia, e a TV A Crítica está crescendo. Temos canais em Mato Grosso do Sul e em outras localidades. Nós estamos fazendo testes e estreamos, na última sexta, a TV A Crítica Brasília. E queremos chegar em mais partes do Brasil. Eu sou muito grato à família Calderaro.

Nesses três anos à frente do Alerta Nacional, você se impressionou com a repercussão de algo ou se arrependeu de alguma coisa?

Foi uma experiência diferente. Ter um programa em rede nacional foi uma responsabilidade muito grande. Eu não sabia que era assim. Eu estava acostumado a falar em programa local, dizer muitas barbaridades e não ter consequência nenhuma. Quando falava alguma coisa na RedeTV!, tinha uma repercussão muito grande e consequências grandes também. Foi muito mais do que eu sonhei ou pensei para a carreira

Você acha que sua saída tem a ver com a derrota na eleição de Jair Bolsonaro? 

Acho que sim, com certeza teve a ver um pouco com isso. Eu nunca escondi a minha posição política, e continuarei a tê-la. Mas eu desejo todo o sucesso do mundo para a RedeTV!, trabalhei com muita gente boa lá. Ela tem potencial de ser uma emissora gigante. Pode ser gigante mesmo. Só falta mais amor e carinho com ela e com quem trabalha por lá.