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ARTE DO ARTISTA

Sem dinheiro, TV Brasil tira do ar programa que ator pagava para fazer

Divulgação/TV Brasil

O ator e diretor Aderbal Freire-Filho no Arte do Artista: ele pagava até a água dos convidados - Divulgação/TV Brasil

O ator e diretor Aderbal Freire-Filho no Arte do Artista: ele pagava até a água dos convidados

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 18/5/2017 - 6h30
Atualizado em 18/5/2017 - 16h37

No ar desde 2012, o Arte do Artista teve o seu fim anunciado nesta semana. Segundo a TV Brasil, emissora mantida pelo governo federal, a crise financeira que atravessa a forçou a cancelar a atração. A justificativa, porém, não colou com o produtor artístico Sérgio Cardia, que afirma que o programa tinha custo baixo e que o apresentador Aderbal Freire-Filho chegava a colocar dinheiro do próprio bolso para realizá-lo.

"Era um programa extremamente barato para a emissora. O contrato de prestação de serviço era de R$ 68 mil [por mês] para quatro programas e, com esse valor, a gente ainda bancava uma equipe de seis pessoas", conta Cardia.

"O Aderbal trabalhava essencialmente de graça e, muitas vezes, pagava do próprio bolso táxi, água, refrigerante, o que fosse... Até os custos com passagens aéreas para os convidados que não eram do Rio de Janeiro a gente assumia", continua.

Na atração semanal, Freire-Filho, conhecido ator e diretor de teatro, entrevistava personalidades de diversas artes, como atores, diretores, dançarinos e músicos. O Arte do Artista era feito em um regime misto de produção: a TV Brasil cedia estúdios, técnicos e câmeras, enquanto a empresa do diretor arcava com as outras despesas, incluindo salários da equipe, transporte, passagens e hospedagem dos convidados.

Em dezembro de 2015, o contrato já havia sido renegociado para menos: passou de R$ 91.300,20 para R$ 68.040,83. Assim, cada programa de 30 minutos tinha um custo de R$ 17.010,20, valor baixíssimo para quem faz televisão.

A economia se dava até na cenografia da atração: "O Aderbal levou elementos das peças que ele dirigiu para fazer o cenário do programa, não teve custo nenhum para o canal", entrega o produtor.

Cardia desconfia que o fim se deu por motivações políticas: declaradamente de esquerda, Aderbal Freire-Filho não estaria muito bem cotado pelos executivos que assumiram a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), estatal responsável pela TV Brasil, após Michel Temer substituir Dilma Rousseff como presidente do Brasil. 

"E o Aderbal tinha o cuidado de nunca, em nenhum programa, tomar uma posição no ar. Nós fizemos cinco anos de Arte do Artista sem nenhuma referência política. Inclusive, recebemos artistas com orientações de esquerda e de direita, mas não falávamos disso. O programa servia para discutir a arte", defende.

Segundo Cardia, Freire-Filho foi avisado do fim da atração pelo diretor-presidente da TV Brasil, Laerte Rímoli. "Ele ligou para o Aderbal e, gentilmente, disse que precisava encerrar o programa por causa de grana. Eu não acredito nessa falta de dinheiro porque recentemente deram um aumento de 30% para toda a diretoria, que, diga-se de passagem, já ganhava muito bem", critica.

Curiosamente, o fim do Arte do Artista foi anunciado no mesmo dia em que o programa exibiu uma entrevista com a jornalista Leda Nagle, que saiu da TV Brasil, de forma tumultuada, no fim do ano passado. A direção da emissora acusou a então apresentadora do Sem Censura de bater a porta e se recusar a negociar um novo contrato.

"Nós ficamos três meses negociando e tivemos o mesmo resultado da Leda. Melhor para ela que pôde bater porta, então", aponta Cardia.

Cardia também critica os diretores da TV Brasil por não reconhecerem o real valor de seus talentos. "No Sem Censura, trocaram a Leda Nagle pela Vera Barroso, que é uma amiga minha e a quem eu respeito muito. Mas ela não tem o peso que a Leda tinha e nunca vai ser a entrevistadora que a Leda é. Agora, estão fazendo o mesmo com o Aderbal, um dos maiores diretores de teatro do Brasil. Eles não têm noção do que é ter um artista de renome, só querem alguém que trabalhe por menos", alfineta.

Ao contrário do que aconteceu com o Sem Censura, porém, não há a possibilidade de o Arte do Artista continuar no ar na TV Brasil com um novo apresentador. "O formato é nosso, podemos levá-lo conosco para outras emissoras. Vamos negociar com o Arte1, com o Canal Brasil, ver se alguém tem interesse. Porque o programa é muito querido pela classe artística, tem muitos atores que não dão entrevista para ninguém e topam participar do nosso por causa do Aderbal", aponta Cardia.

Procurada, a TV Brasil comunicou que o Arte do Artista chegou ao fim por causa de um corte de 46% no orçamento. "A EBC tem buscado soluções para manter os programas de linha de sua programação e lamenta estar, neste momento, sem condições financeiras para arcar com os custos da atração", informou a emissora.

O Arte do Artista tem cinco episódios inéditos, que serão exibidos até 20 de junho.

Após a conclusão deste texto, o Notícias da TV foi procurado pela assessoria de imprensa da EBC, que mandou a seguinte nota:

"A Empresa Brasil de Comunicação esclarece que o contrato da atual temporada do Arte do Artista para a produção de 52 programas custa R$ 816.490,03 por ano à empresa, pagos em 12 parcelas de R$ 68.040,84."

"Do total anual, R$ 715.980,11 são destinados ao pagamento de salário a Aderbal Freire-Filho e a outras cinco pessoas por ele contratadas, que trabalham no programa. Os dados estão em planilha anexa à carta-proposta enviada à EBC pelo ator e diretor. Por essa planilha, Aderbal Freire-Filho ganha salário de R$ 22.996,54 por mês."

"Em dezembro de 2015, Aderbal Freire-Filho enviou à EBC carta-proposta em que, diante do novo valor do contrato, a produção do Arte do Artista iria cortar gastos com passagens aéreas, hospedagens, alimentação, traslados, contratação de equipe técnica, aluguel de equipamentos, entre outros. Aliás, no contrato do ano anterior, que custou R$ 1.164.301,39 à EBC, todos esses gastos eram de responsabilidade de Aderbal Freire-Filho."

"É importante ressaltar ainda que o Arte do Artista não é produzido integralmente pela equipe de Aderbal Freire-Filho. A EBC também fornece vasta estrutura para o programa, com a cessão de três funcionários, estúdio, cenário permanente montado, diretor de TV, operadores de câmera, iluminador, assistentes, além de operadores de VT, de caracteres, de teleprompter, de áudio, de vídeo."

"A estimativa é que o custo interno do programa para a EBC chegue a R$ 1,1 milhão (cerca de R$ 98 mil por mês) com a edição, filmagem, produção e estúdios. Assim, o custo total do Arte do Artista para a EBC fica em torno de R$ 2 milhões anuais _a soma do valor do contrato com Aderbal mais os gastos da empresa com o programa. Vale lembrar também que o nome do programa Arte do Artista é registrado pela EBC no INPI."

"A EBC lamenta que o corte de 46% no orçamento da empresa, em 2017, tenha impedido a renovação do contrato do programa Arte do Artista, apresentado pelo renomado diretor de teatro Aderbal Freire-Filho."

"Por fim, os salários dos diretores da EBC não foram reajustados, ao contrário do que informou à reportagem o produtor Sergio Cardia."

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