CORONAVÍRUS
Reprodução/SBT
O apresentador Marcão do Povo no Primeiro Impacto desta quarta, em que defendeu confinamento para coronavírus
REDAÇÃO
Publicado em 8/4/2020 - 16h06
Atualizado em 8/4/2020 - 16h17
O SBT decidiu suspender o apresentador Marcão do Povo por 15 dias, a partir desta quinta (9), por causa da sugestão no telejornal Primeiro Impacto da adoção de campos de concentração para doentes da Covid-19. O pedido, feito no ar ao presidente Jair Bolsonaro, chocou telespectadores e executivos do SBT. De inspiração nazista, a ideia do âncora seria confinar todos os partadores do vírus em um único lugar no país.
A decisão de suspender o apresentador foi tomada por Silvio Santos, dono do SBT, e pelas filhas Daniela Beyruti e Renata Abravanel, ligadas às gestões dos negócios da família. Em comunicado interno na tarde desta quarta, o SBT disse que as falas de Marcão do Povo não refletem a opinião da emissora.
Confira a nota:
"Ontem, durante a exibição do programa jornalístico Primeiro Impacto, o apresentador Marcos Paulo Ribeiro de Morais, popularmente conhecido como Marcão do Povo, se utilizou do espaço em nosso jornal para expressar uma opinião de cunho pessoal que dizia respeito ao tema tão delicado que o mundo e nosso país atravessam: a Covid-19.
Gostaríamos de esclarecer ao público, às autoridades, àqueles que estão na linha de frente ao combate incessante da pandemia e, em especial, às pessoas vitimadas, que de forma alguma a opinião expressada pelo apresentador reflete o pensamento, a atitude e o respeito que a emissora tem pelo momento atual.
Temos total consciência da relevância do assunto e temos, a todo momento, nos preocupado em informar e esclarecer de forma isenta e imparcial os acontecimentos e as providências que as autoridades e todos brasileiros estão adotando para vencermos essa enorme crise de saúde já presente, e a econômica que se avizinha.
Desta forma, sinceramente lamentamos que o apresentador tenha usado nossa plataforma de modo que contraria tão profundamente os nossos princípios. A todos que de alguma forma possam ter se ofendido ou mesmo se indignado com as opiniões pessoais do apresentador, nossas mais sinceras desculpas.
Nossos profissionais de Jornalismo seguirão na dura missão de bem informar, sempre preocupados com o bem estar de todos os brasileiros."
Marcão do Povo começou seu discurso no Primeiro Impacto dizendo que, na China, pessoas com sintomas de Covid-19 teriam sido levadas para a cidade de Wuhan, epicentro da doença. Lá, foram montados hospitais, onde muitas pessoas infectadas foram tratadas.
"Atenção, presidente! Não seria interessante montar um local, com o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, para onde todas as pessoas que tivessem os sintomas, que tivessem o coronavírus, fossem levadas e bem tratadas, ao invés de espalhar [a doença] da maneira que tá sendo, todos os lugares, um gasto excessivo, as cidades paradas. Não seria interessante um local só pra cuidar dessas pessoas?", começou a sugerir.
"Não seria interessante pegar Exército, Aeronáutica, Marinha e montar um campo de concentração de cuidados, com os equipamentos mais sofisticados, os melhores profissionais, e colocar lá essas pessoas com problemas, com sintomas, cuidar dessas pessoas com carinho?", disse Marcão.
Ele passou então a atacar os governadores --muitos têm ido contra o presidente Bolsonaro e decretado quarentena e isolamento social em seus Estados.
"Aí acaba também, presidente, com esse negócio de espalhar dinheiro para os Estados. Tem governadores de Estado que não teve nada, nenhum caso lá, nem sequer foi comprovado, a pessoa nem tá internada, e o Estado decretou calamidade. O Tocantins é um caso. Não teve uma morte. Mas o Estado tem necessidade de decretar calamidade? Não tem necessidade disso. É despesa pro bolso do cidadão, pro bolso do trabalhador que já tá ferrado", criticou.
"Então, presidente, é uma dica. Dá um decreto aí, põe o Exército nas ruas, a Aeronáutica. E aí, com o governador que descumprir, faz igual tá fazendo com o povo: cana! Monta um campo, um local adequado, e trata essas pessoas lá. O comércio abre, todo mundo vai trabalhar normalmente. Quem apresentou sintomas, leva pra lá. Mantém a pessoa em isolamento, bem cuidada, bem tratada. Pra não ter esse negócio de espalhar dinheiro e todo mundo tá vivendo dessa forma", disse ele.
No final de seu discurso, o apresentador ressaltou que essa é apenas uma ideia que lhe ocorreu. "A população pode concordar ou não, o presidente pode acatar ou não. É uma ideia que eu tô dando. Eu acho que vai voltar tudo ao normal, as pessoas vão voltar a trabalhar e a vida vai seguir. E as pessoas [infectadas serão] bem cuidadas nesse local. É uma ideia e fica a dica", ele finalizou.
Confira o discurso do apresentador na íntegra:
Nas redes sociais, internautas começaram a se mobilizar com indignação em relação ao discurso de Marcão do Povo e às palavras que ele usou. O conceito de campo de concentração remete à Segunda Guerra Mundial, quando nazistas usaram grandes espaços para aprisionar e promover o extermínio de judeus.
No Holocausto, como é chamado o genocídio de judeus, estima-se que de 5 milhões a 6 milhões deles tenham morrido entre os anos da guerra, de 1939 a 1945. Mais de 2 milhões de mortes ocorreram em campos de concentração, por fome, doenças e asfixia em câmaras de gás.
O comentário do jornalista fica ainda mais grave pelo fato de Silvio Santos, dono do SBT, ser judeu. Entre esta quarta (8) e o próximo dia 16, é comemorada a Páscoa Judaica, chamada de Pessach. A data celebra a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, no ano de 1446 antes de Cristo.
Nos próximos 15 dias, Marcão do Povo será substituído no Primeiro Impacto por Márcia Dantas.
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