AUTOR DE MANIA DE VOCÊ
RAFAELA CASSIANO/TV GLOBO
João Emanuel Carneiro no lançamento de Todas as Flores, em 2022; ele escreve nova novela
Avenida Brasil (2012) elevou a carreira de João Emanuel Carneiro para um outro patamar, mas não o livrou de sentir uma cobrança terrível sempre que escreve uma nova novela --especialmente se ela for destinada para a faixa das nove. "É um inferno", resumiu o autor, usando a expressão predileta de suas vilãs.
O trabalho, afinal, não é para qualquer um. "Tem dia que você acha que vai dar certo, tem dia que acorda em crise. É um julgamento diário por seis meses. Pouca gente consegue sair inteira. É um teste violento", arrematou ele, em entrevista à coluna Play, do jornal O Globo.
"Você aprende muito a apanhar, né? Todos os dias. E você pode ver dez críticas positivas, mas, quando tem uma negativa, só se lembra da negativa. Quando surge uma crítica ruim, tem sempre alguém para ligar e dizer: “Que injustiça aquilo. Você viu?", destacou.
Já é a oitava novela dele como titular na emissora, entre sucessos e fracassos. A mais recente, Todas as Flores (2022), foi lançada como um projeto do Globoplay. A novela teve seus episódios divulgados pouco a pouco pela plataforma e, só depois de um bom tempo, foi exibida na TV aberta. Mas os níveis de pressão nesse tipo de obra são bem menores de acordo com o autor. E, por isso, ele voltaria a trabalhar com streaming.
"Todas as Flores foi uma obra semiaberta. Me agrada que a obra aberta da TV fique cada vez mais fechada. A ideia de que, após o lançamento, a empresa vai intervir para tornar a história mais bem-sucedida nunca deu certo. Há novelas com muitos personagens, e o autor vai vendo no ar o que deu certo. A minha é mais concentrada. Se deu errado, deu errado. Se deu certo, deu certo. Não tem mil apostas", definiu.
Por outro lado, o ator admite que a pressão de trabalhar com a TV aberta é viciante, da mesma forma que o vício em apostar tudo num jogo de pôquer. Sua nova obra para a faixa das nove já tem data de estreia.
Mania de Você passará a ir ao ar em 9 de setembro, com uma trama centrada nas relações intensas entre Luma (Agatha Moreira), Viola (Gabz), Mavi (Chay Suede) e Rudá (Nicolas Prattes). O primeiro trailer foi exibido nesta segunda (5), num dos intervalos comerciais de Renascer.
"Esta novela trata de obsessões amorosas. Colorida, passada num resort, sobre amor e poder. Talvez capte este espírito do tempo, das pessoas inquietas no amor. Me interessa muito contar a história do jovem. A vida dele pode virar qualquer coisa. É uma página em branco ainda. E eu estou numa fase bem jovem", explicou o autor de 54 anos.
A trama segue a história de Viola, que se muda com o namorado, Mavi, para Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Ele consegue um emprego na área da tecnologia, e ela o acompanha nessa nova fase. Lá, ela conhece Luma, de quem se torna uma grande amiga. Estudante de gastronomia, a riquinha ensina seu ofício à recém-chegada, que acaba descobrindo um dom.
Mas a história tem uma reviravolta quando a personagem de Gabz conhece Rudá, o namorado de Luma. Os dois se apaixonam instantaneamente, para a fúria de Luma e de Mavi. Traídos, eles dedicam suas vidas a se vingar do casal protagonista. Luma ainda guardará mais rancor pelo fato de Viola prosperar na carreira gastronômica, enquanto o restaurante criado pela vilã vai de mal a pior.
"É uma história bem ousada. São personagens interessantes, ao mesmo tempo contraditórios e multifacetados. O vilão Mavi faz coisas atrozes, mas é um amor. Tem várias coisas provocativas para o telespectador. Por exemplo, os vilões Luma e Mavi são traídos pelos mocinhos. Geralmente é o contrário", definiu o autor.
Os pais biológicos de Mavi também terão parte importante na trama. Molina (Rodrigo Lombardi) e Mércia (Adriana Esteves) terão abandonado o menino quando pequeno e, por isso, não o reconhecerão quando ele voltar para Angra dos Reis. O rapaz sequer terá tempo de conviver com o pai: Molina será assassinado logo no início da história, dando espaço para o recurso "quem matou?"
Mércia, por sua vez, atazanará a vida dos mocinhos até o final. "Mércia vai ser o contrário da Carminha. É submissa e maluca, autodestrutiva", explicou o autor, que criou o casal como um contraponto para Carminha e Tufão, de Avenida Brasil --Molina seria vivido inicialmente por Murilo Benício. "Acho que funciona do mesmo jeito sem o Murilo. Escrevi pensando nele, mas as mudanças de elenco acontecem, ainda mais hoje, com questões de contratos."
Outro núcleo da novela é o de Mariana Santos, cuja personagem vive uma relação abusiva com o marido. Existe a possibilidade de ela se envolver com uma vizinha, Diana (Vanessa Bueno), mas o autor ainda não chegou a uma conclusão. Casado com o ator Carmo Dalla Vecchia, ele não tem experiência no desenvolvimento de personagem LGBTQIA+.
"Walcyr [Carrasco] fez mais pela causa. Fiz pouco. Não sei [o motivo]... Talvez pudor, censura interna. Está em tempo de eu fazer mais para corrigir esse erro. O Brasil é um país muito conservador. Você invade a casa das pessoas com a novela. Não é uma coisa que elas põem no streaming, que escolhem assistir. Elas estão assistindo. Você precisa ter um filtro grande."
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