MAICON MENDES
REPRODUÇÃO/JOVEM PAN
Maicon Mendes nos estúdios da Jovem Pan: jornalista acusado de ser 'esquerdista' é demitido
A Jovem Pan dispensou na última segunda-feira (31) o repórter Maicon Mendes, que estava no canal de notícias desde julho do ano passado. Sua saída aconteceu como parte da reformulação promovida após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) e a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidente. Junto com ele, deixaram a TV nomes como Augusto Nunes, Guilherme Fiuza e Caio Coppola.
No caso de Mendes, também houve cunho político em sua demissão. Comentaristas de extrema direita que seguem contratados já haviam pedido a saída de Mendes. A informação da demissão foi confirmada ao Notícias da TV pela Jovem Pan, que alegou não ter mais detalhes sobre o motivo.
A reportagem apurou que Mendes vinha sendo cobrado por comentaristas --no ar e nos bastidores-- por dar ênfase a pautas de tidas como "de esquerda" em suas reportagens exibidas em telejornais. Alguns deles chegaram a subir tags para apoiadores nas redes sociais contra o jornalista, que reportou o fato para suas chefias mas foi orientado a ignorar o assunto.
O caso mais grave aconteceu em agosto. Maicon Mendes noticiou que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nunes Marques revogou decisão que proibia o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, aliado de Jair Bolsonaro, de se candidatar nas eleições. Mendes deixou claro que Nunes e Bolsonaro tinham relação próxima, já que foi o atual presidente que o indicou ao STF.
O comentarista Alfredo Scaff acusou Mendes de ser parcial dentro de um jornal na Jovem Pan. No mesmo dia, Rodrigo Constantino apoiou a manifestação de Scaff e criticou o jornalista. Antes, ambos já haviam criticado o colega por levar pesquisas eleitorais a sério.
No último fim de semana, segundo apuração da reportagem, Maicon Mendes se recusou a dizer na Redação da Jovem Pan em quem ele havia votado. Um dos curiosos foi Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, atual comentarista da Jovem Pan e eleito deputado federal.
Maicon dizia que não tinha por que dizer em quem havia votado. Alguns comentaristas apostaram que ele votou em Lula, mas Mendes não quis contar. Ele trabalhou normalmente na cobertura do segundo turno.
Além de tirar comentaristas de extrema direita que lhe deram problemas, a Jovem Pan também está de olho em jornalistas que não mostraram apoio ao canal quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) obrigou a TV deixar de dizer que Lula era "ex-presidiário". Quem não apoiou a empresa publicamente, ficou queimado. Era o caso de Mendes, que não se manifestou sobre.
Além das demissões de Nunes e Caio Coppola, mais reformulações são esperadas para os próximos dias. Guilherme Fiuza também não volta para a emissora. Ana Paula Henkel deverá ser desligada nas próximas horas.
Guga Noblat igualmente foi alvo de corte. "Acabo de ser comunicado que estou fora da Jovem Pan por não ter defendido a rádio na história da censura. Estava desde a semana passada afastado, e agora é definitivo", escreveu ele, em seu perfil oficial no Twitter.
Alguns repórteres também estão de saída. A ideia da Jovem Pan é tentar mudar a imagem que construiu ao longo dos últimos anos, mas sem perder a essência opinativa com seus comentaristas. Hoje, o canal é vice-líder entre os noticiosos, atrás apenas da GloboNews e na frente da CNN Brasil.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.