Indicado ao Emmy, desenho do Menino Maluquinho faz equipe sentir pressão

Baseado no personagem clássico de Ziraldo, O Menino Maluquinho virou uma animação na Netflix que vai representar o Brasil no Emmy Kids, braço infantil do Oscar da televisão. Mas tirar o garoto que usa uma panela na cabeça do papel e levá-lo para o streaming não foi tarefa fácil: parte da equipe ficou travada com a pressão de não fazer jus à criação do cartunista.

"Muita gente ficou com medo, porque é intimidante você trabalhar com algo que é tão famoso e tão importante para o Brasil. Foi até interessante ver o quanto as pessoas temiam aquilo", admite Carina Schulze, sócia-fundadora da Chatrone e produtora da animação, em conversa com o Notícias da TV.

A solução para superar esse bloqueio? Muita conversa e a promessa de que Ziraldo acompanharia boa parte do processo. "A gente teve que fazer um trabalho para todo mundo se soltar, falando: 'Não, é hora de experimentar, o pai do Menino Maluquinho vai estar junto, vai aprovar, a gente não vai fazer nada que não deixe ele feliz'. Só aí a galera foi se soltando."

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Carina Schulze foi responsável por levar O Menino Maluquinho para a Netflix (Reprodução/Instagram)

O cartunista, de fato, participou o máximo possível dos bastidores de O Menino Maluquinho. "Ele entrou na sala de roteiro para aprovar os personagens, as descrições, os visuais, os cenários, toda a bíblia da animação. Leu alguns roteiros, viu uns episódios mais para a frente. Só não acompanhou 100% de tudo porque ele já está com 90 anos, tem que cuidar da saúde, não pôde estar com a gente o tempo todo, mas teve bastante comunicação", diz.

Ziraldo também recebeu a equipe em sua casa, mostrou o estúdio onde desenvolveu o personagem, contou histórias, explicou seu processo de criação... Enfim, foi um ponto essencial para que o processo desse certo. "Ele explicou tudo que o Menino Maluquinho significa para ele, e ficou claro que é quase um estilo de vida, uma lição de como viver", observa Carina.

O Maluquinho foi feito na Ditadura Militar [1964-1985], então tem uma filosofia de liberdade, de educar a criança deixando ela ser quem é e dar asas à imaginação. Porque assim a gente vai ter adultos pensantes e que podem transformar o mundo amanhã.

Mas o medo de frustrar o pai do Menino Maluquinho não foi o único problema que a equipe enfrentou nos bastidores. A animação foi totalmente escrita e produzida durante a pandemia, com cada um trabalhando de sua casa. "Do primeiro ao último dia, tudo foi feito virtualmente. Teve gente que eu só fui conhecer na festa de encerramento, eu nem sabia como era o rosto (risos)."

Agora, Carina e seus colegas aguardam ansiosamente por 20 de novembro, quando o Emmy Kids será entregue. Essa é a terceira indicação da produtora, já lembrada por Gaby Estrella (2013-2015) e Juacas (2017-2019). "Eu não esperava! Para ser sincera, nem lembrava de que a Netflix tinha inscrito o Maluquinho. No dia do anúncio, me desejaram parabéns e eu fiquei sem entender (risos). Mas estou feliz por todas as pessoas que trabalharam, porque dava para ver que elas realmente amavam o que estavam fazendo."

"Se a gente vai vencer ou não, não sei. Eu falo que só a indicação já é um reconhecimento, mas é claro que trazer a estatueta para o Brasil seria legal, especialmente porque a animação atravessa um momento complicado, não tem tantos projetos, os canais estão um pouco mais conservadores na hora de encomendar desenhos. E é um projeto tão importante para o país, tem um pouquinho de cada um ali. Eu adoraria vencer, mas já estou emocionada só de ter sido lembrada. Eu sei que é clichê, mas é verdade (risos)!", brinca.

Menino Maluquinho vai ter mais episódios?

Uma indicação ao Emmy certamente pesa a favor na decisão de encomendar mais episódios, certo? Não necessariamente. Carina assegura que ainda não teve nenhum retorno da Netflix sobre novas temporadas da animação.

"A gente quer muito e está conversando com eles, mas não tenho nenhuma informação. E não estou falando isso porque eles não deixam, eu realmente não sei de nada (risos). As possibilidades estão em aberto, pode ter mais, pode não ter, talvez façam outra coisa que não seja uma série de animação. Acho que nem eles sabem ainda, estão discutindo internamente qual será o futuro das animações, dos infantis, do Maluquinho... Mas a gente torce muito!"