Maratona política
Reprodução/TV Globo
William Bonner conversa com Alexandre Garcia e Heraldo Pereira antes da votação
DANIEL CASTRO
Publicado em 17/4/2016 - 23h46
Atualizado em 18/4/2016 - 12h28
A transmissão da sessão da Câmara que aprovou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) teve um grande vencedor na TV: o SBT. Criticada por ignorar o grande fato político do ano, a rede de Silvio Santos cresceu no Ibope e tomou a vice-liderança que a Record detém aos domingos. Não deu um único flash da votação, mas, com o Programa Silvio Santos, chegou a picos de 15 pontos, quase o triplo da Record, que, desacostumada a grandes coberturas políticas, teve que lutar pela terceira posição com a Band. Perdidos, seus âncoras em Brasília foram salvos pelo WhatsApp.
O impeachment só rendeu muita audiência no final, quando foi aprovado. A Globo registrou 22 pontos na Grande São Paulo, quatro a mais do que o normal, com a transmissão da votação, das 17h46 às 23h50. Às 23h10, quando o impeachment já estava aprovado, a Globo saltou para 33 pontos. O pico, de 37,5, foi às 23h11. Na média consolidada, a cobertura do impeachment, durante 8 horas e 12 minutos, rendeu 19,8 pontos à Globo.
A Record foi a rede que mais perdeu. Quando o plantão do jornalismo entrou no ar, às 14h, tinha 12 pontos no Ibope. Em minutos, caiu para 8. Permitiu que o programa de Eliana desse picos de 14 pontos e fosse vice pela primeira vez em meses.
Segundo dados consolidados do Ibope, divulgados nesta segunda-feira (19), o SBT o conquistou 10,8 pontos de média com o Eliana, contra 6,9 da Record. O Programa Silvio Santos rendeu 12,4, contra 7,8 da Record.
Globo calada
A Globo derrubou sua programação vespertina e noturna e operou no automático, com imagens da TV Câmara _a TV pública até mudou seu logotipo do lado direito para o esquerdo, porque a rede líder o tapava com a tarja "Restam votar...". Durante mais de quatro horas, nenhum profissional da emissora deu um único pio no ar. William Bonner se calou às 17h46, quando começou a votação, e só surgiu, em off, às 22h11, para informar que faltavam 35 votos para o impeachment ser aprovado. A Globo deixou Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tocar o show no lugar do Domingão do Faustão e do Fantástico, diferentemente da Record, em que Adriana Araújo o tempo todo repetia informações, como o voto que determinado deputado tinha acabado de proferir.
O silêncio acabou sendo providencial. Livrou Bonner do constrangimento de ter que dizer alguma coisa ao final do voto do deputado Cabo Daciolo, do PT do B do Rio de Janeiro, que jogou praga divina na emissora, profetizando sua queda. "Vocês podem ser grandes, mas perante Deus são pequeninos", disse o parlamentar, que confundiu o público ao votar no "sim".
Bonner começou a trabalhar cedo. Às 9h21, já estava no ar, de gravata azul, com os primeiros flashes. Não havia quase nada a informar, apenas que Dilma Rousseff deu suas pedaladas (numa bicicleta, não no Orçamento). Após o final do reality show SuperStar, comandou um giro de repórteres e de comentários com Alexandre Garcia e Heraldo Pereira até o início da votação, quando se calou. Hostilizados nas últimas manifestações, os repórteres apareceram escondidos em sacadas de prédios.
O apresentador do Jornal Nacional se esforçou em demonstrar neutralidade. E foi didático, explicando os trâmites da votação e do processo de impeachment. Com Garcia e Pereira, explicou o que diferenciava o impeachment de Dilma do de Fernando Collor de Mello: 24 anos atrás, não havia redes sociais nem manifestações favoráveis ao presidente (Collor estava sozinho). Alexandre Garcia, que se emocionou com o impeachment de Collor, disse perceber uma maior politização hoje. Titio Bonner atropelou os colegas várias vezes, os interrompendo, e, em momento de descontração, revelou que é mais velho do que Heraldo Pereira...
Reprodução/record
Christina Lemos e Eduardo Ribeiro na Câmara dos Deputados: salvos pelo WhattsApp
Tumulto ao vivo na Band
No periódo pré-votação, a Band se destacou. No estúdio, Ricardo Boechat e Boris Casoy comentavam os acontecimentos e os discutiam com convidados. A emissora exibiu ao vivo o tumulto que marcou o início da sessão, com deputados quase saindo na porrada, imagem que a Record recuperaria e reprisaria mais tarde. Um repórter da Band resumiu o clima de "final de Copa do Mundo".
A Record escalou Eduardo Ribeiro e Christina Lemos para cobrir a votação diretamente da Câmara. Mas esqueceu de prepará-los. Os jornalistas informaram que a votação começaria logo após o discursos de todos os líderes de partidos. Erraram. Ainda havia mais dois líderes a discursar, o das minorias e o do governo. Eduardo Ribeiro chutou que o líder da maioria também discursaria. Christina foi salva por um produtor, que passou a informação correta pelo WhatsApp, "essa maravilha da tecnologia", como ela mesma disse.
Durante a votação, a Record insistiu na narração de Adriana Araújo e Reinaldo Gottino. A RedeTV! também começou com narração, mas desistiu com o passar das horas. A TV Gazeta optou por uma transmissão alternativa. Exibia imagens da TV Câmara, aparentemente do sinal de internet, sem som, enquanto no estúdio em São Paulo se debatia a situação política do país.
O resultado da votação foi apresentado com solenidade por todas as redes. Não teve gritos nem choros, como há 24 anos.
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