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BOMBA NAS REDES

Hilda Furacão fisga 'adolescentes em crise' nas redes sociais e cresce no Globoplay

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Ana Paula Arósio caracterizada como Hilda Furacão; ela está deitada numa cama

Ana Paula Arósio como Hilda Furacão na minissérie homônima de 1998; trama faz sucesso nas redes

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 23/3/2024 - 21h00

Quase 26 após sua estreia, Hilda Furacão (1998) voltou para a boca do povo --e cresceu 347% em visualizações no Globoplay em um período de quatro meses. Surpreendentemente, a maioria dos espectadores nessa onda de sucesso recente sequer era nascida durante a exibição original da minissérie de Gloria Perez. Ainda assim, eles estão empolgados o suficiente para fazer desenhos dos protagonistas ou editar as cenas favoritas em vídeos que publicam nas redes sociais. O que explica esse fenômeno?

O fascínio dos adolescentes pelo "amor proibido", somado à universalidade de alguns temas e à carreira ascendente de Rodrigo Santoro --intérprete do protagonista, o religioso Malthus-- em Hollywood são alguns dos fatores que devem ser levados em conta nessa equação, de acordo com especialistas ouvidos pelo Notícias da TV.

Pedro Curi, coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e especialista em cultura de fã, cita o chamado "dark romance" --um subgênero do romantismo que aborda temas sensíveis, como o vício em drogas, incesto, estupro e condutas sexuais moralmente reprováveis.

Embora a minissérie não chegue a algo tão pesado, a obsessão da prostituta Hilda (Ana Paula Arósio) para corromper Malthus pode ser enquadrada numa definição mais ampla desse tipo de obra. Ainda mais porque a obra é ambientada na década de 1950, quando questões referentes à sexualidade eram bem mais reprimidas do que nos dias atuais. 

"Hilda Furacão tem uma questão ligada à sensualidade, e as cenas de sexo acabam fazendo sucesso em diferentes países, inclusive nos que têm um conteúdo audiovisual mais conservador", afirma o profissional. 

reprodução/tv globo

Malthus (Rodrigo Santoro) e Hilda (Ana Paula Arósio) em Hilda Furacão (1998)

Malthus e Hilda em cena da minissérie

O estudioso ainda lembra que, na mesma época em que Hilda Furacão foi lançada, a Globo produziu a série A Vida Como Ela É... (1996), que também trazia o erotismo e as relações interpessoais como pontos centrais. 

"Hoje, a gente vê isso voltando muito forte na literatura, né? Os livros mais vendidos na Amazon estão relacionados a esse gênero, assim como os filmes mais vistos da Netflix. Hilda Furacão traz um pouco disso", completa ele.

Já Koca Machado, publicitária e também professora da ESPM, destaca que a minissérie se encontra com os desafios e os anseios da adolescência. "Tudo é muito intenso, as nossas dores são multidimensionais, e percebemos que 'final feliz' não é mandatório como nos contos de fada. O dark romance tem essas camadas, sempre com emoção, e que acabam sendo referências comportamentais de que devemos --ou não-- fazer."

A psicóloga e sexóloga Lara Coutinho destaca que o consumo deste tipo de conteúdo é algo inerente da idade. "Com novos interesses surgindo, é comum adolescentes se interessarem pelo proibido ou politicamente incorreto. Afinal, o proibido gera fascínio", arremata ela. 

Por outro lado, é importante que os responsáveis fiquem atentos ao que é consumido pelos adolescentes. "Exatamente pelo fato de a adolescência ser marcada por um forte impulso de autorrealização, o consumo de conteúdos violentos ou de questões graves de saúde mental podem gerar consequências negativas", completa.

Sucesso internacional

Esse tipo de obra não é feita apenas no Brasil, assim como o sucesso de Hilda Furacão não é exclusividade nacional. As artes de fãs que mais têm feito sucesso nas redes sociais são criação de um rapaz estrangeiro, identificado apenas como Yura. O perfil dele no X (antigo Twitter) exibe as bandeiras da Coreia do Sul e dos Estados Unidos. O jovem não respondeu as tentativas de contato da reportagem.

Yura viralizou ao fazer um desenho digital de frei Malthus, depois de declarar que estava "muito ocupado" assistindo à minissérie brasileira. "Estou obcecado por esse garoto bobo", declarou ele, em tradução livre, ao publicar o desenho do personagem de Rodrigo Santoro.

O tuíte somou 26 mil curtidas, a ponto de o rapaz ficar surpreso --ele disse até ter mutado as notificações, pois estava assustado com a quantidade de vezes que ouviu o som característico do X. Ainda assim, ele prometeu (e cumpriu) que desenharia Hilda também. Desta vez, foram 22 mil curtidas em seus rascunhos e 14 mil no desenho pronto.

REPRODUÇÃO/X

Fanart de Malthus, criada por Yura, viralizou nas redes

Arte de frei Malthus, criada por Yura, viralizou nas redes

"Obrigado a todos por me darem tanto amor! Eu amo vocês, Brasil!", declarou ele, diante da repercussão. Para Koca Machado, esse sucesso no exterior tem sentido, dada a carreira que Rodrigo Santoro construiu lá fora. O ator conseguiu trabalhos em Westworld (2016-2022) e Wolf Pack (2023), para citar dois exemplos recentes.

"Rodrigo investe há anos na carreira internacional, participando de produções populares. As pesquisas em torno do nome do ator podem ter levado à imagem dele na minissérie, que é inusitada: praticamente um menino e caracterizado de noviço franciscano. Essa imagem surpreende e, quando o público se conecta com o tema, engaja e principalmente, interage com a narrativa", explica.

O tema também faz sua parte, com paradigmas que fazem sucesso por serem atemporais. "A mulher oprimida que busca libertação; a high society versus a vida boêmia e livre; a desmitificação do sexo e o amor proibido. Outro ponto que se destaca é ser um romance de época que aponta comportamentos humanos que parecem que não evoluem", completa a profissional.

O noviço em crise entre a fé e o amor de uma mulher representa um dos arquétipos mais poderosos da humanidade, que é o explorador --aquele que busca pela verdade e felicidade diante das surpresas que a vida nos apresenta. É um 'ser ou não ser' pautado na busca, na descoberta e nas indecisões de todos nós: fé ou razão, dever ou paixão, e assim por diante.

Por outro lado, segundo a publicitária, há algo chocante na atual repercussão da trama: o fato de a geração Z, com olhos tão treinados para o audiovisual, curtir uma minissérie produzida para a televisão na década de 1990. 

Das redes sociais ao Globoplay

Além das diferenças da produção entre as duas épocas, o caminho para a viralização da obra também diverge do de 1998. Antes, o público só podia assistir à minissérie em um horário pré-determinado e depois comentar sobre ele com amigos na escola ou no trabalho.

Agora, com a trama disponibilizada no streaming, há um intrincado processo que também perpassa as redes sociais --especialmente no caso dos jovens, que não têm memórias da obra na TV.

O atual sucesso veio exatamente desse movimento. Um espectador publica um vídeo da trama; outro, uma arte; e isso instiga a curiosidade dos demais, que vão atrás da obra nas redes.

No último dia 11, a Globo mostrou que isso reverberou na exibição da obra no streaming. Houve crescimento de 72% de visualizações em janeiro na comparação com dezembro e de 347% em relação a novembro.

A minissérie está no acervo do Globoplay desde 2021, mas o streaming não divulga os números absolutos de exibição --nem no total, nem mês a mês. Baseada no romance homônimo de Roberto Drummond (1933-2002), a obra tem 32 capítulos, todos disponibilizados na plataforma. 

A conexão entre redes sociais e streaming é um fenômeno característico desses novos tempos, e deve continuar acontecendo nos próximos anos. "Aqui vale a pena citar Henry Jenkins, autor do livro Cultura da Convergência, que analisa o comportamento participativo das pessoas nas mídias sociais. Jenkins diz que 'aquilo que não se propaga, morre'", define Koca.

"É um golaço para a produção ter memes no Twitter, pequenos cortes no TikTok e gringos clamando por legendas. Tudo isso está acontecendo com Hilda Furacão por conta dessa cultura participativa, de o tema atrair uma nova geração e dos talentos envolvidos. O público quer assistir, participar, interagir e criar", finaliza ela.


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