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O QUE MUDOU?

A Grande Família estreava há 20 anos; veja diferenças do remake com 1ª versão

Reprodução/TV Globo

Montagem com personagens da primeira e segunda versão da série A Grande Família

Série A Grande Família teve versões de sucesso na Globo nas décadas de 1970 e 2000

ANDRÉ CARLOS ZORZI

azorzi@noticiasdatv.com

Publicado em 28/3/2021 - 7h05

A Grande Família (2001-2014) completa 20 anos de sua estreia nesta segunda-feira (29). Mas nem todos sabem ou lembram que a comédia é uma versão do programa original de mesmo nome exibido pela Globo entre 1972 e 1975. Apesar de a base da série ser a mesma, há várias diferenças entre o remake e a primeira versão.

"Há pouquíssimo material da Grande Família original que não foi destruído no incêndio da Globo. Como fazia 25 anos do original, procuramos manter o espírito do Vianinha [Oduvaldo Vianna Filho, roteirista], mas falando para o ano 2000", relembra Lucio Mauro Filho, que viveu o Tuco na segunda versão, em entrevista ao Notícias da TV.

Luiz Armando Queiroz (Tuco) e Paulo Araújo (Agostinho) na Grande Família, em 1975 (Reprodução/TV Globo)

"Do elenco original, só conversei com o Jorge Dória [1920-2013], que fazia o Lineu e era meu companheiro de Zorra Total. Infelizmente, Luiz Armando Queiroz [1945-1999] já havia partido. Seria interessante conversar com ele, que foi o primeiro Tuco", completa o ator.

Relembre detalhes da série original e algumass diferenças entre versões:

Atores

O elenco foi totalmente reformulado entre as versões de A Grande Família.
Jorge Dória vivia Lineu Silva, que passou a ser interpretado por Marco Nanini. Já seu Floriano, o mais velho da família, foi de Brandão Filho (1910-1988) para Rogério Cardoso (1937-2003).

Eloísa Mafalda (1924-2018) deu vida à matriarca Nenê na versão de 1972, enquanto Marieta Severo eternizou a dona de casa no remake. Tuco passou de Luiz Armando Queiroz a Lucio Mauro Filho.

Bebel, que foi interpretada por Djenane Machado e Maria Cristina Nunes na primeira versão, ficou a cargo de Guta Stresser. E Agostinho Carrara foi interpretado primeiro por Paulo Araújo e, depois, por Pedro Cardoso.

A 1ª versão de A Grande Família

A Grande Família estreou em 26 de outubro de 1972. Inicialmente, o programa foi ao ar ao vivo, no horário de quinta-feira, às 21h. A inspiração era a série norte-americana All In The Family (1971-1979), da CBS. Milton Gonçalves era o diretor, e o roteiro era escrito por Max Nunes (1922-2014) e Roberto Freire.

O elenco original da série A Grande Família em foto nos anos 1970 (Divulgação/TV Globo)

No ano seguinte, em abril de 1973, Daniel Filho assumiu a atração e chamou Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, e Armando Costa para escrever os episódios. Com as mudanças, a família retratada passou a ter características mais próximas do cotidiano brasileiro.

A morte precoce de Vianinha, que teve um câncer de pulmão e se foi em 16 de julho de 1974, abalou a produção. Para seu lugar nos bastidores, foi inserido Paulo Pontes (1940-1976). O programa chegou ao fim após 10 meses, em 27 de março de 1975, pouco depois de iniciar sua transmissão a cores.

Em entrevista à coluna de Artur da Távola --pseudônimo de Paulo Alberto Monteiro de Barros (1936-2008)-- em 14 de março de 1974, pouco antes da exibição do último capítulo do programa, o assistente de superintendência de produção e programação da Globo, Edvaldo Pacote, opinou sobre as razões para o fim.

"A série entrou em crise desde a morte do Vianinha. A equipe que a produzia não se refez do abalo emocional pela perda do companheiro e Paulo Pontes, que o substituiu como redator principal, terminou por concluir que não se achava em condições psicológicas de continuar a tarefa. E também não dispomos de espaço em nossos estúdios, no momento, para produzir regularmente a novela das seis e meia e A Grande Família", explicou.

O Natal da Grande família

Entre as duas versões, a Globo exibiu um especial chamado O Natal da Grande Família (1987), mostrando como estavam os membros da família Silva 12 anos após o fim da primeira versão da série.

Pedro Cardoso e Jorge Dória no especial de Natal em 1987 (Reprodução/TV Globo)

A proposta de retomada se deu em julho de 1987, quando o diretor Paulo Afonso Grisolli (1934-2004) reuniu os artistas para uma conversa informal em sua sala na Globo.

O convite foi feito individualmente, e os atores não sabiam que encontrariam seus ex-colegas. Conforme eles chegavam, formou-se um clima de festa e animação, e logo ficou acordado a gravação de um novo episódio.

O especial reuniu quase todos os atores da série original. A exceção foi Paulo Araújo, à época envolvido em um projeto da Band. Para seu lugar, como Agostinho Carrara, foi chamado Nuno Leal Maia. Curiosamente, aos 25 anos, Pedro Cardoso esteve presente como um namorado mais jovem de Bebel. Djenane Machado, a primeira Bebel, foi a única a não ser convidada de volta.

Semelhanças

O episódio Pesadelos de Uma Noite de Verão está presente nas duas versões. Foi ao ar em 20 de março de 1975, o penúltimo da versão original, e em 26 de abril de 2001, o quinto da segunda versão de A Grande Família. Apesar de várias diferenças, a base do episódio é a mesma: os problemas da família enfrentando o calor.

Algumas cenas, inclusive, são repetidas. Durante o café da manhã na versão original, Bebel comenta: "O ventilador que o Agostinho arranjou tem cara de ventilador, pá de ventilador, jeito de ventilador e não ventila". Na mais recente, a personagem tem fala quase idêntica ao chegar à cozinha: "Poxa, paizinho, você precisa comprar um ventilador novo. Aquele meu tem jeito de ventilador, pá de ventilador, cara de ventilador, mas não ventila!".

Troca de Bebel

Enquanto na segunda versão a filha de Lineu e Nenê foi interpretada sempre por Guta Stresser, na original Bebel teve duas atrizes. A primeira foi Djenane Machado, substituída por Maria Cristina Nunes logo no primeiro ano de programa após uma conturbada saída.

Em entrevista ao jornal O Globo em 1987, Djenane explicou sua desistência: "Eu estava completamente dividida entre continuar no programa e ajudar meu pai [Carlos Machado], um fênix que se levantou das cinzas, a recuperar o seu prestígio. Me chamaram para ser a primeira estrela do Hip, Hip, Rio, na boate Night and Day".

"Na hora H, quando comecei a faltar aos shows e sentir que papai estava sendo pressionado, decidi deixar a televisão. No dia seguinte, o episódio de A Grande Família seria todo em cima da personagem Bebel. Estudei o texto a madrugada toda, mas depois liguei para a Globo avisando que não ia mais fazer o papel", continuou Djenane.

"Quando fui falar com o Boni, apresentei um atestado médico falso. Fiquei fora da Globo um tempão. Acredito que essa história ainda não foi bem digerida lá dentro. Fiquei muito sentida por terem me tirado das novelas pelas quais estava fascinada. Era muito jovem e não percebia o lance que era fazer A Grande Família. Eu interpretava a Bebel como se estivesse varrendo o chão da minha vozinha", concluiu a primeira intérprete da personagem.

Com a saída de Djenane Machado, Maria Cristina Nunes deixou as gravações da novela O Semideus (1987), em que interpretava Leda, para virar a nova filha de Lineu e Nenê. "Interpretar a Bebel e trabalhar num programa de texto forte e repleto de realismo foi, sem dúvida, muito importante na minha carreira", destava Maria Cristina à mesma publicação.

Júnior, o filho excluído da 2ª versão

Osmar Prado como Júnior na primeira versão de A Grande Família (Reprodução/TV Globo)

Na versão original, Lineu e Nenê tinham três filhos. Além de Bebel e Tuco, havia Júnior, um estudante com uma visão revolucionária do mundo, que era interpretado por Osmar Prado.

Em entrevista a O Globo em 10 de agosto de 1987, o ator falou sobre o personagem que viveu em início de carreira. "A minha cabeça estava cheia de coisas. Por ter a visão profissional um tanto estreita, não percebia que o programa era a minha grande chance dentro da televisão. A Grande Família, ao contrário das novelas que fiz na época, me deu uma notoriedade muito grande como ator."

Durante a idealização do remake, a produção considerou que o perfil do personagem não combinava com o momento da época, deixando-o de fora. Algumas de suas características foram distribuídas entre os outros personagens. Lineu, por exemplo, tem um discurso mais crítico e politizado na versão do século 21 por conta disso.

Música de abertura

Na versão original, a abertura do programa tocava a música da dupla Tom e Dito. No especial O Natal da Grande Família (1987), foi utilizada uma versão cantada por Beth Carvalho (1946-2019). Para o remake, a versão mais famosa foi a de Dudu Nobre, tocada entre 2001 e 2012. Nas duas últimas temporadas, a abertura foi trocada, com a música sendo cantada por Ivete Sangalo, em 2013, e Zeca Pagodinho, em 2014.

Problemas com a censura

Exibida durante a Ditadura Militar (1964-1985) entre os governos de Emilio Médici (1905-1985) e Ernesto Geisel (1907-1996) e a vigência do AI-5, a primeira versão de A Grande Família sofreu com a censura oficial, em especial nas falas do personagem Júnior, estudante engajado com a esquerda.

O personagem de Osmar Prado, porém, não era o único a sofrer com os cortes. De acordo com o site Memória Globo, gírias de Tuco e reclamações de Lineu sobre a falta de dinheiro do povo brasileiro também eram alvos. A questão foi abordada no episódio O Recadão, exibido em 4 de julho de 1974, em que os personagens usavam bilhetes para se comunicar entre si, e cada um "censurava" a informação conforme seus interesses.

Seu Floriano

Rogério Cardoso viveu Floriano na segunda versão de A Grande Família (Divulgação/TV Globo)

Presente em todas as temporadas da versão original e no especial de Natal em 1987, o personagem Floriano, pai de dona Nenê que vivia no sofá da sala, foi lembrado e também integrou o elenco da nova versão do programa. Com a morte de Rogério Cardoso em 2003, porém, a equipe optou por não substituir o humorista, dando fim ao personagem na trama.

No primeiro programa após sua morte, foi exibido um episódio em que o personagem era protagonista. Marco Nanini, ao lado do elenco, leu uma homenagem: "Não existe dor maior do que a gente perder alguém da família. Rogério Cardoso, seu Flor, faleceu hoje pela manhã. Nós, que somos sua família na TV, juntos com a Grande Família brasileira, vamos sentir muito a sua falta".

No episódio de 20 de dezembro de 2007, foi ao ar a cena em que nasce o filho de Agostinho e Bebel. Posteriormente, eles revelam à família o nome escolhido para o menino: Floriano, em homenagem ao avô. A partir da temporada de 2012, o garoto cresceu a passou a ser vivido por Vinicius Moreno.

Tuco casado

Casamento mal-sucedido de Tuco na segunda versão de A Grande Família (João Miguel Júnior/TV Globo)

No especial de 1987, Denise Bandeira e Aída Leiner deram vida às mulheres de Júnior e Tuco, que também tinham filhos. Na versão mais recente, o personagem de Lucio Mauro Filho jamais chegou a se casar --ainda que tenha passado perto em uma ocasião.

No episódio Adeus, Tuco, exibido em 27 de novembro de 2008, o personagem chega a realizar uma cerimônia de casamento ao lado da noiva, Gina (Natalia Lage). Na hora H, Vitório (Giulio Lopes), o pai da noiva, passa mal dentro da igreja e o compromisso é adiado, nunca chegando a se concretizar nas temporadas seguintes.

Personagens

Com mais anos no ar e mais possibilidades e recursos de gravação, é natural que a segunda versão de A Grande Família tenha contado com uma gama muito maior de personagens e participações especiais. Entre eles, o pasteleiro Beiçola (Marcos Oliveira), o mecânico Paulão da Regulagem (Evandro Mesquita), a cabelereireira Marilda (Andréa Beltrão) e Mendonça (Tonico Pereira), amigo de Lineu na repartição pública.


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