Globo lixo? Como guerra com Bolsonaro força emissora a evitar novelas espíritas

Após emplacar Vai na Fé (2023) e seu núcleo de evangélicos como protagonistas, a Globo dá novos passos para conquistar um público que torce o nariz para a emissora desde o governo de Jair Bolsonaro. Amauri Soares pediu para os autores que evitassem tramas espíritas em suas próximas novelas. A história que Thelma Guedes escrevia para a faixa das seis, por exemplo, foi engavetada até segunda ordem. A emissora nega a orientação (veja nota no final do texto).

De acordo com o discurso do novo diretor da Globo, está havendo uma mudança muito grande no perfil do brasileiro. Apesar de ainda ser o maior país católico do mundo, o Brasil está se tornando um país multirreligioso.

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Em uma recente reunião com autores, Amauri explicou que o catolicismo deixará de ser a religião prevalecente entre a população em breve e que, dentro de dez anos, os evangélicos serão maioria por aqui. E o todo-poderoso da globo não quer afastá-los ainda mais da emissora --algo que se acirrou bastante durante o governo de Jair Bolsonaro.

O diretor ainda valorizou o poder de compra desse público, que passou a rejeitar a emissora e seus produtos. A exibição de Vai na Fé foi um aceno para parte dos evangélicos --e um tremendo acerto da Globo.

Levar ao ar uma novela com temática espírita neste momento é visto nos bastidores como uma maneira de jogar fora o excelente trabalho feito por Rosane Svartman. A autora não escreveu uma novela "para os evangélicos" nem tinha qualquer pressão para reconquistá-los, mas sua sensibilidade era tida como um caminho para que isso ocorresse de forma natural. E ocorreu.

Thelma Guedes escreveu uma sinopse para a faixa das seis que tinha uma trama envolvendo doutrina espírita, o que foi descartado pela Globo. A novelista chegou a fazer alterações, mas a história acabou engavetada. A autora, agora, desenvolve uma nova premissa.

O mesmo aconteceu com A Viagem. Na verdade, a ideia de um segundo remake já havia sido rejeitada pela direção da emissora, uma vez que a novela tinha ido ao ar em 1975 e 1994. Havia a possibilidade de um filme para o Globoplay, como se fosse uma continuação da história. Mas, a princípio, esse projeto também não sairá no papel pelos mesmos motivos.

A recomendação vale até para reprises. Escrito nas Estrelas (2010) e Além do Tempo (2015), por exemplo, sempre foram muito pedidas nas redes sociais, mas não ganharam espaço nas tardes da Globo. Assim que assumiu seu novo cargo, em junho de 2023, Amauri Soares "liberou" as duas para o Viva; Escrito nas Estrelas já estreou por lá. Autora de ambas e especialista em escrever tramas espíritas, Elizabeth Jhin foi demitida em 2020.

Após a publicação deste texto, a Globo procurou o Notícias da TV por meio de seu setor de Comunicação e enviou a seguinte nota: "A Globo desconhece tal orientação e reforça que os Estúdios Globo estão sempre abertos a receber as mais diversas propostas criativas de seus criadores".