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REPERCUSSÃO NEGATIVA

Fantástico promove medicamento para emagrecer e vê credibilidade ruir

FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Imagem de chamada de reportagem com caneta emagrecedora ao lado de Maju Coutinho no palco do Fantástico

Caneta emagrecedora foi exibida em tamanho gigante ao lado da apresentadora Maju Coutinho

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 5/2/2024 - 18h50

Quem está com uns quilos a mais e assistiu à reportagem do Fantástico sobre o medicamento semaglutida no domingo (4) deve ter se perguntando se é isso tudo mesmo, tantas eram as informações positivas exibidas ao longo de 15 minutos. A repercussão, porém, foi bem negativa para o programa. Muitos internautas usaram as redes sociais para criticar a "propaganda" do remédio para emagrecer. Entre eles, vários interpretaram como desserviço, o que coloca em xeque a credibilidade do Jornalismo da Globo.

O Notícia da TV conversou com Lorena Lima Amato, endocrinologista doutora pela USP (Universidade de São Paulo) para verificar os efeitos colaterais do uso da medicação, que podem ser graves ao ponto de levar uma pessoa ao pronto-socorro e até mascarar problemas sérios de saúde, como um câncer intestinal.

O site também procurou a Comunicação da emissora e pediu um posicionamento em relação às críticas feitas nas redes sociais às 11h30 desta segunda (5), confirmou o recebimento do e-mail e esperou a resposta até o horário da publicação deste texto, que será atualizado assim que a Globo se pronunciar.

A reportagem do Fantástico sobre o medicamento passou esta segunda como o principal destaque do site da revista eletrônica no G1. Apesar de não citar o nome comercial mais popular do medicamento, Ozempic, o programa exibiu imagens de uma paciente, que precisa perder pouco peso injetando a substância em sua barriga, manipulando a caneta e até registrou a caixa do produto sem esconder o nome da farmacêutica --o que não é padrão no Jornalismo televisivo. A reportagem foi feita por Giuliana Girardi.

"A Globo deve ter feito um contrato milionário com essa farmacêutica da 'caneta que emagrece'. Estou até um pouco assustado com essa matéria só com elogios e romantismo com o medicamento", escreveu Filipe Conegundes no antigo Twitter, o X. Andressa Gontijo endossou a queixa e citou até um episódio da hilária animação South Park sobre reportagens pagas. 

Teve até usuário da plataforma dizendo que era tão milagrosa a caneta que parecia item de ficção científica. "É muito loucura pra procurar doença onde não tem…. Usar caneta pra emagrecer três quilos? Essa pessoa precisa é de um tratamento psiquiátrico", alfinetou Michele Lemmos no X. 

"Matéria ou propaganda dessa caneta que faz emagrecer no Fantástico? Parece publi!", postou Elton Pacheco. "O Fantástico fazendo uma matéria enorme pra alertar os perigos da caneta emagrecedora. Expectativa: mostrar que não é pra uso indiscriminado. Realidade: o Brasil todo amanhã procurando a caneta pra comprar de forma ilegal", escreveu a usuária que se identifica como Belory no X.

Esses comentários são reflexo do que pode ser encontrado nas redes sociais sobre a reportagem do Fantástico na qual a administradora de empresas Natacha Ariboni, 29 anos, disse que tem pouca vontade de comer e fica saciada com um pequeno pedaço de chocolate. Ela é uma mulher bonita, apareceu se exercitando e também deixou claro que precisa perder pouco peso quando recorre ao medicamento.

A reportagem também citou que o remédio virou febre mundial e que tem sido usado por muitas pessoas para perder somente de dois a três quilos, em vez de uso em um tratamento contra a obesidade. Outro fator verdadeiro, mas que incentiva a compra sem consultar um médico, é o programa deixar claro que qualquer pessoa pode comprar a caneta sem receita médica. 

O status milionário de vendas da caneta também foi abordado pelo Fantástico. "A [empresa farmacêutica] Novo Nordisk hoje é a empresa mais valiosa da Europa", explicou Gustavo Campanhã, gestor de ações e sócio da WHG. Dois endocrinologistas também falaram sobre dados positivos do medicamento, e uma dermatologista falou sobre pacientes reclamarem de flacidez após o uso da caneta por causa da perda de peso rápida.

Assim como a história de uma paciente com obesidade mórbida que não consegue pagar R$ 1.000 por uma caneta --em alguns casos, o uso de uma caneta não é suficiente para o tratamento de um mês. 

Giulina Giradi

A repórter Giuliana Girardi no Fantástico

Veja os efeitos colaterais

O medicamento semaglutida é vendido no Brasil desde 2019 para tratamento de Diabetes tipo 2 e, depois disso, passou a ser indicado para tratamento de obesidade. A pedido do Notícias da TV, a endocrinologista Lorena Lima Amato detalha os principais efeitos colaterais, que estão relacionados à náusea, possibilidade de vômito, alteração do trânsito intestinal, podendo ser constipação ou diarreia, e algumas pessoas também descrevem sonolência.

"É uma medicação relativamente segura, com efeitos colaterais leves. Se a gente for pensar, não são efeitos colaterais muito preocupantes. No entanto, o uso sem acompanhamento médico leva a vários problemas. Primeiro, o não escalonamento adequado da dose, de forma que as pessoas acabam tomando doses altas, rápido demais. E, aí, esses efeitos colaterais que eu descrevo aqui como leves, geralmente, podem se tornar graves a ponto de levar a pessoa a um pronto-socorro", afirma a especialista.

A médica explica que é errado o paciente utilizar a medicação sem ter feito investigação clínica. "Pode ser um sofrimento e até de um câncer intestinal a pessoa acaba atribuindo ao remédio, se não for ao médico, não fizer um check-up. Então, pode acabar mascarando sintomas de doenças mais graves."

Para finalizar, Lorena completa que dores abdominais estão relacionadas ao uso indiscriminado. "Principalmente quando a dose é aumentada de forma rápida", afirma a especialista, que também diz que não tem como se viciar no medicamento.

"Não existe vício relacionado a nenhuma medicação para o tratamento da obesidade, existe sim o uso de um medicamento sem um bom acompanhamento, sem mudança estruturada do estilo de vida, com consequente perda de peso e reganho logo depois que suspende a medicação porque ele não fez essa mudança estruturada", esclarece a endocrinologista.


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