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MEMÓRIA DA TV

Em 1994, A Viagem foi acusada de incentivar mortes e perturbar crianças portuguesas

Divulgação/TV Globo

Christiane Torloni abraça Guilherme Fontes, que parece transtornado, em cena do remake de A Viagem, da Globo

Christiane Torloni (Diná) e Guilherme Fontes (Alexandre) em cena do remake de A Viagem

THELL DE CASTRO

Publicado em 25/4/2021 - 6h50

Sucesso da Globo em 1994, o remake de A Viagem chegou a Portugal no final daquele mesmo ano, repetindo o êxito conquistado em terras brasileiras. No entanto, a novela, que está sendo exibida atualmente pelo canal Viva, gerou alguns efeitos colaterais também, sendo acusada de incentivar dois suicídios e de perturbar crianças.

Transmitida pelo canal SIC, a trama de Ivani Ribeiro (1922-1995) assegurava 20 pontos de audiência diária e gerou uma disputa acirrada com outra produção da Globo, Fera Ferida, exibida pela concorrência.

Para se ter uma ideia, a novela ajudou Lisboa a sediar, em dezembro daquele ano, um congresso internacional de espiritismo, no qual a obra acabou sendo debatida. O encontro não era realizado desde 1925.

"Estávamos planejando o congresso havia dois anos, muito antes da novela, mas A Viagem foi um ótimo catalisador para a sua realização. Sentimos que os mentores espirituais inspiraram essa iniciativa", declarou o presidente da Federação Espírita Portuguesa, João Xavier de Almeida, ao jornal O Globo de 14 de dezembro daquele ano.

"A novela é excelente e está contribuindo para abrir a cabeça dos portugueses. Desperta a atenção e a curiosidade para a doutrina", completou Almeida, dizendo que existiam 40 centros espíritas e 50 mil adeptos naquele país.

No entanto, a mesma reportagem informou que a trama estava sendo acusada de supostamente ter influenciado o suicídio de duas adolescentes, internas de um lar de jovens.

Nos recados que deixaram, elas faziam alusão à novela, a uma vingança e à vida após a morte. "A diretora do estabelecimento afirmou que ambas assistiam à trama televisiva com frequência", informou o texto.

Os jornais portugueses estamparam com destaque a associação entre a obra televisiva e o duplo suicídio das jovens, que viviam desde crianças no internato, longe de suas famílias, mas Xavier disse não crer nessa influência.

"Em Portugal, a doutrina sempre esteve cercada de preconceito durante o salazarismo. A federação foi dissolvida, o Estado se apoderou de seus bens, e as reuniões eram clandestinas", informou.

Crianças perturbadas

Pouco mais de um mês depois, a Folha de S.Paulo trouxe outra reportagem, informando que A Viagem estava sendo acusada de perturbar crianças portuguesas à noite.

A denúncia foi feita pelo psiquiatra infantil Jorge Mira Coelho, da cidade do Porto, que disse que as crianças estavam com medo dos fantasmas e do Vale dos Suicidas. "Essas telenovelas cheias de fantasmas perturbam as crianças, e até os adultos ficam com medo", afirmou.

De acordo com o especialista, três crianças entre sete e 11 anos estavam sendo tratadas por conta da novela, com crises de pânico, fobia do escuro e medo de dormirem sozinhas. "Ficam passando essas xaropadas dos espíritos, e os adultos não veem juntos para explicar o que é real e o que não é", explicou.

Coelho também destacou que as crianças dessa idade não tinham capacidade de crítica, só formada entre os 12 e 13 anos. "Para o psiquiatra, só haveria uma solução: tirar as novelas do horário nobre, passando para um período em que só os adultos assistissem", enfatizou.

O profissional, que trabalhava com psiquiatria infantil há 30 anos, ainda fez uma crítica sobre a influência das novelas. "Há quatro anos, responsabilizou a novela Roque Santeiro por difundir entre as crianças o medo dos lobisomens", concluiu a reportagem.


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