MEMÓRIA DA TV
FOTOS: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Guilherme Fontes em cena como Alexandre; personagem ficou sombrio ao ir para o Vale dos Suicidas
Publicado em 10/1/2021 - 7h06
Em 1994, Guilherme Fontes não teve muito tempo para se preparar para viver Alexandre no remake de A Viagem, naquele que acabou se tornando seu mais destacado papel em novelas. Mesmo depois da estreia da trama, em abril daquele ano, ainda ocorriam definições sobre o visual e algumas ações do vilão. Ele teve de fazer sacrifícios pelo personagem que está de volta à TV no canal Viva.
Recém-saído de outro remake de Ivani Ribeiro (1922-1995), Mulheres de Areia, onde interpretou o protagonista Marcos, Fontes aceitou o convite para viver Alexandre apenas dois dias antes do início das gravações da novela das sete.
O fato não surpreende, já que a produção de A Viagem foi definida às pressas, e o diretor Wolf Maya teve que montar o elenco e definir inúmeros detalhes em apenas uma semana. Regina Duarte, por exemplo, foi convidada para viver Diná, mas o papel acabou com Christiane Torloni, que voltava de uma temporada em Portugal.
As primeiras tomadas foram feitas menos de um mês antes da estreia, e muitos detalhes foram definidos, inclusive, durante os primeiros capítulos --alguns nomes de personagem foram trocados, por exemplo.
Sem nenhuma referência do Alexandre feito por Ewerton de Castro na primeira versão de A Viagem, exibida pela Tupi em 1975, Fontes teve que se virar.
"Segui minha intuição. Emprestei a ele minha revolta contra as injustiças. E acho que, apesar da correria, Alexandre estava psicologicamente completo no primeiro capítulo", declarou o ator ao jornal O Dia de 22 de maio de 1994. "Tento fazê-lo como um típico consumidor de cocaína. Olhar vidrado e mania de perseguição", completou o intérprete.
Uma mudança que estava sendo discutida acabou não sendo concretizada: o personagem teria o cabelo raspado quando fosse para o Vale dos Suicidas, após tirar a própria vida.
"Sou louro e clareei os cabelos para mudar. Gostei, mas já estou cansado. É estranho olhar no espelho e enxergar uma pessoa que não é você. Talvez eu raspe a cabeça, para fazer Alexandre no Além. Isso vai dar força aos meus poucos cabelos. Ator não tem que ter cara", enfatizou o artista.
Outro fato a ser destacado é que Fontes combinou com a Globo para ter alguns dias de férias durante as gravações. Após a morte, Alexandre sumiu por alguns dias, enquanto se "adaptava" à fase sombria. "Estou trabalhando sem parar desde Mulheres de Areia", explicou o ator.
Na mesma entrevista, ele destacou que é católico e não acreditava em espíritos vingadores como aquele que interpretava. "Sou muito racional. Acho que as pessoas deveriam viver o presente ao invés de tentar entender o futuro", afirmou Fontes.
Após A Viagem, Fontes prometeu dar um tempo fora das novelas, o que acabou cumprindo. Fez apenas uma participação em Malhação, em 1995, e passou a se dedicar ao teatro e, principalmente, ao cinema.
No entanto, ele acabou se envolvendo numa grande polêmica: em novembro de 1994, adquiriu os direitos do best seller Chatô, O Rei do Brasil, de Fernando Morais, sobre a vida de Assis Chateaubriand, para fazer uma série, e, posteriormente, um filme.
O problema é que captou recursos da Lei Rouanet, mas a produção não ficou pronta. Em 2014, ele foi condenado a indenizar os cofres públicos em mais de R$ 66 milhões por causa dessa quantia. O filme acabou sendo lançado somente em 19 de novembro de 2015.
Nos últimos anos, o ator, atualmente com 54 anos, fez poucas participações em novelas: Além do Horizonte (2013), Boogie Oogie (2014) e Órfãos da Terra (2019), sua última trama até o momento.
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