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Memória da TV

Em 1992, abertura de novela da Globo retratou mar de lama da política brasileira

Divulgação/TV Globo

Modelos são tomados por lama cenográfica na gravação da abertura de Deus nos Acuda - Divulgação/TV Globo

Modelos são tomados por lama cenográfica na gravação da abertura de Deus nos Acuda

THELL DE CASTRO

Publicado em 6/3/2016 - 7h55

No momento em que o país vive mais uma de suas piores crises políticas da história, muita gente se lembra da abertura de Deus nos Acuda, novela exibida em 1992 pela Globo. A vinheta, produzida por Hans Donner, mostrava uma festa da alta sociedade que era tomada por um mar de lama, metáfora da corrupção, e chamou muito a atenção do público na época, repercutindo até no exterior.

O Brasil vivia um momento de turbulência quando a novela estreou, em 31 de agosto de 1992. Faltava pouco para o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. O autor Silvio de Abreu aproveitou o momento para falar sobre corrupção e ética, mas ao estilo de suas tramas, recheadas de sátiras e humor, com Dercy Gonçalves, Edson Celulari e Claudia Raia.

A ideia da abertura era simples, mas não pense que foi fácil de executar. Enquanto cheques milionários eram assinados, acontecia uma festa com homens ricos, mulheres bonitas, bebidas e afins. A lama começava a invadir o local e rapidamente todos ficavam submersos, mas sem se importar com isso. Uma chuva de dólares tomava a tela e por um ralo escoavam carrões, barcos, iates, helicópteros e jatinhos, até levar todo o Brasil junto.

Cláudio Corrêa e Castro e Dercy Gonçalves 

Para produzir o vídeo de pouco mais de um minuto, foi construída uma gaiola suspensa sobre uma piscina na então cidade cenográfica de Guaratiba, bairro do Rio de Janeiro onde eram gravadas as novelas da Globo antes da inauguração do Projac, em 1995. A sala onde acontecia a festa tinha seis metros por oito.

O chão tinha arame vazado para permitir que a lama cobrisse os convidados à medida que a gaiola, suspensa por um guindaste, era mergulhada na piscina. A lama era feita de isopor ralado, tingido de preto, misturado com anilina e álcool. Os efeitos de computação gráfica aparecem na cena do ralo, que tinha o contorno do mapa do Brasil. O tanque continha água marrom, que desceu até o fundo.

A abertura exigiu um trabalho minucioso de Hans Donner, também conhecido por outros trabalhos históricas, como as aberturas do Fantástico, Roque Santeiro, Tieta e O Planeta dos Homens, entre outras.

"Foram utilizadas cinco câmeras na gravação: três presas nas paredes do cenário, para descerem junto com ele; uma no teto, registrando a cena de cima para baixo; e outra sobre uma plataforma de isopor, que passeava entre os convidados da festa. Cada descida da gaiola na piscina durava 17 segundos e a cena só podia ser rodada uma vez ao dia, já que as roupas dos modelos tinham quer ser lavadas a cada gravação", registra o site Memória Globo.

Em reportagem no Fantástico, Hans Donner contou que foram oito dias de gravações. Perguntado por Fátima Bernardes se surgiram imprevistos e se foi usado o jeitinho austríaco, ele brincou: "Aí eu já diria que é muito mais o jeitinho brasileiro, porque esse jeitinho se aprende aqui". E completou: "Eu acho que dessa vez, por tudo que acontece com a situação do país, conseguimos ser um pequeno Mike Tyson, onde acertamos pra valer".


THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira (Editora InHouse). Siga no Twitter: @thelldecastro


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