Memória da TV
Divulgação
Os empresários Adolpho Bloch e Roberto Marinho, da Globo, na inauguração da Manchete, em 1983
THELL DE CASTRO
Publicado em 26/10/2014 - 9h33
Apesar de ter conquistado as concessões para a criação da rede Manchete em 1981, junto com Silvio Santos, Adolpho Bloch só conseguiu inaugurar sua emissora dois anos depois, em 1983, com um início muito promissor, já incomodando a Globo logo de cara. Após investir US$ 50 milhões em instalações, equipamentos e enlatados e contratar 800 profissionais, a Manchete estreou em 5 de junho de 1983, um domingo, às 19h, com um pronunciamento de Bloch.
O primeiro programa apresentado pela Manchete foi O Mundo Mágico, um show de variedades que contou com diversas apresentações, como Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Ney Matogrosso e Alceu Valença. A atração incomodou a Globo, principalmente no Rio de Janeiro. Enquanto o Fantástico alcançou 35 pontos, o show da Manchete chegou perto, com 33 _uma proeza para uma estreia.
Logo em seguida, assim que terminou a revista eletrônica da Globo, a Manchete colocou no ar o filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de Steven Spielberg, até então inédito na TV brasileira. A Manchete gastou nada menos que US$ 800 mil para adquirir os direitos de exibição do longa-metragem, mas o investimento foi recompensado com a liderança: venceu a Globo por 27 a 12, algo impensável no início dos anos 1980.
A Globo não admitia preocupação com a chegada da nova emissora, mas reforçou sua programação, principalmente em cenas de ação nas novelas, com a recém-estreada Guerra dos Sexos e a principal delas, Louco Amor, a das oito. “Ela vai dar um banho em emissoras como a TVS [atual SBT] e a Bandeirantes”, afirmou o então diretor de Eventos Especiais da Globo, Aloysio Legey, à revista Veja de 15 de junho de 1983. Já o diretor-superintendente da Manchete, Rubens Furtado, estava muito animado com a estreia. “Esse filme foi um estraçalho”, disse à mesma reportagem.
Cena do filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau, que venceu a Globo na estreia da Manchete
Televisão de alto nível
A Manchete não chegou para disputar o primeiro lugar com a Globo, queria o segundo. Até então, o SBT era vice-líder absoluto, seguido por Record e Band. As pretensões da emissora giravam em torno de 8 a 12 pontos _e fatia compatível no total de verbas publicitárias.
À Folha de S. Paulo de 5 de junho de 1983, Rubens Furtado explicou: “A TVS se dirige ao público C e D; a Bandeirantes não tem público definido, enquanto a Globo pretende ser eclética. Pesquisas nos mostraram a insatisfação dos segmentos A e B com a programação que lhes é oferecida atualmente. Então, decidimos optar por esse público. Além disso, os Bloch têm a tradição de ter, em sua empresa, iniciativas de alto nível”.
O fôlego inicial da estreia não conseguiu ser repetido nos dias seguintes. O Jornal da Manchete era muito extenso e nem toda a grade continha atrações capazes de puxar grande audiência. Mas a Manchete beliscava alguns destaques aqui e ali, como na transmissão exclusiva do Carnaval de 1984, quando voltou à liderança.
Os concorrentes não acreditavam na proposta da emissora. “Quando entramos, também imaginamos um segundo lugar. Ninguém entra para perder. Porém, acho que se a Manchete quiser sobreviver, a curto prazo terá de optar por uma programação semelhante à nossa e a da Globo, procurando classes mais populares. Como já ficou provado, aqueles que optaram por públicos mais sofisticados tiveram problemas graves, como a Bandeirantes, por exemplo”, destacou à Folha o então vice-presidente do SBT, Luciano Callegari.
Dito e feito: em pouco tempo, a Manchete iniciou reformulações em sua programação, buscando maior audiência e faturamento.
Apesar de grandes momentos como as coberturas carnavalescas e novelas como Pantanal, A História de Ana Raio e Zé Trovão e Xica da Silva, após sucessivas crises e uma grande dívida, a Manchete saiu do ar em 10 de maio de 1999, dando lugar à RedeTV!. Ironicamente, o primeiro slogan da emissora era “a televisão do ano 2000”.
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