Em Família
Foto João Cotta/TV Globo
Giovanna Antonelli e Tainá Müller posam para foto; elas interpretarão um casal de lésbicas em Em Família
DANIEL CASTRO
Publicado em 2/2/2014 - 8h47
Aos 80 anos, Manoel Carlos estreia amanhã aquela que deverá ser sua última novela: Em Família. Fiel ao estilo que o consagrou, volta com uma Helena como protagonista, desta vez interpretada por Julia Lemmertz, e com com histórias que retratam o cotidiano de famílias e pessoas que amam e odeiam, ambientadas no Leblon (Rio de Janeiro), com sol e bossa nova.
Vai dar certo, depois que o público experimentou a narrativa de seriado de Avenida Brasil (2012)? O próprio autor tem suas dúvidas, mas prefere arriscar. "Tenho que ser fiel a essa marca, seguindo o meu caminho, sem procurar macaquear ninguém. Se todas as pessoas que sempre gostaram do que eu faço, mudaram de opinião, estou ferrado", diz.
O autor, no entanto, se cercou de uma história que promete dar o que falar, mais do que a dos protagonistas. Irá retratar, como nunca antes na TV brasileira, um casal de mulheres, formado por Giovanna Antonelli e Tainá Müller. Promete dar à dupla o tratamento de um casal comum.
Manoel Carlos é um dos nomes mais importantes da história da televisão brasileira: antes de escrever novelas, fez parte da lendária Equipe A, que levou a Record a ser uma Globo paulista nos anos 1960. A seguir, entrevista que ele concedeu ao Notícias da TV.
Ao lado de Julia Lemmertz e Helena Ranaldi, Manoel Carlos assiste a clipe de Em Família
Notícias da TV - O sucesso de Avenida Brasil mostrou que o público mais jovem está pedindo novelas mais ágeis. Em Família, salvo engano, será uma novela tradicional, com uma narrativa mais lenta. O senhor não teme problemas com parte do público, com esse telespectador que se acostumou a ver séries americanas com o avanço da TV paga e da internet?
Manoel Carlos - Como todos os meus companheiros, eu tenho uma marca que imprimo em todos os meus trabalhos e que pode ser chamada de estilo. Isso significa que o público, de um modo geral, sabe o que vai ver e ouvir quando se anuncia uma nova novela de cada um de nós. Tenho que ser fiel a essa marca, seguindo o meu caminho, sem procurar macaquear ninguém. Se todas as pessoas que sempre gostaram do que eu faço, mudaram de opinião, estou ferrado. Mas acredito que hão de sobrar algumas para mim. Não estou estagnado, inerte, mas apenas sendo leal comigo mesmo. Faço o que sei fazer, sem cair na tentação fácil de produzir uma imitação que soaria falsa, além de não garantir a audiência. Prefiro cair de pé, caso minha novela não emplaque.
Notícias da TV - No texto de apresentação de Em Família pela Globo, Helena é descrita como uma mulher que “ama, odeia, erra, mente, engana”. E que “perdoa e se vinga” . Sua última Helena será mais humana e contemporânea? O que mudou na Helena?
Manoel Carlos - Tenho certeza que essas características são totalmente humanas e contemporâneas. Na minha opinião, não há o que mudar na Helena. O que muda é a sua maneira de externar essas características, uma vez que o personagem está diante de uma nova história. Uma história que não se assemelha às anteriores.
Notícias da TV - Qual será a abordagem do relacionamento entre Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller)? Será como visto em "Mulheres Apaixonadas", em que as personagens sofriam preconceito, ou será algo mais explícito, em que elas trocam carinhos em público e são aceitas?
Manoel Carlos - Com Clara e Marina estou contando uma história de amor igualzinho contaria se fosse um casal composto por um homem e uma mulher. Isso é fundamental que seja entendido. Quanto a dar demonstrações públicas de afeto, os personagens passam longe da exibição gratuita. Amam-se e não precisam se exibir e nem esperar aceitação ampla e irrestrita. Sempre existirá quem tente reprimir e discriminar. Até hoje grande parte do público olha atravessado quando vê uma branca de mão dada com um negro. Vejo isso claramente em todo o Brasil, mesmo nos grandes centros, como em SP e Rio.
Notícias da TV - O senhor manterá a abordagem de assuntos do noticiário em Em Família, como fez em Mulheres Apaixonadas, por exemplo?
Manoel Carlos - De maneira geral, como em outras novelas, não. É o ano da Copa do Mundo e de eleições gerais. Esses serão os assuntos dominantes durante todo o tempo em que a minha novela estiver no ar. Se eu for acompanhar o noticiário só falarei de futebol e de política. Estou fora. Sendo que em política, com sérias restrições, já que existe uma lei eleitoral que entrará em vigor bem antes das eleições. Nisso Em Família não será igual às novelas anteriores.
Notícias da TV - Em Família será mesmo sua última novela? O que pretende escrever depois?
Manoel Carlos - Pretendo que seja. Quero me reservar, enquanto estiver escrevendo para a televisão, para obras mais curtas, como minisséries e seriados. Tenho algumas ideias sobre esses possíveis trabalhos, alguns já externados à TV Globo.
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