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AARON SALLES TORRES

Diretor de TV diz que prisão injusta causou danos severos à sua credibilidade

FOTOS: DIVULGAÇÃO/ACERVO PESSOAL

Aaron Salles Torres segura um jornal em frente a entrada do Festival de Cannes

O cineasta, roteirista e diretor de TV Aaron Salles Torres durante o Festival de Cannes em 2017

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 16/6/2022 - 6h15
Atualizado em 15/7/2022 - 19h16

O cineasta Aaron Salles Torres aponta uma série de irregularidades em torno dos acontecimentos que culminaram na sua prisão sob a falsa acusação de estelionato em dezembro de 2020. Ele denuncia falhas na ação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, violações de Direitos Humanos e incongruências nas acusações, já que sequer estava no Rio de Janeiro nas datas apontadas pela investigação --alegando ainda que a operação provocou danos severos à sua reputação.

O diretor, que esteve em projetos como o Vai que Cola, foi detido com o ex-namorado Jhony Sousa de Oliveira por supostamente pagar estadia em hotéis de luxo com cartões clonados. Ele foi solto três dias depois por determinação da Justiça, e o inquérito não foi para frente por falta de interesse da própria rede hoteleira Accor diante da falta de provas.

Salles Torres afirma que outros direitos seus foram violados, como a presunção de inocência. "Eu vi diversas notícias utilizando fotos minhas no Instagram, em hotéis que sou parceiro ou mesmo no Festival de Cannes, como se tudo na minha vida fosse construído em cima de fraude. Nada foi provado. Não existe absolutamente nenhuma prova contra mim no inquérito", ressalta ele, em entrevista ao Notícias da TV.

O artista avalia que a forma como a polícia divulgou o caso junto à imprensa foi destrutiva. "Eles usaram o meu nome inteiro para constranger não somente a mim, mas também a minha família inteira. E também pra quando eu fosse pedir um visto para um festival no exterior, não o conseguisse por ser acusado por diversos crimes", pondera.

Uma de suas preocupações hoje é recuperar a reputação que sempre teve junto ao mercado e às redes sociais:

A minha credibilidade sempre fez parte da minha identidade. Então foi muito difícil ter isso tirado de mim de repente, com as pessoas levando suspeita a respeito de quem eu sou. Eu fiquei em choque durante um mês. Desde a prisão, a primeira coisa que vinha a minha mente quando eu abria os olhos todos os dias era suicídio, mas queria provar à sociedade que sempre fui inocente.

"Esses pensamentos suicidas acabaram no dia que a Ana Cláudia Guimarães e o Ancelmo Gois publicaram a nota sobre minha inocência em O Globo. Agradeço aos colegas de trabalho e de ativismo, amigos, e familiares que nunca acreditaram nas mentiras que foram divulgadas a meu respeito porque essas inverdades não colam na pessoa que fui e que continuo sendo. E também agradeço à imprensa que me ouviu. Sem essas pessoas, eu teria sucumbido. Fui vítima de uma imensa injustiça", desabafa ele.

Erros no inquérito

Salles Torres ainda questiona diversos pontos no inquérito, como o trecho que diz que estaria sob observação da polícia do Rio de Janeiro no Réveillon de 2020. Ele sequer passou a virada de ano na cidade. O cineasta até se hospedou durante um dia no hotel indicado, mas arcou com todos os gastos do próprio bolso e tem todos os comprovantes de pagamento.

A única pendência era uma estadia em aberto em nome de seu ex-namorado durante um período em que estavam rompidos, que teria sido utilizada indevidamente pela Polícia Civil para justificar o “flagrante”. 

"A Rede Accor teria seis meses para representar se houvesse suspeita de estelionato dessa estadia anterior de meu ex mas o fizeram apenas onze meses depois, justamente um dia antes da minha chegada [à capital fluminense] para a gravação do clipe para o diretor Max Joseph da MTV EUA, em 5 de dezembro de 2020. Tudo leva a crer que esse boletim de ocorrência foi forjado", justifica.

Ele alega que também teve dados vazados por um suposto operador de viagens, Edivaldo de Oliveira da Silva. O profissional venderia ao produtor do clipe, por meio de pontos de fidelidade da Rede Accor, uma diária de estadia que faltava para que a equipe deixasse o Rio. Ele, no entanto, realizou a reserva em seu próprio nome usando um cartão clonado também em seu próprio nome --o que consta do inquérito. 

Na denúncia feita por e-mail pelo dono do cartão supostamente clonado, ele  foi utilizado presencialmente na unidade Santa Tereza M. Gallery da Rede Accor no dia 8 de dezembro. 

"Quem foi o funcionário que recebeu essa cópia física desse cartão em Santa Tereza? E quem foi que apresentou o cartão? Jhony ou eu não saímos de Copacabana nesse dia. Porque se existisse prova nesse mais de um ano que durou a investigação, eles teriam apontado no inquérito, mas não indicaram nada", frisa o roteirista.

Perseguição

Salles Torres acredita que foi vítima de perseguição policial, já que filmou uma ação irregular durante uma briga de bar no Leblon, na zona sul do Rio, no dia do lançamento de seu longa-metragem Quando o Galo Cantar... em 2017. Ele impediu um agressor de entrar no mesmo táxi que a namorada, discutindo com agentes por não agirem mais energicamente no caso de violência contra a mulher.

"Eu peguei meu celular, filmei a placa do carro, a cara dos policiais e falei que tinha postado, mas só salvei o vídeo. O meu namorado na época pediu meu celular para apagar a gravação, porque eles tinham nos ameaçado. Fiquei revoltado, achei que era uma invasão à minha privacidade. Voltei a gravar e dessa vez postei o vídeo, que foi regravado por meus seguidores antes que eu fosse forçado a apagá-lo novamente. Esse material permanece em locais seguros”, esclarece.

Ele, inclusive, diz que o mesmo inspetor que fez a ameaça foi o responsável pela sua prisão três anos depois. 

Segundo Salles Torres, ele também se tornou um alvo pelo ativismo político LGBTQIA+ e pró-democracia, sendo monitorado ao longo dos anos, período em que teria sofrido mais ameaças. Após o assassinato de Marielle Franco (1979-2018), um esquema especial de segurança foi montado para a chegada e saída nas gravações do Vai que Cola como forma a proteger diretores, artistas, equipe e público.

O artista ainda afirma que entrou na mira de blogueiros bolsonaristas após a prisão, que o consideraram "hipócrita" por cobrar honestidade do Governo Federal e "supostamente clonar cartões".

"Tratou-se de um ato orquestrado de destruição de reputação e credibilidade. Nunca a crítica a um trabalho meu foi traduzida para o inglês com tanta velocidade como a notícia de minha prisão em sites bolsonaristas", arremata ele.

Procurado, o Santa Teresa Hotel RJ - Mgallery explicou que nunca registrou um boletim de ocorrência contra Salles Torres. "[O documento] foi em nome de outra pessoa por uso de diversos cartões de crédito clonados, com declaração de contestação dada pelas respectivas operadoras, cujos pagamentos das reservas foram negados ao hotel", diz a rede, em nota.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.

Aaron Salles: militância por meio da Arte

Horizonte

Salles Torres está publicando um romance sobre a sua vivência no governo Bolsonaro, chamado Inferno e Danação. O primeiro volume tem cerca de 1.100 páginas, e a tradução para o alemão está simultaneamente em curso.

O artista também prepara uma exibição no campo das artes visuais, em que se insere na obra de Caravaggio (1571-1610), resgatando seu aspecto psicológico. E prepara com parceiros composições para um álbum conceito em que um cantor ou cantora lhe emprestará a voz pelo tempo em que esteve silenciado durante quase três anos.

Leia a nota do Santa Teresa Hotel RJ - MGallery na íntegra:

O Santa Teresa Hotel RJ - MGallery esclarece que nunca registrou boletim de ocorrência contra o senhor Aaron Salles. O boletim de ocorrência registrado pelo hotel foi em nome de outra pessoa por uso de diversos cartões de crédito clonados, com declaração de contestação dada pelas respectivas operadoras, cujos pagamentos das reservas foram negados ao hotel.

O documento foi registrado pelo hotel com o objetivo de preservar os direitos do empreendimento frente à contestação por parte dos portadores dos cartões junto às operadoras. A pendência financeira permanece em aberto. O hotel não tem qualquer relação com o inquérito".

Este texto é um direito de resposta ao texto Ex-diretor do Multishow é preso por aplicar golpes em hotéis de luxo.


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