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Na Moral

Debate sobre cotas raciais vira barraco, e Globo corta às pressas

Reprodução/TV Globo

Pedro Bial apresenta o Na Moral sobre racismo, na quinta-feira (10); programa teve debate cortado - Reprodução/TV Globo

Pedro Bial apresenta o Na Moral sobre racismo, na quinta-feira (10); programa teve debate cortado

PAULO PACHECO

Publicado em 11/7/2014 - 13h18

A Globo cortou em cima da hora um debate sobre cotas para negros no programa Na Moral de ontem (10), que abordou o racismo. A discussão apareceu nas chamadas exibidas algumas horas antes de o programa ir ao ar, mas foi eliminada da edição final. De acordo com participantes, o debate foi "violento", virou um grande barraco, mas o motivo do corte foi outro.

Segundo a Globo, a produção descobriu que uma das participantes está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como candidata nas eleições deste ano e não poderia aparecer na TV, conforme a legislação eleitoral. A emissora alega não ter sido informada sobre a candidatura dos convidados.

Na verdade, dois convidados do programa serão candidatos: a desembargadora Luislinda Valois, primeira juíza negra do Brasil, e Douglas Belchior, militante do Movimento Negro, ambos favoráveis às cotas. Contra as cotas, foram convidados a procuradora Roberta Fragoso e o estudante negro Éder Souza.

O debate sobre cotas foi cortado no início da noite de quinta-feira. O programa que foi ao ar se limitou a mostrar uma conversa entre atores da Globo sobre a representação do negro nas novelas. A rigor, não houve debate e os contrapontos que caracterizam o Na Moral.

A edição do Na Moral sobre racismo foi gravada no dia 28 de junho. A proposta inicial era ter duas partes, uma sobre o negro nas telenovelas e outra com o debate sobre cotas raciais. Em função do corte, o programa ficou menor (cerca de 10 minutos mais curto do que as edições anteriores).

Na primeira parte do programa, participaram as atrizes Taís Araújo e Zezé Motta, o ator Aílton Graça, o diretor Daniel Filho e o cineasta Zito Araújo.

Barraco

Durante a gravação do bloco sobre cotas, que acabou não indo ao ar, o debate esquentou e virou bate-boca com muita gritaria. Pedro Bial teve que intervir em diversos momentos e pediu a Thiaguinho para cantar e acalmar os ânimos.

"O debate no programa foi violento. Eles [pró-cotas] começam a gritar até você se calar, são extremamente violentos. Creio que tenha prejudicado a exibição. Não fiquei chateada, mas o público perdeu muito", diz a procuradora Roberta Fragoso, contrária às cotas, que lamenta o debate não ter ido ao ar: "O programa ficou péssimo. Não teve debate nenhum, só a opinião de atores da Globo sobre o negro nas novelas".

Para a procuradora do Distrito Federal, que é branca, os convidados aproveitaram o Na Moral para fazer campanha eleitoral: "Eles agiram de má-fé. Sabendo que são candidatos, não poderiam aceitar o convite do programa".

Candidato a deputado federal pelo PSOL-SP, Douglas Belchior se defende: "Não havia candidatura oficial na gravação do programa, que foi no dia 28 de junho. Os registros se deram apenas no dia 5 de julho. Mas, independentemente disso, não havia nenhuma orientação de que pudesse gerar algum problema. Eu mesmo desconhecia a tal regra e, afinal, sabemos que ela é seletiva, não é?".

O militante do Movimento Negro lamenta o corte do debate no Na Moral, mas não ficou espantado: "O debate foi acalorado desde o início. Uma pena não ter ido ao ar. Não estou frustrado, tampouco surpreso. A Globo é a Globo, jamais deixará de ser. Só lamento não ter podido levar para milhões de brasileiros nossa mensagem de combate ao racismo. O país ainda se nega a debater e enfrentar este assunto".

A Globo disse apenas que o debate teve de ser cortado em cumprimento à Lei Eleitoral.

A desembargadora Luislinda Valois, o apresentador Pedro Bial e a procuradora Roberta Fragoso, antes da gravação do Na Moral (Arquivo Pessoal)


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