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Reprodução/GNT
Carlos Evanney se prepara para interpretar Roberto Carlos no documentário Os Outros
REDAÇÃO
Publicado em 1/9/2016 - 6h35
À primeira vista, artistas covers tentam passar para os fãs a imagem e semelhança de seus ídolos: mesmo cabelo, mesmas roupas, mesma voz. Mas a realidade que eles escondem passa longe do glamour das estrelas da música. O documentário Os Outros, de Sandra Werneck, que estreia nesta quinta (1º) no GNT, mostra a rotina sofrida de imitadores de Roberto Carlos, Ivete Sangalo e Cazuza.
Carlos Evanney, um dos covers mais famosos do Brasil, é mestre na imitação do "Rei". Ele copia até um projeto peculiar de seu ídolo, Emoções em Alto Mar. Mas, enquanto o cantor original faz shows em um transatlântico pela costa brasileira, Carlos Evanney canta o repertório idêntico em um saveiro pela Baía de Guanabara.
Um infarto o forçou a interromper momentaneamente sua atividade artística, já retomada. O visual de Evanney, no entanto, continuou impecável. Seu corte de cabelo é minuciosamente similar ao de seu ídolo, ajeitado com chapinha. A devoção dele chega ao ponto de ter guardado em sua casa na Lapa, Rio de Janeiro, um pedaço do bolo de aniversário de Roberto Carlos que ganhou do cantor em 2003. Hoje, ele ainda vai até o apartamento do artista todo ano para tentar (sem sucesso) cumprimentá-lo na rua, ao lado de fãs, por mais um ano de vida.
Em uma hora e dez minutos de duração, o documentário, que estreou nos cinemas em maio deste ano, mostra os sentimentos angustiantes de ser a cópia de um cantor famoso. Pepê Moraes não tem mais a chance de ver pessoalmente seu ídolo Cazuza, mas afirma "sentir o espírito" do roqueiro toda vez que está no palco, cantando as músicas dele. Quando teve shows cancelados em Minas Gerais em 2015, devido ao desastre ambiental de Mariana, ele entrou em depressão.
Os Outros cria um contraste ao mostrar o artista tão intenso e animado no palco e tão melancólico quando está sem o figurino de trabalho. Moraes reflete sobre o envelhecimento, que em breve o impedirá de interpretar Cazuza (morto aos 32 anos) e lamenta ter ficado apenas em quarto lugar na competição de artistas do Máquina da Fama, programa do SBT.
Imagens do cantor se apresentando na emissora de Silvio Santos aparecem no documentário. O cover de Cazuza deixa claro que se decepcionou com o programa apresentado por Patricia Abravanel. Achou que não teve seu talento devidamente reconhecido.
Reprodução/GNT
O cover Edson Júnior posa para selfie com a cantora Ivete Sangalo no documentário Os Outros
O documentário também exibe imagens da Record. O transformista Edson Júnior faz cover de Ivete Sangalo (sob a alcunha de Scarleth Sangalo) e é tão conhecido em Salvador, Bahia, que até a própria cantora virou sua fã. Ele gravou um depoimento em homenagem a ela para o programa Se Liga Bocão, da Record Bahia. Foi só depois de aparecer na televisão que os vizinhos de Edson, morador de um bairro pobre da cidade, pararam de tratá-lo com preconceito por se vestir de mulher.
Os Outros não tem narração em off, depoimentos dos artistas falando diretamente para a câmera ou explicações de especialistas sobre o fanatismo pelos ídolos. A produção procura apenas seguir os personagens, deixar que eles pensem alto e revelem a intimidade de suas vidas duplas.
Imitar o ídolo é doloroso e trabalhoso para os artistas covers. O documentário deixa claro que a obsessão invade os relacionamentos familiares deles _a mãe de Edson Júnior chora ao lembrar das agressões homofóbicas sofridas por ele, e Carlos Evanney batizou sua filha de Roberta Carla.
Os trejeitos dos famosos são inconscientemente incorporados à fala cotidiana dos imitadores. A atividade de "cópia" também lhes custa a saúde mental e física e dá baixo retorno financeiro. Mesmo assim, nenhum deles pensa em abandonar a vida de cover. "Como diz o nosso rei, que prazer rever vocês", diz Evanney ao começar mais um show para os passageiros do barco. Os Outros estreia no GNT nesta quinta (1º), às 22h45.
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