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Memória da TV

Com racismo e assassinato, Sítio do Picapau estreava há 40 anos

Reprodução/Globo

Visconde de Sabugosa e Emília na primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo na Globo - Reprodução/Globo

Visconde de Sabugosa e Emília na primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo na Globo

FERNANDA LOPES

Publicado em 10/3/2017 - 5h22

Criadas por Monteiro Lobato (1882-1948), as histórias do Sítio do Picapau Amarelo já serviram de inspiração para diversos filmes e séries, mas a versão mais significativa foi a que estreou na Globo há exatos 40 anos. Considerada um dos melhores programas infantis do mundo pela Unesco, a atração também foi marcada por críticas de racismo, suspeita de escravidão e controvérsias no elenco: a atriz que interpretava Cuca foi afastada das gravações após ser condenada pelo assassinato do marido, em 1980.

De março de 1977 a 1986, a Globo exibiu, de segunda a sexta, mais de 1.500 episódios do programa infantil que procurava misturar entretenimento com tom educativo. A atração ficou na memória de milhões de crianças, inclusive de Rosana Garcia. A atriz de 51 anos interpretou Narizinho durante quatro anos. Ela lembra que o sítio cenográfico virou sua segunda casa. Quando saiu do elenco, confessa que sentiu ciúme da atriz que a substituiu.

Até hoje, Narizinho é a personagem mais marcante da carreira de Rosana, que participou também de produções como Zorra Total (1999) e TiTiTi (2011) e hoje trabalha como preparadora de elenco na Globo. Ao falar sobre o Sítio do Picapau Amarelo, Rosana se emociona: "Era como uma família".

Mais de 40 atores passaram pelo Sítio. O sucesso fez com que a produção fosse exportada para vários países, apesar de recusada por alguns deles, por supostamente passar uma imagem de racismo.

Confira cinco histórias de bastidores e fatos que marcaram o Sítio do Picapau Amarelo:

Crédito

O elenco do Sítio do Picapau Amarelo em 1977, durante gravação de cena com um porquinho

Um sítio de verdade
Durante quatro anos, a rotina de Rosana Garcia consistia em sair da escola, entrar no carro da Globo (que também buscava o ator Júlio César, o Pedrinho), chegar na locação usada para o Sítio do Picapau Amarelo, em Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, e só sair de lá no fim da tarde ou à noite. Ela afirma que o cotidiano era muito agradável tanto para crianças quanto para adultos _que jogavam baralho nos intervalos das gravações.

"Era um ritmo bem puxado, éramos os personagens principais, então a gente gravava muito. Mas nos intervalos a gente fazia dever da escola, ficava lá largado, soltando pipa. Dava para brincar muito em um sítio daqueles, cheio de animais, de frutas. As pessoas me perguntavam: 'Você trabalha desde pequena. Você perdeu a infância, não aproveitou?'. Pelo contrário, eu me divertia muito, tinha acesso a coisas que meus colegas que só estudavam não tinham", conta.

divulgação/globo

Zilka Salaberry provocou ciúmes porque era carinhosa com os atores de Narizinho e Pedrinho

Revezamento de atores
Ao longo de nove anos, vários atores entraram e saíram do elenco do Sítio do Picapau Amarelo. Os personagens infantis foram os que mais passaram por substituições: essa versão do programa teve quatro Narizinhos e três Pedrinhos. Rosana diz que saiu consciente de que já havia cumprido seu papel, mas confessa que ficou enciumada com a relação de Zilka Salaberry (Dona Benta) com Daniele Rodrigues, sua substituta.

"Quando deixei deixou o Sítio, já estava adolescente, querendo fazer outro tipo de trabalho. Mas claro que batia um ciuminho, [eu pensava] 'Minha avó agora vai ser avó de outra'. Tia Nastácia, que me dava colo, vai dar colinho para outra menina", lembra.

Divulgação/Globo

Reny de Oliveira, atriz que interpretou a boneca Emília durante quatro anos no Sítio

Celeiro de elenco
Passaram pelas cenas do Sítio do Picapau Amarelo nos anos 1970 e 1980 muitos atores renomados, como André Valli (Visconde de Sabugosa), Tonico Pereira (Zé Carneiro), Maitê Proença (Bela) e até José Mayer, que interpretou o Burro Falante.

O programa também enfrentou polêmicas em suas trocas de elenco. Dorinha Durval, que interpretou Cuca de 1977 a 1980, deixou a produção ao ser condenada por matar o marido e ficou presa durante seis anos. Já Reny de Oliveira, que viveu Emília de 1978 a 1982, saiu por se sentir saturada da personagem e desejar outros trabalhos como atriz. Logo após deixar a atração, causou furor ao posar para a revista Playboy se despindo da fantasia da boneca falante.

divulgação/globo

Isabela Garcia ao lado da irmã, Rosana: as duas se divertiam nos bastidores do Sítio

Uma família no sítio
Com tanto convívio diário durante anos, o elenco do Sítio do Picapau Amarelo ficou muito próximo. Rosana Garcia afirma que passava mais tempo lá do que com seu próprio pai, Gilberto Garcia, que foi roteirista na Globo. "Eu vivia muito mais tempo lá do que na minha própria casa, a gente passava muito mais tempo juntos do que eu tinha com a minha família. Isabela [Garcia, irmã de Rosana e também atriz] também ia para o Sítio quando não estava trabalhando, também adorava", lembra.

No final do programa, as despedidas foram emocionantes. Zilka Salaberry (1917-2005), que interpretou Dona Benta do início ao fim, foi homenageada: ganhou a vaca Mocha, que participava das gravações.

divulgação/Globo

Dona Benta e Tia Nastácia: alemães acharam que relação entre as duas era de escravidão

Racismo e suspeita de escravidão
O Sítio dos anos 1970 e 1980 contou com uma equipe de professores e consultores especializados em linguística, ciência, educação, psicologia, pesquisa e sociologia para auxiliar no roteiro.

Considerado um sucesso na época, o programa infantil foi exportado para países como Colômbia, Portugal e Itália. A Alemanha, no entanto, rejeitou a atração e fez uma crítica ao tom de alguns personagens. Para os alemães, Tia Nastácia (Jacyra Sampaio) e Tio Barnabé (Samuel dos Santos) pareciam escravos de Dona Benta.

Mesmo assim, o Sítio do Picapau Amarelo foi reconhecido internacionalmente pelo caráter educativo. Em 1979, foi considerado pela Unesco como um dos melhores programas infantis do mundo.


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