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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Após sucesso na TV, Rosane Svartman mergulha em jornada de dor no cinema

JOÃO MIGUEL JÚNIOR/TV GLOBO

A autora Rosane Svartman posa em imagem de divulgação da novela Vai na Fé

Rosane Svartman durante o lançamento da novela Vai na Fé; ela fecha o ano dirigindo um filme

MÁRCIA PEREIRA, colunista

marcia@noticiadastv.com

Publicado em 18/12/2023 - 6h10

Em 2023, as novelas não tiveram grandes momentos: só Vai na Fé se destacou em um ano de vacas magras --não por acaso, venceu no domingo (17) o prêmio Melhores do Ano. O folhetim marcou a estreia solo de Rosane Svartman na faixa das 19h da Globo, com diálogos fortes, realistas e sensíveis. A autora, por sinal, teve um ano lotado: lançou também a série Vicky e a Musa, no Globoplay, tem outro projeto no forno na plataforma de streaming e ainda arranjou fôlego para dirigir um filme neste fim de ano.

Em entrevista exclusiva ao Notícias da TV, a autora conta sobre a jornada desafiadora no set de Câncer com Ascendente em Virgem, longa que está previsto para ser lançado no ano que vem. Trata-se da história de dor de uma mulher com câncer de mama, que mistura momentos engraçados e dramáticos. Suzana Pires protagoniza a história e até raspou a cabeça de verdade por causa do filme.

"Dirigir, pra mim, sempre tem uma entrega imensa, e eu sempre acho que posso fazer melhor. Talvez seja um pouco de síndrome da impostora que tenho com tudo que faço, mas é isso que me move a realmente dar tudo que eu tenho", entrega Rosane Svartman. 

O longa retrata a finitude da vida, tema que Rosane já trouxe à TV em Bom Sucesso (2019) e neste ano em Vai na Fé, com a morte de Dora (Claudia Ohana). Ela revela com foi impactada pela "morte" e por que passou a escrever sobre o fim da vida em seus trabalhos.

A autora de Vai na Fé não economiza nas respostas e revela até o que fará no fim de ano para "rebobinar a fita" e traçar novos caminhos para trilhar. Ela também fala sobre a série lançada neste ano e a saga vampiresca que vem aí no Globoplay. Confira:

NOTÍCIAS DA TV - Vai na Fé conquistou o público logo nos primeiros capítulos, fez a audiência subir e teve boa repercussão. Qual é o balanço que você faz dessa jornada em sua carreira?
ROSANE SVARTMAN - Eu acho que um criador deve sempre testar fronteiras, surpreender o público e, para isso, deve se arriscar. Quando a novela estreou, eu estava tensa, como se segurando a respiração, esperando o encontro com o público. Já tinha saído muita coisa na mídia sobre a novela, sobre a protagonista, e eu me segurei pra não responder, porque a resposta mesmo deveria ser da obra.

Só agora consigo olhar para trás e ver a importância de Vai na Fé na minha carreira --aliás, na minha vida! Uma novela é algo avassalador e demora um tempo pra gente sair desse furacão e refletir. E, nesse processo de reflexão, eu percebo como a escuta, ser permeável e não ter certeza sobre tudo foi importante.

A sala de roteiro, que chamo de band, fez toda a diferença (Renata Correa, Renata Sofia, Mario Viana, Sabrina Rosa, Pedro Alvarenga, Fabrício Santiago e pesquisa da Paula Teixeira), a parceria com a direção (genial de Paulo Silvestrini e equipe dos sonhos) e a produção (Mariana Pinheiro e equipe dedicada) também.

lucas teixeira/tv globo

Paulo Silvestrini e Rosane

Paulo Silvestrini e Rosane no Melhores do ano

A novela emocionou milhares de pessoas ao tratar da morte, tema que você já havia abordado. A despedida da Dora foi uma das cenas mais sensíveis e memoráveis de Vai na Fé. Tem algo em sua vida que a levou a ver a importância de tocar nesse tema? Poderia falar dessa motivação?
Quando eu li os livros da Ana Claudia Quintana Arantes sobre pacientes paliativos, fiquei extremamente impactada. Isso me marcou profundamente, porque falar da morte é justamente pensar sobre a vida. Como ela mesma diz: "Morte não é o contrário de vida. Morte é o contrário de nascimento, vida é o que tem no meio". Falamos sobre tantas coisas das quais não temos certeza, como romances efêmeros e/ou mesmo carreira, e não encaramos uma das poucas certezas que temos na vida: ela vai acabar.

Então, pra mim, essa forma de encarar a vida, como algo precioso, frágil e extraordinário, marca tudo que penso e escrevo a partir desse encontro com a Ana, uma inspiração. Além disso, duas pessoas da equipe de roteiro perderam entes queridos durante a novela, então, abordar esse tema ganhou pela escrita talentosa e contribuição deles outras camadas.

Vicky e a Musa também estreou neste ano, com uma história elogiada. Você se sente uma especialista no diálogo com os jovens? Qual é o retorno que você teve da série? É isso que te move?
Vicky e a Musa nasceu da vontade de falar sobre arte, como a arte transforma pessoas, e pessoas transformam territórios. A série foi escrita num momento em que vários mecanismos de fomento à cultura estavam sendo ameaçados. Mas a arte é que nos torna humanos. A série celebra quem produz e quem consome arte, porque é um grande diálogo.

Todo mundo tem uma série predileta, um filme que nunca esqueceu, uma cena de novela marcante, uma peça que foi mágica, um livro inspirador, a música da fossa ou da felicidade. A arte não apenas espelha a vida, a arte nos ajuda a lidar com a vida. O que me move são temas que me tocam o coração, e falar com a juventude é, pra mim, um desafio e um grande prazer.

Além disso, o universo fantástico, as músicas que narram nossas vidas, o assombroso e o extraordinário, todos esses ingredientes fizeram com que o mergulho nessa história --acompanhada de uma sala de roteiro criativa e aguerrida (Bia Correa do Lago, Rafael Souza Ribeiro, Sabrina Rosa, Juliana Lins e pesquisa e conceituação de Raphaela Leite), ainda mais durante a pandemia--, fosse único.

MarianA Vianna/DivulgaçãoMarieta Severo e Suzana Pires

Marieta Severo e Suzana Pires em set de filme

Você está trabalhando na direção do filme Câncer com Ascendente em Virgem. Qual é o foco deste trabalho? Como é estar no set com Marieta Severo, um ícone? Conte um pouco do que veremos no cinema.
Esse filme é um grande desafio pra mim, não apenas porque fala de um tema especialmente importante --a jornada de uma mulher com câncer de mama--, mas também porque a obra tem como norte conversar com um público mais amplo sobre o tema. O filme é inspirado no blog de Clélia Bessa, que mistura momentos engraçados e dramáticos --como na vida.

Acho que encontrar o tom certo, essa mistura de humor, drama e emoção, foi meu maior desafio. No roteiro, acho que Suzana Pires, Martha Mendonça e Pedro Reinato conseguiram esse equilíbrio. Na direção das atrizes que formam a família multigeracional, que é o centro da trama, isso se exacerba.

Marieta Severo é uma craque, uma gigante generosa com paciência e escuta, o que possibilitou uma excelente troca no set. Sinto uma gratidão imensa por isso. Já era fã e agora sou mais ainda. O trabalho da Suzana Pires e a entrega para a personagem também foi muito impressionante. Ela, Nathalia Costa, Fabiana Carla, Julia Konrad, Carla Cristina, Maria Gal, essas mulheres extraordinárias, confiaram muito na direção e também trouxeram propostas maravilhosas pras personagens.

Heitor Martinez, Pedro Caetano e Angelo Paes Leme também tiveram atuações generosas e criativas. Além disso, a equipe do filme, sempre dedicada e respeitosa, já que era um tema delicado, ajudou a dar o tom do set --é que acredito que o que está atrás da câmera passa pra tela, sabe? Enfim, dirigir, pra mim, sempre tem uma entrega imensa, e eu sempre acho que posso fazer melhor. Talvez seja um pouco de síndrome da impostora que tenho com tudo que faço, mas é isso que me move a realmente dar tudo que eu tenho.

Tem ainda uma série de arrepiar vindo aí. Espécie Invasora ainda está sendo gravada? Você já assistiu e acompanha a etapa de finalização? É mais gostoso passear por um universo não realista?
Ao longo das décadas, histórias fantásticas sobre vampiros e lobisomens sempre trataram de temas da sua época, daquele momento histórico cultural. No entanto, a principal pergunta sempre é: quem é realmente o monstro? Com essa série não é diferente. É uma série brasileira que fala de bioética, biopoder, preservação do meio ambiente, da riqueza da nossa diversidade genética, além de temas de jovens adultos, como o medo de ser diferente por um lado, a busca pela individualidade por outro, e afetos inesperados.

A série ainda está sendo gravada, mas o que eu já vi, eu amei. Sério! Fiquei sem fôlego com a qualidade das atuações, as imagens e os cenários impactantes, a fotografia ousada, enfim. Assino a série com Claudia Sardinha, e a troca com a Patrícia Pedrosa, diretora, está sendo incrível.

Para encerrar, a pergunta é para essa passagem de ano que você terá. Ela é especial? Ter um ano cheio de sonhos realizados te faz ter mais sonhos, ideias e projetos? Tem algum outro projeto que vai estrear em 2024? Pode contar, a gente gosta de saber tudo!
(Preciso dizer que essa pergunta me fez abrir um sorriso). Este ano realmente foi especial, mas vejo que também é fruto de muito trabalho, especialmente, durante a pandemia. Entendo que tive o privilégio de escrever muito e escapar pra ficção nesses anos tão difíceis. O resultado são todas essas realizações. Sou grata por essas oportunidades porque, como diz Neil Gaiman [autor britânico], o que fazemos quando escrevemos é espalhar mensagens em garrafas que jogamos da ilha deserta da criação e nem todas voltam.

Pretendo agora ir pro meio do mato (amo) e refletir sobre todas essas produções, os acertos e também as fragilidades. Em suma, submergir. Pra pensar no futuro, acredito muito em revisitar o passado pra entender o presente. Além disso, quero me alimentar de cultura! Tem tanta coisa bacana acontecendo, gente incrível no cinema, teatro, televisão, literatura, enfim, e agora vou ter mais tempo de acompanhar.


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